Explosão de rock na tela do cinema

por Waleria de Carvalho
Johnny Massaro

Diante da telona, eu voltei a uma época nostálgica na qual ainda existiam fichas de telefone, orelhões, fita cassete e o melhor: poesia, sonhos, amor e é, claro, muita música. Uma delícia assistir ao filme Aumenta que é Rock´n`Roll, com direção de Tomás Portella, roteiro de L.G. Bayão e produção de Renata Almeida Magalhães, que chegará aos cinemas de todo o país no dia 25 de abril. 

Baseado no livro autobiográfico “A Onda Maldita”, de Luiz Antonio Mello, o filme conta como o autor, ainda vivo e com um programa de rádio na Internet, a Rádio LAM, conseguiu erguer a Rádio Fluminense 94, A Maldita, em 1982, e fez dela mais do que um sonho pessoal. Tornou-a um grande sucesso, ao lado do então jornalista Samuel Wainer Filho (interpretado por George Sauma), morto num acidente de carro durante cobertura jornalística em junho de 1984.

O filme tem todos os ingredientes para prender a atenção do telespectador: ágil, vibrante, divertido e alegre. Destaque para a interpretação de Johnny Massaro (Luiz Antonio Mello), que, dito pelo próprio Luiz Antonio Mello, o representou muito bem. Como um líder, Luiz Antonio Mello (Johnny Massaro) consegue dar um nó nos percalços para a montagem e sucesso da rádio. Uma das inovações foi colocar apenas mulheres como locutoras como Mylena Ciribelli, Monika Venerabile, entre outras. A radialista e dubladora Adriana Riemer não trabalhou na Maldita, mas atribui a abertura a sua contratação, à época, pela Antena 1. “Então A Rádio Fluminense foi a primeira que saiu contratando mulher jovem e eu fui contratada na Antena 1 por causa dessa onda de mulheres e cruzei com várias locutoras que eram da Fluminense, a Selma Boiron, Monika Venerabile, Mylena’’. 

O filme revela também os bastidores do icônico Rock in Rio de 1985, selado ao som triunfante de Cazuza, à frente do Barão Vermelho.

Aumenta que é Rock´n` Roll me chamou também atenção pelos diálogos bonitos e um texto bem diferente do que estamos acostumados atualmente. O elenco também conta com Orã Figueiredo, Silvio Guindane, Flora Diegues, Joana Castro, Clarice Sauma, Luana Valentim, Mag Pastori, Bella Camero, André Dale, Felipe Haiut, Saulo Arcoverde, João Vitor Silva, Cadu Favero e Charles Fricks. Veja a entrevista com Luiz Antonio Mello.

Sopa Cultural: Como é ser retratado num filme que conta parte da sua história? 

Luiz Antonio Mello

Luiz Antonio Mello

Luiz Antonio Mello: É uma sensação inédita para mim pois nunca imaginei essa situação um dia. Fico muito grato a Renata Almeida Magalhães, da Luz Mágica Produções, que decidiu fazer este filme baseado em meu livro. É um momento muito emocionante.

Sopa Cultural: Você acha que o Johnny Massaro te remeteu, de fato, a um Luiz Antonio jovem? Vc se vê nele?

Luiz Antonio Mello: O diretor Tomás Portella me convidou para assistir as filmagens e eu fiquei impressionado (e até assustado) com a maneira como o Johnny Massaro me representa. Ele conversou muito comigo, pessoalmente e por telefone e o que eu vi nos sets de filmagens foi um segundo eu, um clone perfeito. O gestual, as expressões faciais…se eu fosse desempenhar o meu papel não teria feito tão bem quanto ele.

Sopa Cultural: Você acha q o longa foi fiel ao nascimento da Maldita?

Luiz Antonio Mello:  O longa é uma ficção, baseada em meu livro “A Onda Maldita – como nasceu a Fluminense FM”, cuja última edição (digital) decidi disponibilizar gratuitamente na plataforma do Kindle, na Amazon, que é compatível com celulares. É só entrar lá e ler. Na verdade não pude zerar o preço, está por R$ 1,99. Como é uma ficção, é uma adaptação feita pelo roteirista L.G. Bayão, a maioria dos fatos e dos personagens são simbólicos e há histórias que, absurdas, não aconteceram. Mas poderiam ter acontecido perfeitamente porque são a cara da rádio. Mas o começo, eu e Samuca Wainer indo à rádio apresentar um programa em 1981, é bem fiel.

Sopa Cultural: Pelo que li você ficou na rádio por 3 anos e depois alçou novos voos? Como foi essa transição?

Luiz Antonio Mello: Sim. Cheguei lá em meados de 1981 para desenvolver o projeto, escolher locutoras, músicas, etc, com Sergio Vasconcellos, Amaury Santos e Alex Mariano. Samuca ficou no primeiro mês, mas precisou sair. Saí no dia 1º de abril de 1985, com a rádio em terceiro lugar no Ibope indo para o segundo. O filme aborda esse período, 1982-1985, como também é o caso do livro. Foram três anos de trabalho muito duro. Sinceramente, hoje, 42 anos depois, penso que curti muito pouco a rádio, poderia ter me divertido mais. Mas como ela foi um modelo novo, inventado, exigiu muito, e chegava lá de manhã e saía à noite. Raramente ia às festas. Além disso, sou extremamente perfeccionista.

Sopa Cultural: Você acompanhou as gravações? Mudaria alguma coisa? 

Luiz Antonio Mello: Olha, o filme é o melhor deste segmento que já assisti. Sou cinéfilo, vou ao cinema uma vez por semana, e, dia sim, dia não assisto um longa antes de dormir no streaming. Não mudaria nada em “Aumenta que é Rock and Roll”. Teria suprimido uma fala do “Luiz Antonio” na cena em que está preso no elevador. Sou cristão, por razões pessoais sou muito ligado a Deus e o personagem fala de Deus de uma forma meio ofensiva. Fora isso, nada a mudar.

Sopa Cultural: Além de o filme abordar o rock, ele tem uma pegada romântica. A história com Aline/Alice é  verdadeira? Pelo filme dá a entender q o seu grande amor é ela. O relacionamento dura até hoje?

Luiz Antonio Mello: Alice é uma invenção do roteirista. Não existiu. Não me relacionei afetivamente com nenhuma colega da rádio e também acho linda a história de amor deles, que o Bayão inventou.

Sopa Cultural: Você tem a Rádio LAM na Internet. Como foi essa migração? 

Luiz Antonio Mello: A Rádio LAM é 100% autoral, pessoal Tipo one man band. Eu fiz a seleção musical, as locuções, as vinhetas. Apesar de ser uma rádio rock, vai por outros caminhos. A Fluminense FM fez muito sucesso por causa da sua fala, do que ela dizia. Do humor,  do jornalismo, do deboche, promoções. E também as músicas. Já a Rádio LAM é focada na música. Escolhi uma por uma já são quase 3 mil. Muitos artistas tocaram na Fluminense, mas a Rádio LAM é diferente.

Sopa Cultural: Como você vê o jornalismo na atualidade com a profusão de influencers, blogueiros, youtubers e afins?

Luiz Antonio Mello: Eu estou como editor do diário  A TRIBUNA, que fica em Niterói mas circula (impresso) pelas cidades do Leste Fluminense e também está online em www.atribunarj.com.br  . É um jornal factual, os profissionais que trabalham são todos formados em jornalismo, entre 20 e 30 anos e estão empenhados em tratar a informação com respeito. Influencers, blogueiros, youtubers, são raros os que tem conteúdo e talento. A fartura de canais, de tecnologia, fez com que surgisse essa patologia de todo mundo dizer o que quiser, o que para mim é uma ofensa ao jornalismo profissional. Gosto de brincar dizendo que influencers é para imbecilers.  Mas penso que na hora H, na hora do vamos ver, o público recorre aos profissionais.

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