De Branca de Neve a Moana, as Princesas Disney acompanharam gerações de meninas e adolescentes como modelos de beleza e comportamento. Mas como essas narrativas são interpretadas pelas adolescentes de hoje? É o que investiga o livro Para Além dos Contos de Fadas: Princesas e Gênero sob o Olhar de Adolescentes, da mestra em Psicologia Carla Mikulski, publicado pela Editora Appris. O lançamento será no dia 27 de setembro, às 17h, na Livraria Alento, no Flamengo.
A obra vai além do universo das princesas, estendendo a discussão a outras produções culturais voltadas ao público infanto-juvenil. A autora realizou um estudo qualitativo com adolescentes de 13 a 17 anos de diferentes regiões do Brasil, revelando não só leituras críticas sobre papéis de gênero, como também a persistência de mensagens internalizadas.
“Meu objetivo foi ouvir como as adolescentes interpretam e ressignificam essas histórias”, explica a autora. O livro mostra como produções culturais podem influenciar afetos, escolhas e sonhos, e como meninas questionam estereótipos e constroem outros caminhos alternativos.

Carla Mikulsk
Uma fala marcante exemplifica essa complexidade: mesmo após problematizar o consentimento em A Bela Adormecida ou a violência simbólica de Cinderela, uma jovem defendeu o relacionamento de A Bela e a Fera, considerando que “o amor teria transformado a relação abusiva em algo positivo”, relata Mikulski.
Apesar dos esforços recentes dos Estúdios Disney para criar personagens mais plurais e independentes, a autora ressalta que ainda há limites impostos pelo mercado e pela lógica cultural que sustenta as produções. Por outro lado, as novas gerações têm um olhar mais atento e crítico, pressionando a indústria a mudar. “A transformação não vem apenas das produções, mas da sociedade como um todo”, afirma.
As princesas permanecem presentes no dia a dia de crianças e adolescentes brasileiras, em filmes, roupas, brinquedos e festas, contribuindo com o entendimento do que significa ser menina. A pesquisa mostrou, porém, que essas narrativas podem ser reinterpretadas: em casa ou na escola, quando adultos propõem conversas abertas e escutam as interpretações das crianças, elas passam a questionar papéis de gênero e imaginar finais ou comportamentos diferentes para as personagens.
Para responsáveis, educadores(as) e psicólogos(as), Mikulski sugere: “O primeiro caminho é a escuta. Perguntar o que as crianças entendem e sentem em relação às histórias. O segundo é ampliar o repertório, oferecendo livros, filmes e narrativas que apresentem protagonistas diversos. Não se trata de negar ou proibir as princesas, mas de problematizar seus limites e valorizar a criatividade das crianças e adolescentes, estimulando autonomia, diversidade e pensamento crítico.”
Sobre a autora: Carla Mikulski é psicóloga, mestra em Psicologia (UFBA) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, Terapia do Esquema e Psicologia Positiva. Atua em pesquisa sobre cultura, gênero e desenvolvimento humano, e integra o Grupo de Trabalho Relações de Gênero e Psicologia do CRP-03.
Serviço
Lançamento do livro Para Além dos Contos de Fadas: Princesas e Gênero sob o Olhar de Adolescentes
Livraria Alento (Rua Senador Vergueiro, nº 80, loja A – Flamengo, Rio de Janeiro, RJ)
27 de setembro (sábado)
17h
