Das danças dos povos originários aos toques de terreiro, passando pelas rodas de samba, expressões ciganas, cortejos, oficinas e debates, o evento reuniu povos originários, quilombolas, comunidades de terreiro, artistas, chefs, artesãos e grupos tradicionais como Awurê, Cacique de Ramos, Banda Afro Tafaraogi e a bateria da Portela. Com entrada gratuita e programação intensa das 10h às 18h, o público vivenciou uma imersão profunda na cultura, nos saberes e na economia criativa que fortalecem as matrizes do Rio de Janeiro.
Ao longo dos dois dias, muitos mestres, líderes e guardiões de saberes foram agraciados com homenagens, como os títulos de Baluarte das Nações e Difusor Cultural das Nações. Entre eles, o babalawô Ivanir dos Santos, José Beniste e diversas autoridades religiosas que representam a resistência e a continuidade das tradições. O encontro ainda teve lançamento de livros, palestras, rodas de conversa e apresentações que reforçaram a pluralidade dos territórios culturais presentes. Entre os destaques, barracas variadas de moda e gastronomia africana, com roupas tradicionais, acessórios autorais e diversos quitutes que remetem às raízes afro-brasileiras, fortalecendo o diálogo entre cultura e economia.
As manhãs foram abertas com rituais de defumação e danças conduzidas por povos Pataxó e Guajajara, que também compartilharam conhecimentos ancestrais em diálogo constante com as matrizes africanas. No sábado, a programação seguiu com capoeira da ANAC, toques e cânticos da Umbanda com o Grupo Vozes d’Oyó, música cigana de Paulo Cigano e Y Los Gitanos, o swing do Cacique de Ramos e a potência da bateria da Portela.
No domingo, o Afoxé Maxambomba, o Jongo Filhos de Benedito, o Grupo Afro Tafaraogi, o Xirê das Nações (com participação do Street Legends) e o Awurê deram o tom de um dia marcado por ritmos, memória e celebração.
Para entender como esse grande mosaico cultural ganhou força, o curador e idealizador Marcelo Fritz destacou que o encontro chega em um momento simbólico, dentro do Mês da Consciência Negra, fortalecendo identidades e criando pontes entre gerações. Segundo ele, além de promover o encontro entre povos e mantenedores de culturas, o evento compartilhou saberes através de oficinas gratuitas que impactaram, um gesto de futuro e continuidade.
Fritz aponta que a valorização das matrizes afro se dá pela transmissão de técnicas, práticas ancestrais e pela formação dessas novas gerações, que carregam o compromisso de manter vivas as raízes. E explica que a economia criativa é parte essencial desse diálogo, que surge do encontro e das trocas de experiências, gerando alternativas e inovação a partir da tradição.
A presença de diferentes culturas e nações ganharam destaque como um sonho antigo do curador: promover, além do encontro, uma aproximação que gere estratégias conjuntas e articulações para o fortalecimento mútuo. Para ele, o legado do Encontro das Nações está nas sementes plantadas, alianças, perspectivas de resistência e a possibilidade de que novos líderes culturais se reconheçam como herdeiros de uma história de orgulho e pertencimento.
O palácio histórico se tornou cenário de culturas milenares que dialogam entre si, como o artesão e líder indígena Jiru Pataxó, a presença vibrante dos povos de terreiro com outras culturas. Cantos, rezas, rituais, sambas, sabores e celebrações ecoaram pelos jardins, fazendo do Catete um espaço vivo, onde tradição e contemporaneidade se unem para reafirmar a força das nações que moldam a identidade do Rio de Janeiro.
