Em 1976, Jorge Ben alçava um novo voo: o alquimista deixava seu cultuado violão de lado para se dedicar à guitarra em seu 14º LP de estúdio, “África Brasil”. As histórias e a vida de Jorge até o ano de lançamento do álbum, que são experiências permeadas de mistério, estão no livro “África Brasil: Um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver” (Edições Sesc), de Kamille Viola, que, dois anos após sua publicação digital, terá a sua aguardada versão impressa lançada na Flip.
Durante a programação paralela do evento literário, na Casa Edições Sesc São Paulo, no dia 25 de novembro, Kamille Viola participa de uma mesa às 11h, ao lado do baixista Dadi, outra lenda da música brasileira: o músico tocou na banda Admiral Jorge V, que acompanhava Jorge, participou da gravação do álbum “África Brasil” e também fundou os grupos Novos Baianos e A Cor do Som, além de ter inspirado Caetano Veloso a compor “O Leãozinho”.
Finalista do Prêmio Jabuti em 2021, na categoria Arte – quando estava disponível apenas na versão e-book –, o livro é o que mais se aproxima de uma biografia do artista até o momento, trazendo descobertas da autora sobre Jorge, como sua verdadeira idade e seu verdadeiro sobrenome – duas informações que ele manteve em segredo durante quase seis décadas de carreira -, além de episódios marcantes de sua trajetória que caíram no esquecimento. Nessa jornada para contar a vida e obra desse gênio da MPB até chegar ao último disco de sua “trilogia mística” – da qual fazem parte “A tábua de esmeralda” (1974) e “Solta o pavão” (1975) –, Kamille Viola conseguiu a façanha de entrevistar Jorge, o que ao longo dos anos vem se tornando uma tarefa cada vez mais rara para a imprensa.
A publicação também conta com depoimentos de grandes artistas influenciados por Ben, como Gilberto Gil, Mano Brown, Marcelo D2, Lúcio Maia, Jorge Du Peixe e BNegão; os integrantes ainda vivos da banda que o acompanhava na época, a Admiral Jorge V; o produtor de “África Brasil”, Marco Mazzola, e o craque de futebol Zico, homenageado na faixa “Camisa 10 da Gávea, além de mostrar como o tropicalismo, o rap nacional e o mangue beat, três das mais importantes expressões musicais do nosso país, beberam na fonte do alquimista.
O livro aborda ainda a importância do artista para a construção de um imaginário negro positivo no país. Jorge exaltava a cultura e a beleza negras, se autodeclarava negro e escrevia suas canções a partir desse ponto de vista, em um período em que o mito da democracia racial imperava no país. O trabalho busca desconstruir os estereótipos sobre pessoas negras que foram associados ao artista ao longo de sua carreira, inclusive quando sua música era elogiada, além de mostrar a importância da temática da negritude em sua obra. Em entrevista à autora, Mano Brown, líder do grupo Racionais MC’s e fã ardoroso de Jorge Ben, resume a importância do artista em sua trajetória:
“A gente mora num país negro onde a maioria dos artistas (de sucesso) era branco. O Jorge Ben sempre foi inspirador. Em vários momentos. Nem sempre só para poder trabalhar, só pra usar (como sample) ou cantar. Para ouvir e para viver, que é a melhor coisa. Quando eu passei a fazer música, passou a fazer parte da minha música também. Isso aí ia ser óbvio. Influência direta. Porque a gente escreve rap em português. Não tivemos aquela escola, a gente não teve acesso ao que os negros americanos falavam, a gente não sabe o que eles falavam. A gente imagina o que eles falavam. Mas o Jorge Ben, eu sei exatamente do que ele tá falando”, conta ele na obra.
A autora:
Kamille Viola é jornalista, pesquisadora musical e autora do livro “África Brasil: Um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver” (Edições Sesc São Paulo), finalista do Prêmio Jabuti em 2021. Também é uma das autoras de “1979 – O Ano que Ressignificou a MPB”, (Garota FM Books, 2022) , “De tudo se faz canção – 50 anos do clube da esquina” (Garota FM Books, no prelo) e “Os 500 Maiores Álbuns Brasileiros de Todos os Tempos” (Jambô Editora, no prelo). Atualmente, é repórter da revista Veja Rio. Tem passagens e colaborações por veículos como UOL, O Estado de S. Paulo, Trip, O Dia, O Globo, Folha de S. Paulo, Billboard Brasil, Bizz, Marie Claire, Canal Futura e News Deeply, entre outros. Ganhou o Prêmio Imprensa Embratel em 2009 e o Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2014.
SERVIÇO:
- Lançamento livro África Brasil: Um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver
- Bate-papo com Kamille Viola e Dadi
- Dia 25 de novembro, sexta-feira, às 11h
- Flip (Festa Literária Internacional de Paraty)
- Casa Edições Sesc
- Rua Marechal Santos Dias, 43
- (Antiga Rua da Matriz)
- Centro Histórico de Paraty, Rio de Janeiro – Entrada gratuita