Resistência é a palavra de ordem no cotidiano de um negro. E, ver o ator, diretor teatral e produtor cultural, Jeff Fagundes, prestes a representar o Brasil na principal reunião de cooperação mundial de cultura no International Theatre Institute, instituto financiado pela Unesco e mais 10 órgãos internacionais, em Dubai e Al Fujairah, é a verbalização de que a população negra tem voz e precisa ser ouvida. O evento acontece dos dias 17 a 21 de março.
O objetivo do encontro é reunir lideranças regionais do instituto que abre as portas para atuação do brasileiro e, que defende, a pauta de maior investimento internacional para a educação e formação artística para jovens mundialmente e, principalmente, no país. “O artista não deve estar presente apenas no palco, mas fazer seu papel na sociedade. Ter 10 anos de carreira como ator, diretor e ainda fazer articulação nacional e internacional para facilitar mais produções artísticas e teatrais no mundo, não seria possível sem investimento, visibilidade e suporte de grandes ONGs e instituições”, ressaltou.
Mais que um artista, Jeff conhece bem as mazelas que um corpo negro carrega pelos ares, principalmente, no mundo das artes. “Dividir esse espaço e dar mais oportunidades é um dos caminhos principais para entender que não há desenvolvimento social, sem um cenário cultural sólido, formando e reconhecendo artistas como trabalhadores essenciais para a humanidade”, pontua.
E, se engana, quem acha que este é o único evento importante que o multifacetado terá abrindo os trabalhos do ano. Dos dias 2 a 8 de abril, ele já tem outro compromisso marcado. Desta vez, no maior fórum mundial de cultura, o “Manila SDG Festival, Forum and Workshops for Health, Wellbeing, Peace and Climate Justice”, nas Filipinas, que reúne jovens e grandes líderes para discutir o que fazer sobre os objetivos sustentáveis da ONU no mundo pós-covid.
Ao lado de Mohamed Djelid Vice Diretor da região Asia-Pacifico da UNESCO; Sr. Shirley Ayorkor Botchwey, Ministro de relações exteriores do Ghana; Sr. Ladi Nylander, Vice presidente na Pan African Heritage World Museum do Ghana, entre outros representantes artísticos e governamentais, o multifacetado, que é um desses jovens líderes, abordará em sua apresentação artística os painéis “Como a arte pode ajudar no foco dos objetivos sustentáveis da ONU” e “Perspectivas da América Latina para a cultura”.
Com o intuito de promover debates acerca da distribuição e do direito à cultura internacionalmente, essa iniciativa prevê uma rede de jovens líderes de 21 a 35 anos em todo o mundo, que se comprometam a cumprir a agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, dialogando com grandes líderes de suas áreas, aumentando assim, a cooperação com a diplomacia cultural e aquecendo a preocupação com as políticas culturais pós-período da crise com o Covid-19, onde milhões de trabalhadores da cultura perderam seus empregos.
O programa visa ainda a inclusão da arte como ferramenta para a paz, como remédio de feridas causadas por conflitos e impressões da herança cultural africana no mundo pós-moderno. Vindo do interior do Distrito Federal, desde 2017, Jefferson, que coleciona 10 anos de carreira no Rio de Janeiro, compõe o Network of Emerging Arts and Professionals do International Theatre Institute/Unesco (https://www.iti-worldwide.
Em 2020, o multiartista entrou para o programa de Embaixadores Culturais do Conselho de Cooperação Sul Sul (https://www.sscc.com.co/) com a responsabilidade de trazer eventos e investimento internacional para projetos culturais de colaboração entre países africanos, latino-americanos e do sul da Ásia.
O Conselho de Cooperação Sul Sul – SSCC é um instituto global, facilitador e catalisador para promover o diálogo Sul-Sul e fortalecer a paz mundial. Tem como missão gerar e fortalecer alianças multilaterais entre os estados-nação do hemisfério sul e apoiar o intercâmbio de conhecimentos, lições aprendidas e histórias de sucesso, com vistas à melhoria das condições de vida da população. O International Theater Institute (ITI) é uma instituição criada pelo primeiro Diretor Geral da UNESCO desde 1948, com mais de 90 países membros, que tem como objetivo criar plataformas de intercâmbio internacional e pontes educacionais para profissionais das artes performativas. A instituição é responsável por um congresso que visa discutir o cenário teatral mundialmente.
Além da articulação cultural, Jeff, já participou de vários trabalhos teatrais atuando ou dirigindo, estreia em 2022 dois curta-metragens, do diretor francês Pierre Von Pedro, que já circulou em festivais no mundo todo, em especial o festival Nikon; e estará em cartaz com a Confraria do Impossível, grupo dirigido por André Lemos, primeiro diretor negro a ser laureado pelo prêmio Shell. Além disso, já realizou o primeiro festival de intercâmbio teatral no Rio de Janeiro (NEAPFEST) que contou com artistas de três continentes. O artista também já foi indicado a dois prêmios, participou também de turnês na América Latina e em países africanos, onde se apresentou como ator e diretor, deu workshops e integrou debates.
É graduado em atuação cênica pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde atualmente é mestrando em artes da cena e negritude. Membro do conselho internacional do Museu de herança Pan Africana no Gana, tem trabalhos teatrais e audiovisuais marcantes direcionados aos benefícios do teatro à saúde mental da população negra, preservação da cultura afro diaspórica, além de um programa de entrevistas com essa temática, onde já entrevistou nomes como Hilton Cobra, Zezé Motta, Sol Miranda e Rodrigo França.