“Pérsia” – Grupo Sobrevento volta ao Rio com montagem baseada no Teatro de Objetos

Dramaturgia original, de Sandra Vargas, a partir de depoimentos de iranianos, aborda poeticamente questões de pertencimento, sonho de liberdade e vida sob o prisma da mudança de cultura; montagem foi indicada ao Prêmio Shell de Melhor Cenografia, de Luiz André Cherubini

por Jorge Rodrigues
Grupo Sobrevento - Espetáculo Pérsia

Referência dentro e fora do Brasil pela reconhecida trajetória de quase 38 anos em Teatro de Animação, o Grupo Sobrevento estreia a peça adulta Pérsia, dirigida por Sandra Vargas e Luiz André Cherubini, no palco do Teatro de Arena do Sesc Copacabana, dia 28 de março, às 20h. A temporada é de quatro semanas, de quinta-feira a domingo, até 21 de abril. Nessa nova incursão pelo Teatro de Objetos, gênero raro nos palcos do Rio, o Grupo Sobrevento convida a plateia a contemplar a condição humana através das histórias de pessoas que migraram do Irã para o Brasil atrás de uma sociedade ancorada na democracia. Democracia essa que, no próprio Brasil, viveu uma década de sobressaltos. Desses pontos de contato entre culturas aparentemente tão diversas é elaborada a narrativa de Pérsia. Depoimentos do próprio elenco também inspiram a dramaturgia desenvolvida por Sandra Vargas, em que sonhos, medos, dilemas de pertencimento e liberdade estão na encenação repleta de música, poesia e encantamento.

Pérsia recebeu a indicação ao Prêmio Shell de Melhor Cenografia e foi eleita uma das melhores encenações de 2022 pelo jornal Folha de São Paulo. Desde 2016 sem se apresentar no Rio, onde foi fundado, o Grupo Sobrevento está há 25 anos sediado em São Paulo. A temporada no Rio é viabilizada pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar 2022/2023. Dias 5, 6, 12, 13 e 19 de abril, o Grupo Sobrevento ministra a Oficina de Introdução ao Teatro de Objetos na Sala Multiuso do Sesc Copacabana, das 14h às 18h. Inscrições e informações pelo email info@sobrevento.com.br.

“O que leva o Sobrevento a montar Pérsia é o avanço do fundamentalismo e a consolidação de um discurso cada vez mais conservador no Brasil, nosso próprio país, provocando uma consistente polarização que fragmentou a sociedade. A dor de ter que deixar a própria terra pelo desejo de alcançar condições mínimas de existência e, se possível, uma vida livre, digna e feliz, conduz o espetáculo”, define Sandra Vargas. Sandra e Luiz André Cherubini fundaram o Sobrevento no Rio, mas há 25 anos a sede do Grupo é em São Paulo.

A Oficina de Introdução ao Teatro de Objetos será coordenada por Sandra Vargas e tem como público-alvo marionetistas, atores, dançarinos, artistas visuais, cineastas, videomakers, professores e interessados em Teatro, nesta ordem. Sandra Vargas apresentará os princípios básicos do Teatro de Objetos buscando caminhos que permitam ao participante dar uma função poética ao objeto sem transformar sua natureza. Por meio de improvisações, e valendo-se do uso de metáforas, figuras de linguagens e associações de ideias, o aluno poderá descobrir as possibilidades do Teatro de Objetos e experimentar a construção de uma dramaturgia pessoal.

Em Pérsia as linguagens visual e sonora ganham destaque, desde os figurinos de João Pimenta até o cenário minimalista de Luiz André Cherubini, passando pela utilização de instrumentos típicos do Irã – como setar, tambur, sorna e dozaleh (os atores fizeram preparação especialmente para tocar em cena) -, além da  viola brasileira, contando ainda, com a iluminação do premiado Renato Machado. O elenco é formado por Sandra Vargas, Luiz André Cherubini, Maurício Santana, Liana Yuri, Daniel Viana e Thaís Pimpão, que realizam todas as ações em cena. No cenário, além de uma árvore seca, em torno da qual os personagens se encontram, os diálogos contêm temas distintos e comuns a todos nós, como medos, sonhos, angústias pelo desconhecido. A narrativa é formada por diálogos em texto e musicados.

As histórias de vida são apresentadas sob filtros da delicadeza que emolduram cada detalhe das cenas, permeadas por 24 casas de passarinhos. A ação se passa em um cenário árido – tanto pode ser um deserto do Oriente Médio como um sertão para nós aqui do Brasil. Afinal, apenas uma árvore seca é o suficiente para traçar territórios imaginários. O espetáculo foi criado a partir do estudo de diferentes manifestações culturais, realizado com o apoio de artistas, pesquisadores e colaboradores iranianos. Histórias, depoimentos, músicas e poemas do Brasil e do Irã estão em todo a dramaturgia.

Em 2010, o Sobrevento esteve em Teerã como convidado do Fajr Festival (Festival Liberdade), um dos grandes festivais de Teatro do mundo. Naquela ocasião, conheceu a vitalidade do Teatro naquele país, com uma Cultura milenar de origem persa, que brilha em cada canto da cidade: no hotel que tem nome de poeta, na poesia que está na boca das pessoas, nos milhares de jovens na praça diante do centro cultural, nas longas filas para os teatros, na produção de conhecimento histórico e artístico dos já antigos cursos de Teatro e de Teatro de Bonecos (e de Música internacional e de Música tradicional iraniana) da importante Universidade de Teerã, na alma artística, culta, esperançosa e ansiosa por liberdade de todo um povo.

“Pérsia reflete a busca das conexões entre as Culturas e História persas e brasileira, por meio de uma expressão de potência visual, dramática, musical e poética. É uma emoção diferente voltar a fazer uma temporada no Rio, nossa primeira casa, nosso berço, nossa terra natal. Ainda mais, ocupando o Teatro de Arena do Sesc Copacabana, porque a peça foi idealizada justamente para ser encenada em uma arena. A linguagem do Teatro de Objetos dá unidade à forma como contamos a história. Ao misturar depoimentos do elenco e de imigrantes iranianos, a dramaturgia de Sandra Vargas revela anseios comuns de liberdade, de igualdade, de comunhão, de alegria, e propõe uma reflexão sobre o sofrimento que o autoritarismo e o fundamentalismo podem provocar na vida das pessoas, bem como sobre como a Arte e a Cultura podem ser um caminho de resistência”, analisa Luiz André Cherubini.

Dos mais longevos, premiados e viajados do país, o Grupo Sobrevento apresenta ao público uma história em que o indivíduo é o ponto de partida para abordar questões como as emoções diante dos laços de pertencimento e da dor provocada pela exclusão, da guerra, do totalitarismo, do fundamentalismo religioso, temas particularmente atuais e aflitivos, que emergem em todo o planeta. Estes são alguns pontos de contato entre Brasil e Irã, bem como os efeitos do pensamento conservador na sociedade dos dois países, que formam Pérsia.

“Pérsia é o retrato do Brasil recente, quando vimos, estarrecidos, a censura voltar a mostrar as suas garras, em que os artistas foram atacados, em que o dirigismo, a arbitrariedade e a intolerância tornaram-se protagonistas. O espelho iraniano lembra que uma Cultura de raízes profundas sobrevive, mesmo no terreno mais árido, que a desertificação não é capaz de exterminar a humanidade de um povo, que a guerra não arrasa a história de uma civilização, que decretos restringem gestos, mas não têm poder sobre consciências. A humanidade em nós teima em resistir a qualquer ataque. E aos artistas, em situações avessas, cabem a persistência e a resistência, na defesa da liberdade da qual a Arte é guardiã”, destaca Sandra Vargas.

Sobrevento – Histórico

O Grupo Sobrevento transferiu-se do Rio para São Paulo em função da quantidade de oportunidades que a cidade proporcionava. Lá, fundou o Espaço Sobrevento, única sala da cidade dedicada especialmente ao Teatro de Animação. É um dos grupos teatrais mais destacados e atuantes do país. Desde sua fundação, em 1986, realizou mais de 6 mil apresentações – “Que é como se tivéssemos subido ao palco dia sim, dia não, por mais de 30 anos”, diz o diretor Luiz André Cherubini –, visitou em torno de 200 cidades do Brasil, outras 40 da Espanha e esteve em mais de 20 países de quatro continentes, representando o Brasil em lugares tão distantes quanto Irã, China e Estônia, e outros tão próximos como Argentina, Chile e Colômbia. “Criamos cerca de 30 espetáculos. Mantemos 20 em repertório. Aqui no Rio, ajudamos a criar o 1º Festival Rio Cena Contemporânea, além de termos realizado muitos festivais internacionais de teatro de bonecos e de animação. Também dirigimos o Teatro de Fantoches e Marionetes Carlos Werneck, do Aterro do Flamengo. O Sobrevento também esteve à frente ainda da coordenação de Teatro de Animação da Prefeitura do Rio de Janeiro”. Sandra Vargas, também atriz e fundadora do Sobrevento, foi curadora do FITO – Festival Internacional de Teatro de Objetos e Luiz Andre Cherubini, do SESI Bonecos do Mundo. O retorno à trajetória do Grupo Sobrevento vem do público e também em forma de prêmios e indicações constantes, colocando os seus espetáculos sempre entre os mais importantes a cada temporada. 

FICHA TÉCNICA

Criação: Grupo Sobrevento | Direção: Sandra Vargas e Luiz André Cherubini | Dramaturgia: Sandra Vargas (a partir de depoimentos recolhidos junto a imigrantes iranianos e aos atores) | Elenco: Sandra Vargas, Luiz André Cherubini, Maurício Santana, Liana Yuri, Daniel Viana e Thaís Pimpão | Iluminação: Renato Machado | Figurino: João Pimenta | Cenografia: Luiz André Cherubini e Mandy | Cenotecnia: Agnaldo Souza e Mandy | Adereços: Sueli Andrade e Liana Yuri | Letras e Adaptação das canções: Luiz André Cherubini | Direção Musical: William Guedes | Supervisão Música Persa: Arash Azadeh | Orientação Tambur: Elnaz Mafakheri | Orientação de Sorna e Dozaleh: Ehsan Abdipour | Orientação de Viola: Márcio de Camillo | Estagiários: Leandro Triviño e Rafael Carmo | Técnico de Som: Agnaldo Souza | Técnico de Iluminação: Marcelo Amaral | Programação visual: Ato Gráfico | Assessoria de Imprensa: Mônica Riani e George Berkeley Patiño

Serviço:

Pérsia – Com o Grupo Sobrevento – Dramaturgia: Sandra Vargas – Direção Luiz André Cherubini e Sandra Vargas 

Estreia: dia 28 de março, 20h | Temporada: de 28 de março a 21 de abril, de quinta a domingo, sempre às 20h.

Duração: 60 minutos

Lotação: 280 lugares

Local: Sesc Copacabana (Teatro de Arena) | Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ | Informações: (21) 2547-0156. 

Sessões: De quinta a domingo, sempre às 20h

Ingressos: R$ 7,50 (credencial plena Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira) e gratuito (público cadastrado no Programa de Comprometimento e Gratuitade do Sesc RJ, PCG) | Bilheteria – Horário de funcionamento: Terça a sexta – de 9h às 20h | Sábados, domingos e feriados – das 14h às 20h.

Classificação etária: Livre | Duração: 60 minutos 

Dias 5, 6, 12, 13 e 19 de abril, o Grupo Sobrevento ministra oficina gratuita de introdução ao teatro de objetos na Sala Multiuso do Sesc Copacabana, das 14h às 18h. Inscrições e informações pelo email info@sobrevento.com.br.

 

Relacionamento com a imprensa

Mônica Riani 21 9 9698.5575 | monicariani@gmail.com  

George Berkeley Patiño 21 9 8758-7282

 

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