A finitude, a experiência de cuidar e a busca pela integridade são temas do livro de estreia de Júlia Jalbut

Júlia Jalbut
Júlia Jalbut

Adoecimento, morte e luto são temas áridos. Por muito tempo, até mesmo profissionais da área evitavam abordar esses assuntos. Mas isso vem mudando. Desde a pandemia, obras de médicos e médicas que trabalham com cuidados paliativos, de pessoas comuns que receberam um diagnóstico e foram forçadas a encarar a própria finitude ou de escritores renomados tocados pelo tema conseguiram superar a resistência inicial do público e se tornaram best-sellers.

Júlia Jalbut, 39 anos, não é nem médica nem paciente e também não se dizia escritora, mas Uma casa que não pode cair (Editora Planeta) é a prova de que, pelo menos nesta última categoria, ela se encaixa. O lançamento no Rio de Janeiro será em 29 de novembro, às 19h, na Janela Livraria, no Jardim Botânico, com prosa da autora com a médica oncologista Sabrina Chagas e o professor Alexandre Silva, líder do Favela Compassiva. Tudo de graça.

“Júlia Jalbut escreveu um livro sagrado. Ele toca no céu do tabu e dialoga com a grama do cotidiano. Ele fala de morte e de vida com a mesma reverência, de tal maneira que em muitos momentos nos sentimos conectados a ambas as dimensões da existência”, pondera, já no prefácio do livro, o psicólogo e escritor Alexandre Coimbra Amaral.

A autora tinha apenas 22 anos quando seus pais adoeceram, quase simultaneamente. Foram longos 12 anos acompanhando-os em consultas, cuidando da alimentação, suspendendo os próprios planos e aprendendo sobre os diversos aspectos dessa experiência.

“O diagnóstico de minha mãe, o infarto de meu pai e as sucessivas internações e complicações que cada um viveu chacoalharam nossa casa como um terremoto interminável. Ora grau 1 – quase imperceptível, porém inegavelmente presente –, ora grau 9, derrubando tudo o que estava de pé. Rachaduras começaram a se abrir pelas paredes, o chão por vezes parecia faltar. Em meio a esse caos, eu fui para o centro. Filha única, jovem e saudável, parecia caber a mim ser forte e dar conta do recado”, escreve Júlia.

Ela acredita que a perspectiva de quem está ao lado – do acompanhante ou cuidador familiar – ainda é pouco difundida na literatura e na mídia em geral. No entanto, para cada pessoa que adoece e morre, quantas são impactadas pela experiência? E como atravessar essa experiência de cuidar e apoiar o outro sem se perder no processo?

Leitura universal elogiada por Ana Claudia Quintana Arantes

Muito mais do que um relato pessoal, Uma casa que não pode cair nos convida a aprender de inúmeras maneiras: por meio da vivência da autora, vertical, das falas de diversos especialistas de áreas afins (medicina, psicologia, tanatologia etc.) e, também, de forma interna, com perguntas que levam o leitor a refletir sobre a própria vida e pensar sobre o que faz sentido para ele no seu contexto. Apesar dos temas difíceis, é uma leitura leve; embora parta de uma história em particular, toca no universal.

“Júlia soube escrever um tesouro. Este livro deve ser aberto por quem deseja uma linda e verdadeira transformação pela clareza, amorosidade, coragem e praticidade do passo a passo de uma jornada de cuidado”, afirma, na orelha do livro, a médica Ana Claudia Quintana Arantes, autora do best-seller A morte é um dia que vale a pena viver e considerada uma das autoridades no assunto.

“Se a Júlia nos serve de guia é porque ela não apenas trilhou o caminho com coragem e determinação enquanto cuidava dos seus pais doentes e até a morte, mas também porque foi capaz de desenhar com maestria o mapa com o qual agora ela nos presenteia. Escrito com erudição e beleza poética, Uma Casa que não pode cair é um livro raro, valioso e humanizador”, arremata Roberto Miguel, capelão hospitalar do Moffitt Cancer Center, nos Estados Unidos.

Uma casa que não pode cair não é (apenas) um livro sobre adoecimento, morte e luto. Estes podem ser os portais pelos quais adentramos na leitura, mas a casa para a qual Júlia nos convida é muito mais ampla do que isso. Quase como se fosse um truque, de repente percebemos que estamos num lugar de florescimento, em que enxergamos não só beleza e esperança, como também um meio de desvendar os nossos próprios recursos internos, que nos servirão não só nas noites escuras da alma, como em todos os momentos da vida.

Por Clarissa Oliveira

Júlia Jalbut é graduada em Comunicação e Artes do Corpo pela PUC-SP,  pós-graduada em Bases da Medicina Integrativa pelo Hospital Albert Einstein e faz parte do Núcleo de Cuidados Integrativos do Hospital Sírio-Libanês. Fundou a empresa Mapas do Cuidado para realizar projetos, aulas e cursos que têm como foco o cuidado, o autocuidado e a conexão humana.

Uma casa que não pode cair
Júlia Jalbu
Editora Planeta
256 páginas
Preço sugerido de R$ 61,90

Uma casa que não pode cair, lançamento no Rio de Janeiro:
QUANDO: 29 de novembro, às 19h
ONDE: Janela Livraria – Rua Maria Angélica, 171 / loja B, no Jardim Botânico
QUANTO: Grátis

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