A peça “O baterista” – que reuniu Celso Taddei, Antônio Fragoso, Diego Molina e Alexandre Regis – retoma temporada em novembro, agora no Teatro dos 4

É hora de voltar a fazer barulho... ops!... fazer música!

por Redação
O Baterista

O que têm em comum os bateristas Robertinho Silva, João Barone e Igor Cavalera? Com certeza, todos enfrentaram problemas com os vizinhos reclamando de barulho. Afinal de contas, todos têm em comum a bateria como instrumento, ferramenta de trabalho e meio de expressão. E, sem poderem sair de casa durante a pandemia, as pendengas com a vizinhança devem ter aumentado muito. Que o diga “O baterista”, personagem do ator Antônio Fragoso no monólogo de Celso Taddei, com direção de Diego Molina e assistência de Alexandre Regis, que está de volta aos palcos cariocas. Foram mais de dois anos e meio de parada por causa do coronavírus até o retorno a partir de 2 novembro, agora no Teatro dos 4, na Gávea, com sessões às quartas e quintas-feiras, às 20h. E com intérprete de libras nas apresentações dos dias 24/11 e 07/12.

O grupo – que tinha até filmado o espetáculo – chegou a pensar em fazer temporada on-line, como tantas outras peças, mas a experiência não seria a mesma. A bateria proporciona uma pulsação que seria perdida se o espetáculo não fosse ao vivo. “É importante a peça ser presencial, pois é uma experiência sonora única”, explica Molina.

“Pra mim, essa retomada de ‘O baterista é cheia de significados, e todos eles repletos de alegria. É a celebração do reencontro de parceiros com os quais tenho tanto prazer e orgulho em trabalhar. É o renascimento mesmo, a transformação depois dos enormes desafios que enfrentamos nesses últimos anos. É também a volta para a casa – e casa, aqui, é arte, público, teatro: Teatro dos Quatro. Teatro dos Quatro, esse espaço tão sagrado que tanto me ensinou quando eu era um jovem sonhando em ser artista, onde vi ‘Rei Lear’, ‘Jardim das cerejeiras’, ‘Cerimônia do adeus’… onde vi a arte teatral ser elevada à sua enésima potência. Retomar, dois anos depois, ‘O baterista’ neste local tão especial apenas reafirma que tudo é possível, e que vale a pena sonhar, pois são eles, os sonhos, que mantêm, de verdade, a nossa chama acesa. Evoé”, exulta o autor.

Foi o próprio Celso Taddei, que também é roteirista de cinema e TV, que idealizou o espetáculo e reuniu outros três craques do riso com os quais trabalhou no humorístico: Molina, Fragoso e Regis. Desse encontro, saiu do papel uma reflexão filosófica feita por um baterista que liga seu instrumento a toda mecânica da vida. E por que filosofar – com humor – utilizando a música, o ritmo, as batidas de uma bateria? Para Taddei – um apaixonado por música que toca mal vários instrumentos –, a bateria é um instrumento “dramaturgicamente interessante e complexo por causa de seu tamanho e porque faz muito barulho”. Além do mais, Taddei acha curioso o envolvimento de uma pessoa, durante toda a vida, com um instrumento; sobretudo quando se trata de um baterista, aquele que é “sempre o primeiro a chegar e o último a sair do estúdio”. Essa característica solitária dos bateristas é, de cara, um ótimo gancho para um monólogo.

Foi com todas essas ideias na cabeça, mais o amor pela música e a inspiração de autores como Tchekov e Patrick Süskind que Taddei resolveu esmiuçar o pensamento de um baterista louco por seu instrumento, com o qual tem um “relacionamento quase neurótico”. Assim, ele escreveu “O baterista”, que serviu, na medida, para o talento do ator Antônio Fragoso, com quem divide a produção do espetáculo, que não conta com patrocínio.

Para Fragoso, foi fácil entrar no personagem. Nos anos 1980, em Brasília, quando morava na mesma quadra de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e Dado Villa-Lobos, ele fez parte de duas bandas de rock: Os Sociais, que montou com Pedro Ribeiro (irmão do Bi, dos Paralamas) e Fernando Bola, e Escola de Escândalo, da qual saiu porque o pai dele, diplomata, havia sido transferido para a Espanha. Foi Pedro Ribeiro, aliás, que incentivou Antônio Fragoso a assumir a bateria, uma vez que ele já tocava tarol na banda marcial do Colégio Marista.

“Depois de um longo intervalo, considero de grande valor insistir com essa história de um músico, um professor, que conta o surgimento e a evolução de um instrumento musical, citando bateristas e percussionistas que seguem elevando a qualidade da nossa cultura”, destaca Fragoso.

O fato de o diretor Diego Molina ter sido um dos roteiristas do “Zorra” facilitou muito o entrosamento na equipe: “a gente já sabe como o outro funciona melhor, os maneirismos do ator, o ator já conhece o tipo de texto e de direção”. Ele também cuidou da cenografia ao lado de Patrícia Muniz. Para o texto realista, que tem como cenário a garagem da casa do pai do personagem/baterista, Molina resolveu utilizar “estranhezas para acentuar a teatralidade”. Tais “estranhezas” estão na luz, no cenário, nas marcações. Tudo na intenção de “colocar cores mais acentuadas em alguns sentimentos e momentos do personagem, como a sua constante insegurança”, como ele explica. O diretor usa a expressão “partiturando” para se referir a seu modo de trabalhar, em que cada gesto é estudado, e nada é gratuito. Molina diz também que as marcas são feitas através do som, e que a música faz parte do cenário, oferecendo experiências sonoras diferentes”. Não à toa, é fundamental que o público esteja presente à apresentação.

A trilha sonora foi escolhida com cuidado, com alguns standards do início do ragtime, contextualizando a história da formação da bateria. “Preferi os clássicos para ajudar as pessoas a se situarem. Cada música foi escolhida como símbolo de determinada época, de determinada banda”, explica o autor Celso Taddei. Por isso, ele acha que o espetáculo ficou “divertido de ver e ouvir”. No repertório, há pot-pourri de canções dos Beatles e muito rock’n’roll: de Bill Haley a Led Zeppelin, passando por The Who, Cream, Sex Pistols, Black Sabbath, The Police e Nirvana. Bandas brasileiras – como Titãs e Paralamas do Sucesso – também marcam presença na trilha de “O baterista”.

O ESPETÁCULO

“O baterista” é uma comédia dramática musical. A história passa-se durante uma aula de bateria ministrada por um músico excêntrico, que vive um relacionamento afetivo em crise e é obrigado a encarar uma aula repleta de alunos exigentes pouco tempo depois de se separar da mulher. Com a cabeça na lua, ele se esquece da aula e se surpreende com a quantidade de pessoas que aparece na sua garagem – sua sala de aula improvisada. Mas o dia não vai ser fácil: sua bateria está completamente desmontada; e o lugar, todo bagunçado.

Durante a aula, o baterista organiza as coisas, ao mesmo tempo em que se vê às voltas com a ex-mulher, com quem troca diversas mensagens nas redes sociais. Como ainda é apaixonado por ela, o baterista transborda todas as suas emoções diante dos alunos, usando seu instrumento musical para expurgar suas desventuras e decepções, em cenas ora divertidas, ora comoventes.

O público acompanha a história da bateria – esse instrumento fascinante! – contada pelo músico, desde a percussão dos homens das cavernas até o rock’n’roll, passando por vários estilos como jazz, bebop, folk, blues, entre outros ritmos. Para ilustrar melhor sua aula, o baterista executa seu instrumento para tocar músicas de bandas e artistas famosos.

Ágil e divertido, o texto inédito de Celso Taddei também fala da relação do baterista com os outros músicos de uma banda, que muitas vezes deixam de valorizá-lo por considerá-lo um tipo inferior de músico, já que trabalha com percussão, e não com harmonia propriamente dita. Assim, o espetáculo faz um paralelo entre o preconceito que muitas vezes a música não erudita/não europeia tem com músicas consideradas “periféricas”, vindas da África e do Oriente. A bateria representa, na verdade, uma junção de diversas influências, de diversos lugares do planeta, a ponto de hoje ser um elemento fundamental na nossa cultura.

A peça toma como inspiração dois monólogos clássicos – “O contrabaixo”, de Patrick Süskind, e “Os malefícios do cigarro”, de Anton Tcheckhov – para criar um texto original e voltado para o público brasileiro, de todas as idades.

“O baterista” é o resultado da união de quatro artistas que há anos vêm desenvolvendo trabalhos juntos no meio audiovisual e que agora constroem um espetáculo inteiramente artesanal; com grande pesquisa estética, musical e artística; e comprometido com o público.

FICHA TÉCNICA

  • Texto: Celso Taddei
  • Atuação: Antônio Fragoso
  • Direção: Diego Molina
  • Diretor assistente: Alexandre Regis
  • Cenografia: Diego Molina e Patrícia Muniz
  • Direção musical: Pedro Coelho e Marcio Lomiranda
  • Iluminação: Anderson Ratto
  • Figurino: Patrícia Muniz
  • Programação visual: Daniel de Jesus
  • Fotografia: Caique Cunha
  • Filmagem: Bernardo Palmeiro
  • Assistente de câmera: Renato Costa
  • Direção de arte das fotos e vídeo teaser: Daniel de Jesus
  • Redes sociais: Agência e-Plan | Tatiana Borges
  • Assessoria de imprensa: Sheila Gomes
  • Assistente de produção: Carmem Ferreira
  • Intérpretes de libras: JDL – Acessibilidade na comunicação | Jadson Abraão e Davi de Jesus
  • Produção Executiva: Agência Botão Cultural | Bernardo Schlegel e Juliana Trimer
  • Produção: Antônio Fragoso e Celso Taddei
  • Realização: Levante 42

SERVIÇO

“O baterista”

  • Temporada de 2 de novembro a 8 de dezembro de 2022
  • Local: Teatro dos 4 – Shopping da Gávea
  • Endereço: rua Marquês de São Vicente 52 – Gávea
  • Sessões: quartas e quintas-feiras, às 20h
  • Sessões com intérprete de libras: dias 24/11 (quinta) e 07/12 (quarta)
  • Duração: 1 hora
  • Ingressos: R$ 80 (inteira) – R$ 40 (meia)
  • Informações: (21) 2239-1095
  • Classificação: 14 anos

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