Moleque Piranha

“Moleque Piranha”: Cria da Maré, Renato Cafuzo lança primeiro livro infantil como autor

O artista já ilustrou cinco livros infanto juvenis de autoras negras, e estreia sua primeira história publicada falando sobre infância e arte de rua. O lançamento acontece no dia 11 de março

por Redação

Dos mais de 130 mil moradores do Complexo da Maré – conjunto de 17 favelas da Zona Norte do Rio de Janeiro – um deles mora no Morro do Timbau. Dos milhares de autores da própria vida, um deles decidiu contar uma história. Com e para crianças, a narrativa do livro “Moleque Piranha”, de Renato Cafuzo, acontece também em uma favela. Desenhista desde criança e escritor desde esse livro, o autor nos lembra como a arte pode nos ajudar a (re)escrever nossas memórias. O lançamento acontece em três datas. No dia 11 de março, na Favela da Maré; dia 16, na Biblioteca Comunitária Maria Lina, em Nova Iguaçu, e dia 22, na Biblioteca Parque, no Centro. 

Em uma narrativa onde todos os personagens são negros – e apenas dois são adultos – grande parte da história se passa na escola. Revisitando sua própria trajetória, Cafuzo traz nos versos a potência das infâncias negras e a importância da educação como forma de criar outras possibilidades de futuro. Enxergando cada criança como um mundo em expansão, o autor nos mostra como ser parte e ser visto por uma comunidade, expande as nossas possibilidades de ser e existir com humanidade. 

“Não acho que seja fantasioso contar uma história bonita na favela, mas quando faço é na esperança que tenhamos mais dias assim. E demonstrar que isso é possível pras nossas crianças é importante! Alguns traços do racismo partem basicamente do que você pode ou não pode fazer. E isso, numa fase de desenvolvimento como a infância, se traduz em como você pode ou não pode se desenvolver”, reforça o autor. 

O livro ainda irá compor o acervo de 20 bibliotecas comunitárias da Baixada Fluminense, e de mais de 50 escolas no Complexo da Maré. Além disso, como forma de ampliar a acessibilidade e a experiência do público com a obra, uma versão gratuita em audiolivro, com audiodescrição, também será lançada no dia 11 de março, e ficará disponível no canal do autor no Youtube. A narração será feita pelo artista circense Vicente Barbosa, de 6 anos. Ele faz parte da terceira geração de palhaços de sua família, e integra a Chirulico, companhia de Palhaçaria e Arte Pública criada por seus pais, Anthony Brito e Aline Barbosa. A partir desta mesma data, o livro poderá ser adquirido no site da editora Oriki.

Quem é o “Moleque Piranha”?

“Uma expressão da rua para a própria rua”, é como o autor define o “moleque piranha”, personagem que dá nome à narrativa. 

O desenho teve como influência os cartoons, e à medida que a relação do autor com a cidade ia mudando, o “moleque piranha” também se adaptava em suas diferentes expressões. Foi no trajeto da Zona Oeste à Zona Sul do Rio de Janeiro, há quase uma década, que a caminho do trabalho, Renato, que à época tinha acabado de se tornar pai, aproveitava o percurso para se expressar pela cidade adesivando o desenho pelas ruas. 

Consciente ou inconscientemente, a figura dá forma a uma lembrança da infância do autor, que começou a desenhar por influência do pai que trabalhava em uma gráfica. Entre os brinquedos favoritos, blocos de papel estavam no topo da lista. Era o que o seu pai mais levava pra casa. 

“Lembro dele com um bloco desenhando um toco de árvore e no toco desenhava um rosto. Esperou até ver minha cara confusa com o desenho e soltou: “esse é o cara-de-pau”. É impressionante notar a similaridade da construção dessa piada com a do personagem que eu colo por aí hoje em dia”, relembra Renato, que hoje continua utilizando o desenho como intervenção artística em diferentes espaços urbanos através da colagem de adesivos. 

Então, se você mora no Rio, possivelmente já viu o “moleque piranha” por aí, que inclusive também circula pelas ruas fora do Brasil. A arte ganhou um contexto coletivo quando amigos do autor a fizeram circular por diferentes lugares, nos lembrando como as ruas podem expressar e guardar memórias e seus diferentes significados. 

Homenagens

Duas grandes homenagens compõem a narrativa. Uma para o amigo de adolescência do autor, o cineasta Cadu Barcellos, e outra para a vereadora Marielle Franco. Assim como Renato, ambos são crias do Complexo da Maré, e marcam a história do conjunto de favelas com uma trajetória de luta contra o racismo, dando voz às narrativas que definem as periferias como um lugar onde os sonhos são possíveis. 

Três dias após a primeira data de lançamento do livro, completa meia década do assassinato de Marielle Franco. E uma pergunta segue atual: “quem mandou matar Marielle?”. Como “cria não morre, vira lenda”, Cadu e Marielle, na história, Carlinhos e Tia Mari, ficam eternizados na memória através dos traços e narrativas de Renato Cafuzo. 

Este projeto conta com o patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através do edital “Retomada Cultural RJ2”. 

SERVIÇO

Lançamentos

11/03

Local: Pontilhão Cultural (Maré)

  1. Praia de Inhaúma, 39, Maré – RJ

Horário: 11h30

Entrada: gratuita

16/03

Local: Biblioteca Maria Lina

  1. Rural, 11, Corumbá, Nova Iguaçu – RJ
    Horário:14h
    Entrada: gratuita. Sujeita a lotação

22/03

Local: Biblioteca Parque
Av. Presidente Vargas, 1261,  Centro – RJ

Horário: 10h30
Entrada: gratuita. Sujeita a lotação

Sobre Renato Cafuzo

Cria do Complexo da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, filho de Elias e Glória e pai da Sophia. Designer desde adulto, desenhista desde criança e escritor desde esse livro.

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