O poder em todas as suas formas, o jogo da corrupção política, protocolos de saúde estapafúrdios, o absurdo da decadência humana, a falta de empatia, o massacre aos direitos humanos. Todas essas características juntas nos são familiares nos dias de hoje, apesar de parecerem distópicas. É justamente esse cenário distópico o da peça “O Alienista”, sucesso de público e crítica, fará apenas duas apresentações na Arena Jovelina Pérola Negra, na Pavuna. Com texto de Gustavo Paso e Celso Taddei, livremente inspirado no conto homônimo do imortal Machado de Assis, a nova montagem da CiaTeatro Epigenia, que comemora 23 anos de fundação, leva para o palco um elenco de 14 atores/cantores.
A CiaTeatro Epigenia possui um sentido humanista muito claro já no nome. Alguns aspectos notáveis do trabalho do grupo merecem destaque. Eles trabalham com uma ideia de repertório muito bem estruturada. Há, nas suas escolhas e propostas, um conceito de teatro e a busca de uma visão nítida do seu público e da sociedade. Em paralelo, a Epigenia investe na especialização permanente dos atores e na formação de plateia. Se o repertório encenado pela equipe é olhado com atenção, percebe-se claramente o contorno desta lógica, a favor da transformação humana do humano.
Tania Brandão – Crítica teatral
“Trazer a inspiração da obra de Machado de Assis é trazer a possibilidade de ser para além de nossos meios e tempo. Um homem negro, filho de escravos alforriados, epilético, que mal pode estudar ate sua adolescência, viveu dentro de um pensamento europeu de que somos fruto do nosso meio! Um determinismo limitante que ele rompeu a ponto de ter sido um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras! É um dos principais nomes de nossa literatura e rompeu limites territoriais. Machado é um exemplo para o mundo atual, pois mostrou o que podia realizar mesmo com tanta adversidade. Esperamos poder inspirar esse pulsar, essa vitalidade e essa fé de que todos temos essa potência de romper o que nos determinam!” – destaca Luciana Favero – atriz e produtora do espetáculo.
Qualquer semelhança é uma infeliz coincidência na versão de “O Alienista” da companhia teatral que chega à maioridade colecionando críticas positivas e ampliando sempre seu público fiel com espetáculos ousados, instigantes e de qualidades textual, dramatúrgica e cênica. Com essas marcas e, mais uma vez, sob a direção de Gustavo Paso, um dos mais premiados diretores do teatro brasileiro na atualidade.
“Conscientes de que está muito mais difícil criar uma analogia por meio de um mundo distópico com nossa vida, nos apoiamos no absurdo mundo da patafísica para entender a realidade, ou pelo menos para que o teatro possa, mais uma vez, servir de trampolim para espelhar essa sociedade destruída e desalmada que alguns insistem em tentar consolidar”, explica Gustavo Paso – diretor, dramaturgo e fundador da Cia Epigenia.
A Patafísica como ins-piração
A patafísica é uma crítica à lógica racional. Examina as leis que regem as exceções, nas palavras do romancista e dramaturgo francês Alfred Jarry é “a ciência das soluções imaginárias”. A patafísica de Jarry é algo além da metafísica e além da física. Pode também ser vista como paródia: uma celebração bem-humorada do paradoxo, que opera, de modo cômico, a desconstrução do real e sua reconstrução no absurdo. A patafísica explora “elementos dissonantes” de modo a criar não uma síntese, mas uma situação em que as incongruências podem coexistir. Atrás de toda a lógica, esconde-se o monstruoso.
A peça se aprofunda na pesquisa do Dr. Simão Bacamarte, médico renomado e de currículo invejável (mesmo que ninguém entenda as especialidades do doutor na então metrópole imaginária), acerca da loucura. Ele cria um lugar para internar os loucos da cidade sob seus próprios critérios do que é ser louco ou não. Esses critérios mudam conforme o tempo e os interesses – sejam por poder, por dinheiro, por reconhecimento – e geram revolta, golpes, até a falência social e financeira da então Metrópole, que se transforma em Distrito e, em seguida, em um simples Vilarejo decadente e subserviente ao Império, nos idos anos do século XIX.
Parceria educacional
No dia 21 de junho, Machado de Assis completaria mais um ano de vida e a CiaTeatro Epigenia vai disponibilizar a gravação do espetáculo em alta resolução. Esta produção audiovisual estará disponível para estudantes do 9º ano do ensino fundamental através de um link, por meio de uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação. Ao todo, são 361 Escolas na Rede Pública de Ensino da Cidade do Rio de Janeiro que possuem o nono ano escolar, totalizando 41.222 alunos elegíveis a assistir o espetáculo.
Pensando na democratização do acesso ao teatro, a CiaTeatro também disponibiliza, semanalmente, 452 ingressos gratuitos a grupos sociais, educadores e escolas públicas.
A Cia realizará um ciclo gratuito de leituras dramatizadas das obras de Machado de Assis em 10 bibliotecas e centros culturais do Rio de Janeiro.
SERVIÇOS:
Arena Carioca Jovelina Pérola Negra – Praça Ênio, S/n – Pavuna
Apresentações: dias 05 a 06 de agosto
Sábado 18:30h e Domingo: 18:00h
Valores: R$ 20(inteira); R$ 10 (meia) – Todo Carioca paga meia-entrada na Arena!
Duração: 100 minutos
Classificação etária: 14 anos