Christal Galeria de Arte, de Pernambuco, estreia na ArtRio com dois multiartistas indígenas: Olinda Tupinambá e Ziel Karapató

por Redação
Olinda Tupinambá Transformação - Foto performance por Samuel Wanderley, 2023 Impressão em papel Rag Photo 310g 30x45cm

A Christal Galeria de Arte (Recife-PE) participa pela primeira vez da ArtRio, edição 2024, com dois artistas que representam os povos originários do Nordeste brasileiro: Ziel Karapotó e Olinda Tupinambá. As obras de ambos estarão no Pavilhão Mar, no programa Brasil Contemporâneo, com curadoria de Paula Borghi, dedicado a galerias que representam artistas residentes nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul. Olinda é da Bahia e Ziel é natural da comunidade Karapotó Terra Nova, de Alagoas, mas reside na Reserva Indígena Marataro Kaetés, em Pernambuco. 

Para Christiana Asfora, empresária, fotógrafa, produtora recifense e fundadora da galeria  em 2021, a escolha dos artistas vai ao encontro do objetivo principal da Christal, que é o de colaborar ativamente para a construção de um novo paradigma de Brasil e de mundo através das artes. “É importante levar nossos artistas para todos os lugares, diminuir as distâncias, atravessar as fronteiras e permitir que o território deles seja representado onde estiverem. Não podemos mais pensar a partir de centros e periferias, mas no sentido de que a arte conecta e faz com que mundos diferentes possam dialogar, promovendo os debates necessários para a mudança de paradigmas”, afirma Christiana.

Ziel e Olinda carregam em suas poéticas, também em seus corpos e em suas existências, questões ligadas ao tema da representatividade e resistência. Os trabalhos visuais selecionados para a ArtRio sustentam tramas narrativas que interpelam a versão da história oficial em relação à dizimação dos povos indígenas e suas lutas de resistência, mas também, a geopolítica das artes que contribuiu para erigir hierarquias desiguais forjando condições assimétricas entre artistas do norte e do sul global, sudestinos e nordestinos.

Ziel Karapotó e Olinda Tupinambá são multiartistas, desenvolvem pesquisas em múltiplas linguagens e assumem diversos papéis no campo das artes: artista/performance, artista/músico, artista/educador, artista/cineasta, artista/curador, artista/formador, artista/produtor, artista/artista, artista/ativista, artista-etc. Os dois, que vêm se destacando também no cenário internacional, estão com obras atualmente expostas no Pavilhão Brasil da Bienal de Veneza neste ano, que vai até o dia 24 de novembro. Para o evento no Rio de Janeiro, a Christal escolheu trabalhos que têm entre eles diálogos e conexões, tramas visuais compostas pelas práticas e presenças dos grafismos (que se misturam aos modos de fazer e de narrar de criadores/as indígenas em tempos dispersos da criação) e tramas narrativas visuais propostas por meio de performances (foto performance e vídeo), que denunciam fortemente os processos coloniais e da colonialidade, que insistem em se perpetuar em nossa sociedade. 

Em suas obras, Ziel e Olinda apresentam investigações e pesquisas que fabulam experiências e saberes de processos criativos, atravessados por referências que requalificam a passagem do tempo (tradições), o sagrado, o imaginário e a crítica ao colonialismo, à modernidade ocidental, o antirracismo, no fluxo do tempo. Abaixo a relação de obras que estarão na ArtRio, além de informações sobre a performance de Ziel, na abertura da feira.

Ziel Karapató vai apresentar a performance “Afluente” no primeiro dia da ArtRio, a partir das 17h. Vestido com a indumentária tradicional dos Karapató, o artista usa uma rede de pesca vermelha, cabaças e maracá, além de fumo e instrumento percursivo. 

“Afluente” foi realizada pela primeira vez no Festival “Theaterformen”, na Alemanha. A performance tem o objetivo de apresentar ao público, por meio da corporeidade, estratégias de territorialização e reafirmação de sua identidade originária nos múltiplos contextos em que atravessa. 

“Afluente” é transbordar, abrir caminhos e retornar e conexão entre corpos-rios, corpos-mares, corpos-àguas.

A GALERIA

A Christal Galeria de Arte foi fundada por Christiana Asfora, empresária, fotógrafa e  produtora recifense, em 2021, com o propósito de enriquecer o setor artístico e ser destaque na  cena contemporânea do Recife e do Brasil. O conceito da galeria abarca diversas manifestações  artísticas nas artes visuais, da moderna à arte contemporânea, incluindo pintura, desenho,  escultura, fotografia, instalação, performance, arte digital e arte conceitual. Além disso, temos em acervo e em exposições obras, artistas, movimentos e coletivos da Arte Urbana e da Arte Popular. 

Com a intenção de ecoar as vozes e destacar artistas fora da cena, ampliando o acesso e a fruição das artes e suas variadas narrativas, a Christal Galeria tem como princípios essenciais o apreço pela liberdade, o respeito pela democracia e pela livre expressão, visando ampliar o repertório de experiências estéticas e de capital cultural para seu público.

Nesse sentido, cabe destacar que a Christal Galeria tem como propósito colaborar ativamente para a construção de um novo paradigma de Brasil e de mundo através das Artes. Um mundo onde a redução da exclusão e desigualdade social seja um fazer permanente e onde a quebra de paradigmas e preconceitos aconteça independente dos agentes participantes nas relações que travarmos.

Para isso, seremos colaboradores vivos na formação cultural e educativa dos indivíduos, atuando em ações conjuntas com organizações civis, movimentos sociais, editais públicos e em parcerias com empresas privadas.

OS ARTISTAS

Olinda Tupinambá (natural de Pau Brasil- BA, 1989) é uma multiartista graduada em comunicação social. É produtora cultural, performer e realizadora audiovisual. Seu trabalho se destaca pela proposta de usar seu corpo como um corpo político, um corpo que se transmuta para falar de outros mundos possíveis, visibilizar e discutir as questões ambientais e a relação do homem com a natureza, tema recorrente em suas obras. Trabalha com audiovisual desde o final de 2015, entre documentários, ficção e performance, tendo produzido e dirigido 10 obras audiovisuais próprias e independentes. Foi curadora de diversos festivais e mostras de cinema, entre eles o Festival de Cinema Indígena Cine Kurumin (2020 e 2021), a Mostra Lugar de Mulher é no Cinema (2020 e 2021), e o 1º Festival de Cinema e Cultura Indígena – FeCCI 2022. Foi também produtora de duas mostras de cinema: Mostra Paraguaçu de Cinema Indígena (2017) e Amotara – Olhares das Mulheres Indígenas (2021). Integrou o grupo de pesquisa “Culturas de Antirracismo na América Latina” (CARLA – UFBA e Universidade de Manchester). Foi artista convidada da exposição Véxoa: Nós Sabemos (2020-2021) e do programa Atos Modernos (2022), ambos da Pinacoteca de São Paulo. Em 2024, participou da 60ª Bienal de Veneza com a obra “Equilíbrio”, tendo sido uma das artistas convidadas do Pavilhão Hãhãwpuá, como foi referido o Pavilhão do Brasil na ocasião. Foi indicada ao Prêmio Pipa 2024.

Ziel Karapotó (natural da comunidade Karapotó Terra Nova, São Sebastião- AL, 1994 e reside na Reserva Indígena Marataro Kaetés, Igarassu- PE) é formado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco. É multiartista, produtor cultural, curador, performer e realizador audiovisual. Reside, atualmente, na reserva Indígena Marataro Kaetés, em Igarassu – PE. É um dos três artistas indígenas a representar o Brasil na 60ª Bienal de Veneza, 2024, com a obra “Cardume II” e indicado ao prêmio PIPA 2024. Integrou os grupos de pesquisa “Ciência e Arte indígena no Nordeste” (CAIN-UFPE) e “Culturas de Antirracismo na América Latina” (CARLA UFBA). Desde 2021 é coordenador geral da Associação de Indígena em Contexto Urbano Karaxuwanassu (ASSICUKA). Sua trajetória é marcada por produções e atuações nos campos das artes visuais e do audiovisual no cenário nacional e internacional. Em seus trabalhos e pesquisas, aborda as poéticas indígenas, as configurações identitárias e o racismo sobre as etnicidades originárias, em especial sobre os povos indígenas no Nordeste.

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