Uma estrada toda sua

Lívia Machado reúne em seu livro de estreia contos cujas narrativas vão do surrealismo à fantasia mesclando invenção e memória

por Redação
Lívia Machado

Uma estrada CapaLívia Machado cresceu na transição do mundo entre o velho e o novo milênio. Época em que a humanidade migrava do comportamento analógico para o tecnológico. O antigo milênio nos lega suas revoluções e as vanguardas surgidas em consequência delas. Nesse ínterim, a relação de um autor com a escrita mudou. A fabulação inventiva está aí, firme e forte (amém!), mas os jovens escritores experimentam um fato só possível nesses novos tempos. Ao mesmo tempo em que podem propor algo novo, revisitam propostas estilísticas já experimentadas. Transitar entre essas possibilidades (e outras mais) é o que a hoje escritora e jornalista Lívia Machado propõe em Uma estrada toda sua, com que faz sua estreia literária. A obra reúne contos nos quais aventura-se de forma bem-sucedida por estilos de narrativa e de escrita que vão do surrealismo ao fantástico, do microconto à memória, revelando influências que vão de Virginia Woolf (1882-1941) a Jorge Luís Borges (1899-1986). A obra chega às livrarias pela 7 Letras.

A coletânea é composta por 20 contos, divididos em duas partes: Estrada Orgânica, com seis textos, e Estrada Cibernética, com 14 narrativas. No início do conto que dá título ao livro, a autora pergunta onde estará a verdade. Ao mesmo tempo em que ela [talvez] busque tal resposta, nos dá, através das narrativas, psitas do seu paradeiro – ou mesmo se ela existe. A liberdade – criativa e estilística – é um dos pilares da escrita de Lívia Machado. Ela não somente acata a sugestão de Virginia Woolf (de que toda mulher deve produzir sua autoficção) como a subverte ao ir além do seu próprio mundo.

Ao mesmo tempo em que a autora leva o leitor às paisagens rurais e montanhosas de Minas, ela mistura invenção e memória (salve, Cony!) como em “Androide paranoica”, no qual uma menina tenta alçar voo do telhado de uma vizinha. A carga imagética oferecida ali é comovente e nos remete às peripécias d’“O menino no espelho”, de Fernando Sabino (1923-2004), não à toa mineiro como Lívia.

De Minas, ruma a outras paragens que podem ser tanto uma biblioteca (cenário idílico de Borges) na Alemanha ou um outro tempo, ainda mais soturno e beligerante, no qual as retinas podem se descolar dos olhos. Lívia Machado transita por outras geografias com a mesma desenvoltura com que usa de narrativas. Ela pode tanto usar da poesia, como na terceira parte do conto “Post-scriptum”, como mostrar-se fluida e sucinta nos microcontos “Turista” e “Febre”, reinventando a linguagem neste último (recomenda-se abri-lo diante do espelho).

“Diferentes imagens, situações e tramas se multiplicam”, como bem observa Elisa Band na orelha do livro. E, a partir disso, Lívia nos deixa um legado para “quando o futuro doer”. E o futuro  é agora.

Sobre a autora:

Lívia Machado nasceu em Juiz de Fora (MG) em 1989. É jornalista, mestra em Comunicação e Sociedade (UFJF), doutora em Meios e Processos Audiovisuais (USP) e pesquisadora em Artes e Semiótica pela ECA-USP. “Uma estrada toda sua” (7 Letras) é seu livro de estreia.

Título: Uma estrada toda sua

Autora: Lívia Machado

Editora: 7 Letras

Lançamento: outubro de 2022

Formato:  14 X 21cm

Número de páginas: 92 páginas

Preço: R$ 46,00

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