Quando pensei em escrever essa coluna, decidi falar sobre o dia a dia da vida das pessoas e o acesso a cultura de forma geral no Rio de Janeiro. Para o primeiro texto imaginei uma série de abordagens, mas com a falecimento de Milton Gonçalves nessa semana, não poderia deixar de homenageá-lo, falando do seu grande legado. E o que eu poderia dizer que o represente em toda a sua magnitude?
Milton, nasceu no dia 9 de dezembro de 1933, na pequena cidade de Monte Santo em Minas Gerais. Já foi aprendiz de sapateiro, de alfaiate e de gráfico. Em 1950 se formou no Teatro de Arena de São Paulo. Já em 1965, integrou o primeiro elenco da Rede Globo, emissora no qual viveu 57 anos dos seus 88 de vida. Como ator, trabalhou em mais de 40 novelas e é lembrado por personagens que foram eternizados no coração dos amantes da teledramaturgia brasileira, como o Professor Leão do de “Vila Sésamo” (1972), o Zelão das Asas, de “O Bem-Amado” (1973), e o médico Percival, de “Pecado Capital” (1975). Em seu último papel, viveu o primeiro papai Noel negro da Rede Globo, um marco para a televisão brasileira e uma batalha de muitos séculos, principalmente sobre representatividade, em uma país que possui 56% da população negra.
Um dos líderes do movimento Pelas Diretas Já, dedicou grande parte de sua vida à atividade política e à militância do movimento negro, uma trajetória marcada por muita luta e superação. Na política, concorreu em 1994 ao cargo de Governador do Estado do Rio pelo PMDB, garantindo 4,52% do total das urnas, obtendo cerca de 278 mil votos.
Foi pioneiro pela conquista de espaços para os artistas negros, sendo o primeiro brasileiro a apresentar uma categoria na cerimônia de premiação do Emmy Internacional no ano de 2006. Militante pela luta por direitos civis igualitários, sempre demonstrou toda a sua indignação quanto à falta de representatividade de etnia no país. Fez espetáculos e escreveu peças sobre temas antes silenciados pela sociedade e acima de tudo ocupou espaços, inimagináveis para um homem negro na época. Construindo o seu grande legado nas artes cênicas e deixando saudades para todos os admiradores, do trabalho, luta, trajetória e força, de um homem que desbravou o audiovisual brasileiro.
Encerro o primeiro texto dessa coluna, com a sua citação em uma entrevista ao “Extra” em 2019.
“O que me falta no meu Brasil, o que me deixaria alegre é que nós tivéssemos um presidente negro, porque nós somos um percentual grande neste país. No dia em que nós tivermos um presidente negro, aí eu vou dizer: nós batalhamos”
Vá em paz Milton, seguiremos lutando pelo nosso lugar de direito, na política, no teatro, no cinema e em todas as outras esferas da sociedade. Honraremos sempre o seu legado, o meu muito obrigado.