Foram dois anos sem sair de casa. Dois anos sem contato com outras pessoas fora do seu núcleo familiar. Dois anos aprisionados pelo medo, que se converteram em reflexão, uma nova maneira de ver a vida e inspiração para a exposição “Sentada em banco esplêndido”, da artista plástica carioca Denise Araripe, que vai acontecer de 18 de outubro a 20 de novembro, na Galeria Cândido Mendes Ipanema.
A obra principal, um banco que acompanhou a artista nos dois anos de isolamento da pandemia. O banco da cozinha, que, quebrado, deveria ter ido para o lixo quando a vida voltou ao seu curso.
Foi Tafarel, o rapaz do frete, que alterou a rota do banco da lixeira para o novo ateliê de Denise, agora no Centro, depois da longa temporada em que funcionava, improvisadamente, dentro de seu apartamento, durante o isolamento.
Com pena de jogar fora, o rapaz teve a ideia de consertá-lo e tentar reaproveitar no novo espaço. Atitude que deu asas à imaginação da artista, com tanta criatividade reprimida naquele período de solidão e privação de convivência.
Com nova roupagem, o banco quebrado se transformou no que Denise chama de “cadeira conforto”, um objeto transicional, fonte de aconchego. Forrado com uma pelúcia preta e branca, que remete ao pelo de uma vaca leiteira, e acomodando objetos de pelúcia com representações simbólicas de afeto e renascimento, o banco se transformou no símbolo de transição da solidão para a volta da convivência entre as pessoas. Depois de pronto, o banco foi visitado e acolheu mais de 100 pessoas das relações da artista, registradas em fotografias de polaroides que também fazem parte da exposição.
“Essa exposição teve um processo criativo diferente. Eu fui fazendo escolhas aleatórias e com o passar do tempo, fui entendendo por que elas foram feitas, inconscientemente, mas seguindo uma linha muito coerente com a minha visão de mundo e tudo que esse isolamento forçado me fez aprender sobre a vida em sociedade e como nós, seres humanos, conduzimos as relações de afeto e desafeto” – explica Denise Araripe.
As obras
Além do banco, personagem central, a mostra é composta por 45 guaches e pinturas digitais baseadas em fotos das 100 pessoas que visitaram o ateliê da artista e posaram ao lado do banco para as polaroides.
“Era interessante ver como cada pessoa interagia com aquele banco acolhedor, que representava uma transição do isolamento e vulnerabilidade, que aqueles dias nos impuseram, para o reencontro com a convivência e com a troca de afeto. Cada reação gerou uma obra diferente, com uma reflexão diferente, que também nos remete ao autoconhecimento e à reflexão de nossas particularidades”, explica.
Durante a mostra, Denise lançará uma coleção de lenços que acompanham os personagens e o imaginário de ” Sentada em banco esplêndido”, como o banco, os cavalinhos, a lagosta, a erva-daninha, entre outros, que estarão à venda na galeria, no dia do lançamento, e nas redes sociais da artista.
O protagonista
O forro de pelúcia preta e branca simula a pele de uma vaca leiteira, que fez parte da infância da artista, em frequentes fins de semana e férias na fazenda da família. O animal era o preferido de seu pai, que dizia “a vaca é o animal mais afetuoso que existe. Além da pele, que aquece, nos fornece o leite e a carne que nos alimentam”.
Acoplados a ele, estão pequenas pelúcias de personagens metafóricos que fazem parte de várias obras da artista, como a lagosta, que representa o enfrentamento da vulnerabilidade provocado pela troca da casca para o recomeço, os cavalinhos preto e branco, que representam a razão e a pulsão, que em desequilíbrio podem nos levar as relações polarizadas e raivosas, que ainda sobrevivem após a pandemia, ursinhos de pelúcia, entre outros.
Além da presença física, a peça se apresenta em diferentes representações, inspiradas em importantes referências, como o balanço da pintura de paisagem idílica de Fragonard, verdadeiras conchas protetoras em mar revolto; e as pontes de Monet, em uma das telas que ilustram a exposição, representando as pontes de afeto, consideradas pela artista a única maneira de criar harmonia na relação entre as pessoas, na nossa busca por um recomeço melhor.
“Precisamos criar pontes entre as pessoas, procurar o que pode nos unir apesar das diferenças. Pontes como as de Monet, que apresentam dois lados. Precisamos nos elevar para entender a dor do outro e dar as mãos criando essa conexão de afeto” – diz.
Como é comum em todas as exposições da artista, o público é chamado para uma experiência sensorial na Capela Reflexiva. A obra de arte interativa, em parceria com o artista plástico Frado MNT, especialista em arte vibracional, convida o visitante a uma cabine preta e escura com um banco, onde ele se senta e sente as vibrações sonoras benéficas emitidas por uma caixa de som muito potente, o que os artistas chamam de “imagem vibracional”.
“A ideia dessa experiência é mostrar como, na nossa convivência interpessoal, muitas vezes, mesmo calados, somos afetados por diferentes energias que podem determinar a maneira como nos comportamos e reagimos ao outro” – explica.
A artista
Denise Araripe é carioca, com formação artística entre Rio de Janeiro, Genebra, Londres e São Paulo. Exibe mostras individuais e participa de exposições no Brasil e no exterior desde 1992. Tem trabalhos em acervos institucionais e coleções particulares no Brasil, Estados Unidos, Itália e França. Seu ateliê está localizado no Centro do Rio de Janeiro.
Serviço
“Sentada em banco esplêndido”, de Denise Araripe
Vernissage: 17 de outubro, das 18h às 21h
Data: de 18 de outubro a 20 de novembro
Horário: de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h e sábados das 10h às 18h
Endereço: Galeria Cândido Mendes Ipanema – Rua Joana Angélica, 63, Ipanema, Rio de Janeiro