Eterna fantasia de Danichi Hausen Mizoguchi 

por Redação
Eterna fantasia de Danichi Hausen Mizoguchi 

O colapso de ideais e a reinvenção afetiva em um Brasil dilacerado guiam o segundo romance de Danichi Hausen Mizoguchi, Eterna fantasia (Dublinense). Depois do premiado Cinco ou seis dias — vencedor do Prêmio Ufes e finalista do Prêmio Rio de Literatura —, o autor gaúcho radicado no Rio retorna à ficção com uma obra que mistura desencanto político, pulsão de vida e o desejo como resistência. E traz um olhar afiado sobre o Brasil contemporâneo, o fim de uma era e o ímpeto do desejo como rota de fuga de um mundo que desmorona.

Entre esquinas, bares, restaurantes e rolés pela geografia urbana, Danichi retrata as desilusões de uma geração diante do conturbado cenário político brasileiro dos anos 2010, marcado por rupturas, fake news, polarização ideológica, lacrações, cancelamentos, pensamentos binários e a ascensão do conservadorismo.

“Danichi escreve como quem cospe verdades: sobre a militância que cansa, os amores que não salvam, as viagens que não curam. Sobre o luto político transformado em ressaca. Sobre um país que parece andar em círculos — e uma mulher que tenta não afundar com ele.”  — MANUELA D’ÁVILA

A guinada à direita pós-manifestações de 2013 é o ponto de inflexão; a seguir vieram uma série de desdobramentos determinantes para a história recente do país — Lava Jato, processo de impeachment, destituição de Dilma Rousseff, assassinato de Marielle, prisão de Lula e eleição de Bolsonaro. Os eventos se desenrolam como no mito de Pandora, cujas consequências transformam a todos.

Diante do cenário disruptivo, o autor desvia a lupa da narrativa para investigar os embates e contradições do campo progressista do país e sua própria implosão, que avança com a internalização do discurso e do método que deveriam por princípio combater. Com seus ideais à prova, a obra questiona “como continuar vivendo depois que os sonhos desabam”, como destaca Manuela D’Ávila no texto de orelha do livro.

“Danichi tem uma energia brilhante!” — CAETANO VELOSO 

É a partir do impasse coletivo, marcado por rasteiras e fogo amigo, com verniz de acolhimento, que a micropolítica do corpo assume um papel central na trama: um elemento revolucionário e sublinhado na epígrafe de Silvina Ocampo: “Escrevo para não esquecer o que é mais importante no mundo: a amizade e o amor.”

“A história busca cartografar uma espécie de política afetiva entristecida que se alastrou e se tornou majoritária em nosso país em meados da década passada. Todavia, quer acompanhar também as possibilidades de enfrentamento à tristeza e ao assombro, e é um pouco nesse vetor duplo que a trama das personagens se constrói, sem a intenção de resolver ou sintetizar a contradição, mas, mais precisamente, querendo habitá-la.”, aponta o autor.

Imagens sensoriais guiam a narrativa

Protagonista do romance, Maria é uma mulher em seus trinta e tantos anos que, em meio às turbulências da política nacional e aos impasses cotidianos de seu trabalho numa ONG pró-Direitos Humanos, assiste à erosão de seus ideais. Tudo à sua volta parece ruir: vínculos, estruturas, certezas. É nesse contexto desencantado que surge Sofia, bem mais jovem que ela; e com Sofia, a possibilidade de um recomeço. Um reencontro com a ternura, a confiança e a força revigorante do desejo.

Com uma prosa ágil e oral, Danichi descreve as andanças da personagem por Cuba, Uruguai e, sobretudo, pelo Rio de Janeiro, desfiando com sensorialidade aguçada lugares, sabores, trilhas sonoras e o prazer do sexo. Maria se desloca pelo Centro, Lapa, Botafogo, Humaitá, Santa Teresa. Bebe cerveja, fuma um baseado, beija na boca, dança até o amanhecer, luta pela preservação de seus princípios e se entrega à paixão por Sofia.

Os diálogos, em fluxo contínuo, são cortantes. O debacle político se desdobra em ressaca, o ideal, em mesquinhez, mediocridade e luta pelo poder. Diante da encruzilhada do país e de si, Maria é cercada por crises, mas segue adiante, de alguma forma, sem esmorecer.

 “(…) é assim que se lida com essa galera ressentida, quanto mais a gente afirma a alegria da vida menos ficamos à mercê, tudo que elas querem é espalhar tristeza, e o fascismo é isso, né?”, reflete a protagonista.

“O romance precisava ter uma estrutura veloz — no limite vertiginosa e sufocante. A oralidade, o discurso indireto livre, o ritmo dado muito mais por vírgulas do que por pontos finais e o fraseado tortuoso do livro são modos de expressar esteticamente o assombro destes últimos anos.”, conclui Danichi.

O autor:

DANICHI HAUSEN MIZOGUCHI é gaúcho de Porto Alegre. Mora no Rio de Janeiro desde 2005. É graduado em Psicologia pela UFRGS, mestre e doutor em Psicologia pela UFF, pós-doutor em Políticas Públicas e Formação Humana pela UERJ. É autor de livros acadêmicos premiados, além de ter artigos e ensaios publicados em diversos países. É compositor, entre outras canções, de Cartilagem, finalista do Festival de Música de Porto Alegre. Seu primeiro romance, Cinco ou seis dias, recebeu menção honrosa no prêmio da União Brasileira de Escritores, foi finalista do prêmio Rio de Literatura e vencedor do prêmio UFES. Eterna fantasia é seu segundo romance.

Lançamento da Coleção de Inverno da Editora Dublinense

Desde 2024, a Dublinense tem inovado na forma de apresentar novos livros ao público, agrupando seus lançamentos por coleções, uma para cada estação do ano. Em cada uma delas, é possível comprar as obras individualmente ou todas juntas em um kit especial, com desconto, frete grátis e brinde exclusivo. Assim, a editora aposta em promover um recorte mais amplo de suas novidades, misturando estilos e gêneros, além de juntar obras aguardadas com títulos inesperados – instigando seus leitores a embarcarem em leituras surpreendentes, singulares e que refletem o nosso tempo.

Ficha Técnica

  • Título: Eterna fantasia
  • Autor: Danichi Hausen Mizoguchi
  • Editora: Dublinense
  • Gênero: Literatura brasileira/Romance
  • Número de páginas: 224
  • Preço livro físico: R$ 69,90
  • ISBN: 978-65-5553-185-5
  • Preço Ebook: R$ 49,90
  • ISBN: 978-85-8311-154-2
  • Lançamento: 13 de julho de 2025

Pré-venda solidária até 13 de julho: 25% do valor recebido com as vendas em dublinense.com.br será destinado ao Quilombo Ferreira Diniz, coletivo urbano carioca conhecido pelas ações sociais e culturais, rodas de samba e capoeira, além da lendária feijoada da Tia Cida.

Eventos de lançamento:

Rio de Janeiro: Quilombo Ferreira Diniz (R. Cândido Mendes, 320 – Glória), 09 de agosto, sábado, às 13h

*25% da renda arrecadada com a venda dos livros será revertida para o quilombo.

São Paulo: Sol y Sombra (R. Santa Madalena, 250 – Bela Vista), 30 de agosto, sábado, às 15h

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