O isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19 isolou indivíduos em suas casas. O mesmo isolamento foi capaz também de aproximar dois nomes respeitados na dança contemporânea. Laura Samy e Alice Poppe construíram na dança carreiras longevas, tendo trabalhado com grandes coreógrafos e encenadores. Elas se admiravam, mas nunca haviam trabalhado juntas. Em 2020, diante das incertezas do “novo normal”, criaram não um, mas dois projetos. O mais recente deles é Cravo, criado em 2021 e originalmente pensado para ser filmado, numa parceria que incluiu o cineasta Cavi Borges e o diretor de fotografia Fabrício Mota. A proposta, que une ainda a trilha sonora de Sacha Amback à iluminação de Paulo César Medeiros chega agora ao palco três anos depois de ser concebido. Cravo fará temporada de três semanas no Espaço Cultural Sergio Porto, no Humaitá, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde fica de 05 a 21 de julho, de sexta a domingo, com ingressos a R$ 10.
A pesquisa de movimento e a sua relação com o espaço dão as tônica nas trajetórias de Laura e Alice. Algo construído em experimentações cujos resultados contaram com o olhar de grandes nomes, como Angel Vianna (com quem Poppe trabalhou anos a fio), João Saldanha (com quem ambas trabalharam) e, no caso de Samy, o diretor teatral Enrique Diaz. Cada novo trabalho parte de uma premissa aberta também a outras linguagens artísticas. O cinema, por exemplo. Cravo tem na sua gênese influências de clássicos da sétima arte, assim como dos diretores que lhe deram vida.
Alguns exemplos são “Martha”(1973), do alemão Fassbinder (1945-1982) e “Repulsa ao sexo” (1965), de Roman Polanski, entre outros. Uma inspiração ligada ao cinema, mas que abarca também a fotografia, é a do norte-americano Man Ray (1890-1976), que revolucionou a relação da câmera com o objeto retratado. Outra referência a se considerar é a do dramaturgo irlandês Samuel Becket (1906-1989), cuja peça “Dias felizes” também pautou a proposta do espetáculo.
O roteiro é dividido em oito movimentos – ou quadros. O primeiro é o prólogo, seguido pelas demais cenas. As demais cenas são compostas por solos e duos. No caso desses últimos, o público tem diante dos olhos quadros nos quais os gestos conversam, provocando também contradições entre eles, num resultado vívido e visceral.
Da década de 1990 para cá, ganhou força o conceito de teatro-dança, impulsionado por propostas como as trazidas pela coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009). A relação entre público e plateia mudou. Laura Samy e Alice Poppe foram do palco ao audiovisual e voltam agora à cena, seu habitat natural. E a junção dessas duas artistas só pode resultar em algo instigante.
Ficha técnica:
- Criação, direção e interpretação: Laura Samy e Maria Alice Poppe
- Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
- Direção musical: Sacha Amback
- Participação na trilha sonora: Tato Taborda
- Figurino e objetos de cena: Laura Samy
- Fotografia: Carol Pires e Renato Mangolin
- Mídias sociais: Rafaella Menegueli
- Assessoria de imprensa: Christovam de Chevalier
- Produção: Nathália Fajardo
- Apoios culturais: Escola e Faculdade Angel Vianna e Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro.
Serviço:
Cravo
- Temporada: 05 a 21 de julho
- Dias e horários: sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h
- Onde: Espaço Sérgio Porto (Rua Visconde Silva, s\nº, Humaitá. Tel: 2535-3846)
- Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
- Duração: 40 minutos
- Classificação etária: 12 anos