A Aforista

A Aforista estreia dia 25 de janeiro
no Teatro I do CCBB – Rio

por Waleria de Carvalho

O espetáculo A AFORISTA, do dramaturgo e diretor curitibano Marcos Damaceno (Prêmio Shell de dramaturgia por Homem ao Vento), que estreia nacionalmente na noite de 25 de janeiro de 2023, no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, traz à cena uma mulher (Rosana Stavis), caminhando sem parar em direção ao enterro de um antigo amigo da faculdade de música. Enquanto caminha, lhe vêm pensamentos acerca de sua própria vida, e os caminhos escolhidos por ela e seus antigos amigos, todos “promessas da música”. Caminhos que vão da plenitude da realização ao fracasso fatal. Após a temporada no CCBB Rio de Janeiro, o espetáculo cumprirá temporadas no CCBB Belo Horizonte, Brasília e São Paulo, com patrocínio da BB Asset, gestora de fundos de investimento do Banco do Brasil.

A peça abre ao público a mente dessa mulher, a aforista, na qual se sobressaem a confusão como linguagem, o ritmo vertiginoso, o excesso de informações, as digressões, além de boas doses de ansiedade e perturbação. Trata-se de uma obra teatral por vezes angustiante, frequentemente hilariante.  

A narradora verbaliza em um estado próximo ao devaneio – ou, melhor, da loucura – onde seus pensamentos, lembranças e imaginação fluem líricos em certos momentos, pesarosos em outros, tornam-se pouco imaginativos e medianos em certos trechos, para logo em seguida flertarem com a filosofia e o sublime, tornando-se expansivos, contraditórios e, principalmente, com confusões e associações próprias da mente humana em nossos dias. É uma arquitetura mental em espiral, de pensamentos entrecortados por outros pensamentos que se interrompem e são retomados em um looping sem fim. São narrativas densas e sôfregas que ficam hilariantes. Pensamentos sublimes e elevados que escorregam para o grotesco, assim como é a vida da gente.

A narrativa da peça

A peça apresenta como um dos personagens centrais o famoso pianista John Marcos Martins. Outro pianista, Polacoviski, tem um destino trágico. A narrativa desenvolve-se a partir das lembranças, pensamentos e imaginação da terceira personagem, a narradora, amiga de John Marcos Martins e de Polacoviski, e por eles apelidada de aforista*. A narradora, que está sempre andando e enquanto anda, pensa em como se deu tudo. Sua relação com seus antigos amigos de faculdade, o caminho que cada um seguiu. E onde esses caminhos os levaram. E o quanto esses caminhos tomados influenciaram inclusive na vida uns dos outros.

– É uma peça sobre as decisões que tomamos. Sobre as nossas escolhas. Os caminhos que seguimos. E onde eles nos levam. É também uma peça sobre nossos sonhos. Sobre nossos desejos, principalmente de quando jovens. E de como lidamos com eles. Como lidamos com nossas frustrações. Nossas insatisfações: “ser artista é saber lidar com as frustrações” – diz a aforista. Enfim, como toda peça de teatro, de como lidamos com os nossos sentimentos. E de como lidamos com os nossos pensamentos. Ela, a narradora, a aforista, está sempre pensando e andando. O pensamento é o lugar onde se passa a peça: “andando vamos resolvendo as perturbações do pensamento” – diz a aforista, enquanto anda e pensa. (Marcos Damaceno, autor e diretor)

2 pianos tocados ao vivo, duelam no palco e dão o tom da narrativa

A música cumpre papel de destaque no espetáculo, sendo a atriz Rosana Stavis (cada vez com mais frequência apontada, inclusive pelo Jornal Folha de S. Paulo, como uma das melhores atrizes do teatro brasileiro) acompanhada por 2 pianos tocados ao vivo por Sergio Justen e Rodrigo Henrique, que duelam no palco e dão o tom da narrativa com a trilha original criada pelo compositor Gilson Fukushima.

O espetáculo A Aforista é o segundo de uma trilogia – iniciada com Árvores Abatidas ou Para Luis Melo – influenciada por Thomas Bernhard**. Segundo Damaceno, o texto da peça é uma conversa com questões postas por Bernhard respondendo e contrapondo questões colocadas pelo autor austríaco em sua extensa obra, permitindo-se desviar para outros assuntos, outras situações, outros lugares. Um mergulho na memória e nas possibilidades que cabem numa vida.

A mente como protagonista ou lugar de ação e o impacto quase que exclusivamente pela força do elenco e das palavras são marcas das encenações da Cia.Stavis-Damaceno.

Este projeto foi realizado com recursos da Lei Federal de Incentivo a Cultura, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal.

AforistaQue ou aquele que cria, estuda ou cita aforismos com frequência; Aforismo: Máxima ou sentença que em poucas palavras contém uma regra ou um princípio de alcance moral: “A vida sem música seria um erro” – Nietzsche. – Fonte: Dicionário Michaelis

** Thomas Bernhard nasceu em Heerlen, na Holanda, em 1931, e morreu em Gmunden, na Alta Áustria, em fevereiro de 1989. Escreveu poemas, novelas, romances e peças de teatro, e é considerado um dos nomes mais importantes da literatura de língua alemã do século XX. Dele, a Companhia das Letras publicou O náufrago (1996), Extinção (2000), Origem (2006), O imitador de vozes (2009) e Meus prêmios (2011).

Ficha técnica

  • A AFORISTA
  • Texto e Direção: Marcos Damaceno
  • Elenco: Rosana Stavis
  • Pianistas: Sergio Justen e Rodrigo Henrique
  • Composição e Direção Musical: Gilson Fukushima
  • Iluminação: Beto Bruel
  • Figurinos: Karen Brustollin
  • Assessoria de Imprensa: Ney Motta
  • Produção Executiva: Bia Reiner
  • Assistente de Produção: Marianna Holtz
  • Produção: Cia.Stavis-Damaceno

Serviço

  • A AFORISTA
  • Temporada: 25 de janeiro até 05 de março de 2023
  • Dias e horários: Quarta à sábado, às 19h30, e domingo, às 18h
  • Classificação: Indicado para maiores de 16 anos
  • Duração: Aproximadamente 70 minutos
  • Local: Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro I
  • Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro
  • Informações: 21 3808-2020 | ccbbrio@bb.com.br
  • Valor do ingresso: R$ 30 (inteira) e R$15 (meia)
  • Estudantes, maiores de 65 anos e Clientes Ourocard pagam meia entrada.
  • Ingressos adquiridos na bilheteria do CCBB ou antecipadamente pelo site https://ccbb.com.br/rio-de-janeiro/
  • Funcionamento do CCBB Rio: segundas, quartas, quintas, sextas e sábados, das 9h às 21h; domingos, das 9h às 20h (fecha às terças).

Com Laila Garin no papel-título, o musical Carmen, a Grande Pequena Notável ganha temporada gratuita no Teatro do SESI-SP, em 2023

Carmen

Carmen – Foto de Leekiung Kim

Com a proposta de apresentar a trajetória de Carmen Miranda (1909-1955) para toda a família, o musical Carmen, a Grande Pequena Notável, dirigido por Kleber Montanheiro, ganha temporada, pela primeira vez, gratuita no Teatro do SESI-SP, entre 26 de janeiro e 12 de fevereiro. A estreia marca a apresentação de número 100 do musical.

As apresentações acontecem às quintas, sextas e sábados, às 20h, e aos domingos, às 19h, e os ingressos podem ser reservados de graça, semanalmente, por meio da plataforma Meu SESI, todas as segundas-feiras, a partir das 8h.

Visto por milhares de pessoas, o espetáculo estreou em 2018 no CCBB São Paulo, no contexto das comemorações aos 110 anos de Carmen Miranda. Desde então, teve várias temporadas na capital paulista e uma temporada na cidade do Rio de Janeiro.  

Desta vez, a atriz Amanda Acosta é substituída em cena pela premiada Laila Garin no papel da protagonista. O elenco ainda conta com a participação de   Daniela Cury, Gustavo Rezende, Luciana Ramanzini, Jonathas Joba, Júlia Sanches e Roma Oliveira, além dos músicos Maurício Maas, Betinho Sodré, Monique Salustiano e Wagner Passos, que também estão em cena no palco do Teatro do SESI-SP.

Abrindo a programação teatral do Centro Cultural Fiesp, o espetáculo celebra e homenageia a grande personalidade que foi Carmen Miranda, em memória ao seu legado enquanto artista na cultura popular brasileira. Para Débora Viana, Gerente Executiva de Cultura da instituição, “a peça é intergeracional, pois rememora e apresenta Carmen para os públicos de todas as idades, reafirmando a vocação do SESI São Paulo em difundir e democratizar o acesso à cultura, por meio de uma verve artística de excelência”.

O musical é inspirado no livro homônimo de Heloísa Seixas e Julia Romeu, vencedor do Prêmio FNLIJ de Melhor Livro de Não Ficção (2015) e tem como proposta apresentar o universo artístico da homenageada.

Portuguesa radicada no Brasil, ela se tornou um dos maiores símbolos da cultura brasileira para todo o mundo. Para contar sua história, a produção adota a estrutura, a estética e as convenções do Teatro de Revista Brasileiro, grande destaque na época, no qual Carmen Miranda também se destacou.

“Utilizamos a divisão em quadros, o reconhecimento imediato de tipos brasileiros e a musicalidade presente, colaborando diretamente com o texto falado, não como um apêndice musical, mas sim como dramaturgia cantada”, explica o diretor Kleber Montanheiro. Esse tradicional gênero popular faz parte da identidade cultural brasileira, mas, recentemente, está em processo de desaparecimento da cena teatral por falta de conhecimento, preconceito artístico e valorização de formas americanizadas e/ou industrializadas de musicais.

A encenação tem a proposta de preservar a memória sobre a pequena notável, como a cantora era conhecida, e a época em que ela fez sucesso tanto no Brasil como nos Estados Unidos, entre os anos de 1930 e 1950. Por isso, os figurinos da protagonista são inspirados nos desenhos originais das roupas usadas por Carmen Miranda; já as vestes dos demais personagens são baseadas na moda dessas décadas.

“As interpretações dos atores obedecem a prosódia de uma época, influenciada diretamente pelo modo de falar ‘aportuguesado’, o maneirismo de cantar proveniente do rádio, onde as emissões vocais traduzem um período e uma identidade específica”, revela Montanheiro.

A cenografia reproduz os principais ambientes propostos pelo livro. Esses espaços físicos são o porto do Rio de Janeiro, onde Carmen desembarca criança com seus pais; sua casa e as ruas da Cidade Maravilhosa; a loja de chapéus, onde Carmen trabalhou; o estúdio de rádio; os estúdios de Hollywood e as telas de cinema; e o céu, onde ela foi cantar em 5 de agosto de 1955. Cada cenário traz ao fundo uma palavra composta com as letras do nome da cantora em formatos grandes. Por exemplo, a palavra MAR aparece no porto, e MÃE, na casa dos pais da cantora.

Ficha Técnica

Autoras do livro e adaptação teatral: Julia Romeu e Heloísa Seixas. Direção, cenários e figurinos: Kleber Montanheiro. Desenho de luz: Marisa Bentivegna. Direção Musical: Ricardo Severo. Visagismo: Anderson Bueno
Elenco: Laila Garin (Carmen Miranda), Daniela Cury, Gustavo Rezende, Luciana Ramanzini, Jonathas Joba, Júlia Sanches e Roma Oliveira. Músicos: Maurício Maas, Betinho Sodré, Monique Salustiano e Wagner Passos. Direção de produção: Maurício Inafre. Produção: Uma Arte Produções Artísticas & Cia Da Revista. Assessoria de imprensa: Pombo Correio. Realização: SESI-SP.

Serviço

Carmen, a Grande Pequena Notável, com direção de Kleber Montanheiro
Temporada: 26 de janeiro e 12 de fevereiro, às quintas, sextas e sábados, às 20h, e aos domingos, às 19h

Teatro do SESI-SP – Avenida Paulista, 1313, Bela Vista

Ingressos: gratuitos. As reservas para as apresentações da semana são disponibilizadas pela plataforma MeuSESI (https://www.sesisp.org.br/eventos) todas as segundas-feiras, a partir das 8h.

Classificação: Livre. Recomendado para crianças a partir de 5 anos
Duração: 80 minutos
Capacidade: 456 lugares
Acessibilidade: Sala tem acessibilidade para pessoas com deficiências e mobilidade reduzida. 

IN CENA APRESENTA “NAS ALTURAS – UM MUSICAL DA BROADWAY”, PELA PRIMEIRA VEZ, NO RIO DE JANEIRO

Com direção de Victor Maia, sucesso da Broadway é estrelado por 27 alunos da Prática de Montagem da escola teatral carioca

Nas Alturas

Nas Alturas

Baseado na montagem “In the Heighst”, do famoso autor Lin-Manuel Miranda, a In Cena Escola de Artes e Produções apresenta “Nas Alturas – um musical da Broadway”, pela primeira vez, no Rio de Janeiro. Com estreia marcada para o dia 27 de janeiro, o espetáculo fica em cartaz até 11 de fevereiro, no Teatro João Caetano. Dirigido por Victor Maia, a montagem brasileira é estrelada por 27 atores que se revezam no palco, trazendo toda a magia e poder do Rap e do Hip Hop, através de uma história envolvente sobre diversidade, latinidade e sobre alcançar seus objetivos com garra e vontade.

Escrito pelo mesmo autor de “Encanto”, da Disney, e “Hamilton”, outro grande sucesso dos palcos americanos, “Nas Alturas”, tem como gancho central a imigração de latino-americanos para o norte da Ilha de Manhattan e de uma série de famílias de diferentes nacionalidades que encontram em Nova Iorque a possibilidade de uma vida melhor. “Nas Alturas fala sobre representatividade, resiliência e identidade. Fala sobre quem acorda todo dia, a fim de ser a melhor versão de si mesmo e enfrentar de cabeça erguida a vida. Soa tão brasileiro ne?”, reflete Victor Maia.

Em cena, os 27 atores, que cantam e dançam, contam a história de uma comunidade vibrante no bairro de Washington Heights, em Nova York – um lugar onde o café da bodega da esquina é leve e doce, as janelas estão sempre abertas e a brisa carrega o ritmo de três gerações de música. A partir do protagonista Usnavi, dono de uma mercearia local, a trama retrata um grupo em busca de seus sonhos. É uma comunidade à beira da mudança, cheia de esperanças, sonhos e pressões, onde as maiores lutas podem decidir quais tradições você leva com você e quais você deixa para trás.

Com direção musical de Anna Priscila Lacerda, as músicas ganharam bases originais de Caio Loureiro (que também integra o elenco) e adaptação de texto de Victor Louzada. Já as coreografias são assinadas por Clara da Costa.

SOBRE A IN CENA CASA DE ARTES E PRODUÇÕES

Um espaço para aprender, trocar experiências, se aperfeiçoar, sem deixar de se sentir em casa. Essa é a proposta da In Cena Casa de Artes e Produções – www.incena.art.br – que inaugurou sua sede em julho de 2021, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Com direção artística de Cella Bártholo e coordenação pedagógica de Gabi Levask, a In Cena oferece oficinas, práticas de montagens e mentoria, que abraçam múltiplas vertentes das artes: teatro, teatro musical, dança e música. Em uma espaçosa casa reformada de mais de 400 metros quadrados, a In Cena conta com quatro salas, um estúdio (batizado de Gonzaguinha), camarim, vestiários e um amplo terraço – um espaço de convivência a céu aberto.

FICHA TÉCNICA

  • In Cena Apresenta
  • Idealizado por Lin-Manuel Miranda
  • Libretto Quiara Alegría Huds
  • Letra e música: Lin-Manuel Miranda
  • DA OBRA “In The Heights”
  • Versão Brasileira: Victor Louzada
  • Direção Geral: Victor Maia
  • Direção Musical: Anna Priscila Lacerda
  • Direção de Movimento e Coreografias: Clara da Costa

SERVIÇO

  • Local: João Caetano
  • Endereço: Praça Tiradentes, s/n – Centro, Rio de Janeiro – RJ, 20060-070
  • Telefone: (21) 2274-9696 
  • Sessões: Sextas, às 19h e Sábados, às 18h 
  • Temporada: 27 e 28/01 e 3, 4, 10, e 11/02 
  • Elenco: 27 alunos do Curso Prática de Montagem;
  • Produção: In Cena Casa de Artes e Produções
  • Direção: Victor Maia
  • Direção Musical: Anna Priscilla Lacerda
  • Direção Coreográfica: Clara da Costa
  • Classificação: Livre
  • Entrada: R$ 25 (meia) e R$ 50 (inteira)
  • Bilheteria: Eleven Tickets
  • Gênero: Musical
  • Duração: 130 minutos
  • Capacidade: 1.139 lugares

Os sonhos de liberdade do passado emergem em “Uma Leitura dos Búzios”, espetáculo inspirado em levante popular baiano, em cartaz no Sesc Vila Mariana 

Uma Leitura dos Búzios

Uma Leitura dos Búzios – Foto de Tiago Lima

Das cantigas do sagrado ao corpo cênico que pulsa. Um mergulho na história do Brasil nos leva ao levante popular baiano conhecido como Conjuração Baiana, Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios. O movimento é inspiração para o espetáculo “Uma Leitura dos Búzios”. A estreia aconteceu em novembro de 2022 no Teatro Antunes Filho do Sesc Vila Mariana e segue em cartaz até 12 de fevereiro de 2023.

Idealizado pelo Sesc São Paulo, no âmbito do Bicentenário da Independência do Brasil em 1822, “Uma Leitura dos Búzios” traz como proposta a discussão e contextualização a respeito desse movimento popular baiano. Além disso, confronta-o com o Brasil contemporâneo, por meio de temas como a independência, a democracia e as sementes e frutos da política e economia colonialista, bem como o legado delas na formação das desigualdades sociais, especialmente sobre o racismo e a manipulação da história.

“Convocados pelos ecos da história, optamos em conceber um espetáculo teatral que envolvesse e revelasse o racismo, a diversidade, outras independências. Que trouxesse o sabido e, também, o silenciado. Para tal, convidamos um trio: o diretor Marcio Meirelles, a diretora de movimentos Cristina Castro e o diretor musical João Millet Meireles. A eles se juntaram profissionais diversos, vindos por chamamentos públicos e por convites, sempre acompanhados de nossas equipes, também diversas”, comenta Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo. 

Com texto de Mônica Santana e encenação de Marcio Meirelles, o espetáculo é uma narrativa musical, coreográfica, videográfica e textual, com a palavra em coro, na qual todas essas linguagens se entrelaçam num discurso único. A forte presença da música percussiva e eletrônica traz uma verdadeira centrífuga sonora de sons afro-brasileiros para o palco, incluindo canções compostas por Jadsa e João Milet Meirelles (que também assina a direção musical do espetáculo).

Já a movimentação física e coreográfica dos atores, dirigidas por Cristina Castro, fortalece essa percepção de coletividade, incorporando elementos da dança contemporânea, de rua e afro-brasileira, reforçadas por imagens virtuais, num vídeo criado por Rafael Grilo que compõe o cenário da montagem.

A peça traz uma abordagem disruptiva sobre as questões da desigualdade racial no Brasil, a partir de um acontecimento de 1798, em que várias camadas sociais estiveram envolvidas, mas pelo qual somente os negros e pobres foram punidos e mortos. São 30 artistas simultaneamente em cena, apresentando uma visão crítica sobre os reflexos do colonialismo e do que foi a escravização no Brasil.  

A história vista a contrapelo neste espetáculo, questiona e apresenta um recorte da participação das mulheres negras escravizadas no levante popular. As atrizes Clara Paixão, Ella Nascimento, Nara Couto e a cantora Virgínia Rodrigues, assumem o papel de narradoras e conduzem os fios dessa trama. 

De acordo com o encenador Marcio Meirelles, “Uma Leitura dos Búzios” não tem a pretensão de recontar a história do que foi o levante e sim tê-la como parte do processo de reflexão do que vivenciamos e herdamos. “É um discurso em que as personagens se fortalecem numa voz coletiva: os personagens surgem como corifeus de um grande coro. O texto conduz a um conjunto polifônico, seguindo uma perspectiva do que foi a própria conjuração. Grupos sociais plurais trouxeram suas próprias agendas para o embate e isso se expressa na encenação. O espetáculo faz ver e conhecer essa história passada, tomando posse das informações para compreender e agir sobre o presente. A forma e conteúdo da dramaturgia e da montagem anunciam e denunciam as dinâmicas de se contar e disputar a história do Brasil”, conta Marcio Meirelles.

O texto apresenta elementos épicos, traçando um olhar para a Revolta dos Búzios daquele distante século XVIII, cujas agendas de igualdade, liberdade e vida digna ainda reverberam no presente século XXI. Uma Leitura dos Búzios coloca em cena 27 atores e três músicos de diferentes regiões do Brasil, gerações e trajetórias, o que reforça a diversidade na montagem. 

Processo e construção

Em julho de 2022, o Sesc São Paulo abriu inscrições para o processo de criação de um espetáculo de teatro musical sobre a Conjuração Baiana, também conhecida como Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios. A proposta, criada pelo Sesc São Paulo, com direção de Marcio Meirelles, tem o intuito de promover uma discussão a respeito do levante histórico baiano, por meio de temas como o racismo e o apagamento da história do povo negro no Brasil, da democracia e das desigualdades sociais.

Foram 547 inscritos no total. Desses, 120 pessoas foram selecionadas e divididas em 4 grupos. Então, entre 16 e 26 de agosto de 2022, participaram de oficinas conduzidas por Alysson Bruno (percussão), Roberta Estrela D’Alva (voz e gesto), Eliseu Correa (dança urbana) e Tainara Cerqueira (dança afro). Todas as oficinas foram acompanhadas pelo diretor e equipe técnica. 

A partir dessas atividades, foram escolhidos 17 integrantes, que junto com outros 10 artistas convidados, hoje fazem parte do elenco do espetáculo. Toda a condução do processo foi do Marcio Meirelles, encenador, dramaturgo, cenógrafo e figurinista, diretor do Teatro Vila Velha de Salvador e da Cia. Teatro dos Novos (BA), com a colaboração de Cristina Castro e João Milet Meirelles. 

Compõem a equipe artística: Monica Santana, Gustavo Melo Cerqueira, Rafael Grilo, Adriana Hitomi, Grissel Piguillem. O elenco é composto por: Amaurih Oliveira, Angélica Prieto, Arara Xestal, Cainã Naira, Chica Carelli, Clara Paixão Sales, Clara Torres, David Caldas, Ella Nascimento, Emira Sophia, Igor Nascimento, Jackson Costa, Jhonnã Bao, Júlio Silvério, Loiá Fernandes, Lucas Tavlos, Lúcio Tranchesi, Marinho Gonçalves, Mario Alves, Nara Couto, Rafael Faustino, rodrigo de Odé, Sofia Tomic, Vagner Jesus, Vinícius Barros, Vinicius Bustani. Com a participação de Virgínia Rodrigues. A música ao vivo é executada por Caio Terra, Giovani Di Ganzá e Raiany Sinara. 

A musicalidade em cena

O trabalho sonoro e musical de “Uma Leitura dos Búzios” foi estabelecido desde o início do projeto com raízes e referências na tradição e na contemporaneidade da música negra brasileira e bahiense. Tem como pilares principais as músicas de santo dos candomblés Congo/Angola, Jeje e Ketu; a musicalidade dos blocos afro e a música negra contemporânea. Mas principalmente a percepção de que todas as sonoridades  presentes coabitam o mesmo tempo de agora. 

Com a participação de Virginia Rodrigues, Nara Couto e Jadsa, o espetáculo tem – em sua maioria – músicas autorais. As exceções são apenas as músicas de tradição banto trazidas por Virgínia. Alguns nomes como: o Ilê Aiyê, Olodum,  cantigas de santo que estão em formato fonográfico e trazidas pelos colaboradores, Saskia, Edgar, Speed Freaks, Black Alien, Baiana System, Taxidermia e tantos outros foram referências para a construção musical deste espetáculo. 

“É delicado o trabalho de olhar para nossa história através da música, da cena. É minucioso o trabalho de entendimento do sangue e corpos que forjaram nosso povo. Nossa condição. Nosso chão. Quem fomos e quem somos. E o que seremos? Esse momento de derramamento de sangue, de destruição completa em que vivemos, reflete o passado e o futuro possível. Esse é o espetáculo que busca a construção, a criação do sonho que já foi. Reinventa o sonho de hoje. Espera forjar uma luta ainda não totalmente entendida. As diversas camadas musicais refletem a complexidade do mundo real e seus possíveis caminhos”, contou João Milet Meirelles, diretor musical do espetáculo.  

Sobre a Conjuração Baiana

A Revolta dos Búzios, também conhecida como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates, foi um levante popular inspirado nos ideais da Revolução Francesa (1789 – 1799) e na Revolta de São Domingos, atual Haiti (1791 – 1804). O movimento político aconteceu em Salvador (BA), em 1798, e teve como estopim a crise socioeconômica que grande parte da população soteropolitana enfrentava, em contraposição à manutenção do controle da Coroa Portuguesa e prosperidade de donos de engenho e integrantes da alta burocracia da colônia. 

O levante iniciou com apoio das elites locais, insatisfeitas com o tratamento que a Coroa lhes dispensava. Elas viam no rompimento do pacto colonial uma possibilidade de aumentar os lucros, poder econômico e político. No entanto, essa parcela da população foi abandonando o movimento à medida que foi se popularizando e se radicalizando. Isso se deu pela participação de grupos, como os milicianos, artesãos e escravizados, que entraram com agendas e ideias como liberdade, igualdade e justiça, conferindo ao movimento contornos que poderiam pôr em xeque a manutenção de privilégios da elite.

A rebelião teve o envolvimento de nomes como o médico Cipriano Barata e o tenente Aguilar Pantoja, dentre outros que nunca foram devidamente investigados. Mas os principais representantes do movimento surgiram das camadas populares, especialmente da população negra. Destaca-se a atuação de: Lucas Dantas (soldado), Manuel Faustino (aprendiz de alfaiate), Luiz Gonzaga das Virgens (soldado), João de Deus (mestre alfaiate) e Luíz Pires (ourives), que foram presos, enforcados em praça pública e esquartejados – exceto o último, que escapou e nunca foi encontrado – como consequência da dura repressão do governo de então.

“Uma Leitura dos Búzios”
Temporada: 18 de novembro a 12 de fevereiro de 2023
Informações em www.sescsp.org.br/vilamariana 

Classificação indicativa: 14 anos

Duração: 110 minutos
Ingressos: R$12 (credencial plena), R$20 (meia), R$40 (inteira)
Venda de ingressos pelo portal sescsp.org.br e nas bilheterias da rede Sesc São Paulo. 

Sesc Vila Mariana | Informações 
Endereço: Rua Pelotas, 141, Vila Mariana – São Paulo 
Central de Atendimento (Piso Superior – Torre A): terça a sexta, das 9h às 20h30; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (obs.: atendimento mediante agendamento).   
Bilheteria: terça a sexta, das 9h às 20h30; sábado, das 10h às 18h e das 20h às 21h; domingos e feriados, das 10h às 18h. 
Estacionamento: R$ 5,50 a primeira hora + R $2,00 a hora adicional (credencial Plena: trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes). R$12 a primeira hora + R $3,00 a hora adicional (outros). 125 vagas. 
Paraciclo: gratuito (obs.: é necessário a utilização travas de seguranças). 16 vagas 
Informações: 5080-3000 

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