Concerto Raro: Rio recebe obra icônica de John Cage

'Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado' será apresentado na Escola de Música da UFRJ (29/09) pelas pianistas Lilian Nakahodo e Grace Torres. Obra será executada integralmente. Entrada gratuita

por Redação
Anderson Sutherland A preparação é feita com a inclusão cuidadosa e calculada de parafusos, porcas, pedaços de plástico e borracha em um piano de cauda.

O Rio de Janeiro (RJ) será a primeira cidade a receber a turnê da revolucionária obra do norte-americano John Cage (1912 – 1992), ‘Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado’, das pianistas Grace Torres e Lilian Nakahodo. O concerto, com duração de 70 minutos e entrada gratuita, será apresentado dia 29 de setembro, às 18h30, na Escola de Música da UFRJ – Salão Leopoldo Miguez.

Parafusos (de diferentes tipos e tamanhos), porcas, pedaços de plástico e borracha milimetricamente colocados entre as cordas de um piano de cauda fazem parte da complexa preparação para esta execução que segue com apresentações até 27 de outubro em Uberlândia (MG), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP) e Curitiba (PR). A direção musical é da pianista e professora Vera Di Domênico.

Composta entre 1946 e 1948 com 16 sonatas e 4 interlúdios, a obra raramente é executada na íntegra em público. Grace e Lilian, integrantes do Coletivo Pianovero, foram as primeiras e únicas pianistas da América do Sul a gravarem a composição por inteiro, ao vivo. O feito inédito das brasileiras com o álbum ‘Preparado em Curitiba – John Cage: Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado’ foi lançado em janeiro de 2012, na 30ª Oficina de Música de Curitiba e no mês seguinte em Darmstadt, na Alemanha, no evento ‘Tage für Neue Musik’. De lá para cá o duo fez diversas apresentações no Brasil.

A obra, uma das mais representativas do repertório erudito do século XX, revela a identificação de Cage com o pensamento indiano e dialoga com sonoridades das orquestras de gamelão da Indonésia.

A preparação do piano, que demora de duas a três horas para ficar pronto conforme as precisas indicações feitas por Cage, as quais chamou de ‘bula’, no caderno das partituras impressas da obra, é o grande desafio do trabalho. O autor especificou não só o material a ser utilizado, de acordo com a característica de cada tecla, mas a localização e a distância entre elas e os objetos. “Pode não parecer, mas tudo é feito com muita técnica. As partituras foram escritas de forma tradicional. Não há nada de improviso, os fundamentos são muito sólidos”, conta a diretora.

Ao todo, 45 notas são preparadas para o ciclo de Sonatas e Interlúdios e diferentes métodos são usados para modificar o som original do instrumento. A inserção de diferentes objetos em suas cordas resulta em sonoridades inimagináveis.

“Existe ainda muito preconceito com a obra, pois muitos acham que a preparação agride o piano, pelo contrário, o acaricia. O resultado são sons assimétricos, porém delicados e sensíveis que lembram uma exótica orquestra de percussão”, explica Grace.

Parte do estudo, realizado no período de um ano pelas pianistas, foi feito em um piano convencional. Para poderem estudar em um piano de cauda preparado e criar uma relação auditiva com a composição tal como ela é, elas contam que foi preciso alugar um instrumento durante vários meses para que pudessem executar a obra.

Considerada como uma das melhores realizações de Cage, o objetivo da obra é expressar os nove estados emocionais, experimentados por qualquer ser humano, de acordo com a tradição hindu, conhecidos como rasa, são eles: o heróico, o erótico, o maravilhoso, o cômico, o patético, o furioso, o terrível, o abominável e a tranquilidade.

“Algumas notas soam como piano, outras não. A composição se encaixa perfeitamente nesta sonoridade. Tem muito respiro, muito silêncio. Os sentidos ficam aguçados, ouvimos o entorno, o tecido da nossa roupa, os ruídos das cadeiras, da plateia, insetos, tosses, pigarros. O mesmo acontece com o público. Alguns podem sentir até mesmo um desconforto porque não estão acostumados ou não esperam por isso em um concerto de piano”, avisa Lilian.

Além dos concertos, o projeto também vai oferecer gratuitamente neste mesmo período miniconcertos didáticos para alunos da rede pública de ensino, bate-papo online interativo com a equipe técnica do projeto e oficina abordando a preparação de piano e a obra de John Cage.

“Estamos de volta com este projeto porque retomar o contato com esta obra visionária e tão relevante não só para a música, mas para as artes em geral, é uma oportunidade de aprofundamento, hoje podemos oferecer ainda mais ao projeto e ao público. É uma grande alegria poder realizar no Brasil um projeto com esta qualidade”, conclui Vera.

Projeto realizado com recursos do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura – Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba. Incentivo: Colégio Positivo, Fundação Cultural de Curitiba e Prefeitura Municipal de Curitiba.

John Cage (1912-1992) foi compositor, teórico musical experimentalista, escritor, multiartista. Investigador incansável, foi pioneiro da música de acaso ou aleatória, da música eletrônica, do uso de instrumentos não convencionais, bem como do uso não convencional de instrumentos convencionais. Considerado uma das figuras chave nas vanguardas artísticas do pós-guerra, contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento estético da música no século XX abrindo caminhos para outros compositores eruditos experimentarem sonoridades variadas. Sua obra mais conhecida é 4’33” (1952), peça precursora da arte conceitual por não executar uma única nota musical, ao apresentá-la os músicos não tocam nada, ficam quietos diante do instrumento durante o tempo especificado no título.

Suas maiores influências vêm da Ásia, estudou filosofia indiana e zen budismo nos anos 40.  O I Ching, texto clássico chinês, foi uma importante ferramenta de composição para ele.

Influenciou muitos artistas de todo o mundo e integrou o movimento Fluxus, que abrigava artistas plásticos e músicos.

As Pianistas:

Grace Torres

Curitibana, compositora, produtora e Mestre em Música (UFPR). Integra o Coletivo Pianovero e o Fato, grupo autoral com 9 álbuns e shows pelo Brasil e exterior. Atuou como pianista em montagens como a “Ópera dos Três Vinténs”; com Lilian Nakahodo gravou ao vivo e fez concertos pelo Brasil com as “Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado”, de John Cage (2012-2016). Como compositora, criou trilhas premiadas para dança, teatro e audiovisual.

Lilian Nakao Nakahodo

Piracicabana radicada em Curitiba, graduada em Produção Sonora e Mestre em Música (UFPR). Pianista, compositora, produtora e editora de áudio, integra o Coletivo Pianovero e o Sons Nikkei, projeto de fusão musical Brasil-Japão. Ao lado de Grace Torres e Vera Di Domênico, realizou a 1ª gravação integral na América Latina, ao vivo, das “Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado”, de John Cage, além de concertos pelo Brasil (2012-2016).  Em 2022 lançou um EP com composições próprias para piano preparado.

Diretora Musical:

Vera Di Domênico

Pianista, professora e idealizadora de projetos pianísticos. Diretora e curadora do Coletivo Pianovero. Graduada em Música e Piano na UFRJ, FAPARTE/SP, Escola Superior de Música de Viena, e em Música Contemporânea para Piano (Stuttgart). Foi diretora dos Auditórios do MASP e coordenadora de música da FASM/SP. Criou e dirigiu dezenas de projetos pianísticos, como o “Preparado em Curitiba: John Cage – Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado”, com gravação ao vivo, concertos e workshops (2012-2016).

Coletivo Pianovero

Desde 2018 cria projetos pianísticos a partir de Curitiba. São solistas, professores, estudantes e amadores que, sob direção de Vera Di Domênico, realizaram: VEXATIONS, de Eric Satie, performance com 24h de duração; “De Sons e Terras Distantes: a música de Gurdjieff e De Hartmann para piano” na Capela Santa Maria, na Oficina de Música de Curitiba e no Auditório do MASP. Na pandemia, 2 concertos online com 28 pianistas de 7 países, a “Gurdjieff Music Experience”:  https://shre.ink/ajIn

Serviço:

O que: Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado, de John Cage.

Pianistas: Lilian Nakahodo e Grace Torres

Quando: Turnê Nacional de 29 de setembro a 27 de outubro de 2023

Onde/Cidades:

Rio de Janeiro – 29/09 (18h30) / Escola de Música da UFRJ – Salão Leopoldo Miguez (Endereço: R. do Passeio, 98 – Centro) *Entrada gratuita

Uberlândia – 15/10 (19h) / Cineteatro Nininha Rocha (R$10 e R$5 – Sympla)

Porto Alegre – 19/10 (20h) / Instituto Ling (Entrada Gratuita)

São Paulo – 24/10 (11h) Semana da Música / Faculdade Santa Marcelina – Teatro Laura Abrahão (Entrada Gratuita)

Curitiba – 26 e 27/10 (20h) / Teatro Paiol (R$10 e R$5 – Sympla)

Quanto: *Verificar conforme o local

Classificação: Livre

Duração: 70 minutos

Ficha técnica:

  • Direção Musical: Vera Di Domênico
  • Pianistas: Grace Torres e Lilian Nakahodo
  • Projeto gráfico: Karine Kawamura
  • Concepção visual: Silvio Silva Jr.
  • Fotografia: Gabriel Stocchero
  • Assessoria de Imprensa: Glaucia Domingos
  • Produção: Elis Ribeirete

Saiba mais:

Plataformas digitais:

trato.red/preparado
https://soundcloud.com/johncagepreparado

iTunes:http://itunes.apple.com/us/album/id1155881212
Spotify: http://open.spotify.com/album/1l7HUac3bCogMyf0nbTJPh

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