As dores e os dilemas de um homem que precisou ocultar a própria sexualidade por décadas, para sobreviver em meio a uma sociedade provinciana e heteronormativa, são levadas para o palco em “A Palavra que Resta”, versão para o teatro do premiado livro do escritor cearense Stênio Gardel — vencedor do National Book Awards na categoria literatura traduzida —, que estreia nova temporada no Rio, no dia 7 de março, após sucesso em outubro e novembro no Teatro Correios Léa Garcia. Sob a direção de Daniel Herz, a peça, que tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, através da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura e Governo Federal, está indicada ao 19º Prêmio APTR nas categorias Direção (Daniel Herz) e Atriz em Papel Coadjuvante (Valéria Barcellos).
O potente romance de estreia de Gardel percorre os conflitos familiares do protagonista, Raimundo Gaudêncio de Freitas, e as relações que ele estabeleceu depois de fugir de casa e cair na estrada, bem como as catarses e ressignificações impostas pelo destino. A encenação de Herz, que também assina a adaptação, inova na condução das vozes dos personagens: os seis atores em cena se revezam em todos os papéis. O espetáculo da Cia Atores de Laura, que celebra 32 anos de existência, traz no elenco Ana Paula Secco, Charles Fricks, Leandro Castilho, Paulo Hamilton e Verônica Reis — e a atriz convidada Valéria Barcellos.
“Somos todos Raimundo. Tem uma roupa base do Raimundo, que é um macacão — entre os figurinos lindos que o Wanderley (Gomes) criou. Temos aqui uma pluralidade. Quando trabalhei na adaptação já fiz as divisões todas. Existe uma unidade em todos que o interpretam: a angústia. Raimundo experimenta a vida para poder adquirir coragem para vivê-la. Ele tem dificuldade de reconhecer o seu desejo, esconde a homossexualidade, tenta gostar de mulher, finge, trabalha com caminhoneiros, procura se proteger em meio a uma sociedade heteronormativa”, conta Daniel Herz. “A forma com a qual Stênio conta essa história e a descreve com suas palavras e metáforas é tocante, profunda. Há uma beleza na tragicidade”, observa o ator Paulo Hamilton.
Nascido no sertão nordestino, Raimundo trabalha desde cedo na roça e não teve a oportunidade de ir à escola. Durante a fase de descoberta do sexo, na juventude, apaixona-se pelo melhor amigo, Cícero. Após serem flagrados juntos, são demonizados e separados pelas duas famílias. “Raimundo é chicoteado pelo pai e a mãe faz ainda pior: o coloca para fora de casa, contrariando o senso comum de que as mães são mais acolhedoras. Como somos uma companhia, e teatro é brincar de ser outro, o nosso rodízio exige uma atividade cerebral do público, até porque a história vai e volta no tempo”, continua Herz. “Desta forma, o revezamento ganha também uma agilidade que a trama precisa ter em cena”, acrescenta a atriz Verônica Reis.
Para o ator Charles Fricks, essa dinâmica cênica proposta pelo diretor humaniza a todos. “Podemos ser tanto o que oprime como o que é oprimido. Podemos ser a mão que afaga como também a que chicoteia, em nome de Deus. É importante contar histórias como essa: as pessoas precisam saber que não estão sozinhas no mundo”, avalia Fricks.
Nesse caminho de pedras, Raimundo conhece o acolhimento justamente ao desenvolver uma amizade com uma mulher trans, vivida por Valéria Barcellos, e também por Verônica Reis e Ana Paula Secco. “Ele é transfóbico inicialmente, mas se permite se aproximar dessa pessoa. Tenho muito em comum com a Susany: já fui agredida assim como ela – inclusive. Mas nunca lancei mão da prostituição”, conta Valéria. “Acredito que a mensagem que fica é: não tenha medo de se aproximar, permita-se olhar para o outro, mas não por cima do muro. Convide-o para tomar um café. Saia dessa superficialidade”, propõe.
Ana Paula Secco festeja o reencontro da Cia Atores de Laura, que há 6 anos não se encontrava completamente em cena, nesta montagem cuja direção de produção é uma parceria da CultConsult Produções com a Escudero Produções. “A experiência de estarmos contando essa história está sendo muito boa. A adaptação do Daniel Herz ficou muito fiel ao livro. Sinto que a peça é, no fundo, uma história de família e, por isso, nos faz passearmos pelas nossas próprias origens”, diz.
Depois que são defenestrados e separados na trama, Cícero desaparece, deixando apenas uma carta a Raimundo, que era analfabeto. Uma vez expulso de casa pela mãe, ele passa mais de 50 anos sem saber ler ou escrever. Aos 71 anos, resolve ser alfabetizado para poder saber o que, enfim, o seu amado do passado havia lhe escrito.
“Infelizmente, ainda vivemos em meio a uma sociedade homofóbica e racista. O que mais me encantou nesta obra do Stênio é que ela fala de pessoas à margem da sociedade, da ideia de que a diferença produz o medo que, por sua vez, acaba levando ao ódio. Fiquei muito arrebatado ao ler o livro. Se o espetáculo mostrar quanta dor desnecessária a gente produz na sociedade, se a gente tivesse mais empatia para lidar com o outro, já valeu”, torce o diretor Daniel Herz.
Ficha técnica
Texto original: Stênio Gardel
Adaptação e direção: Daniel Herz
Com: Ana Paula Secco, Charles Fricks, Leandro Castilho, Paulo Hamilton, Valéria Barcellos e Verônica Reis
Cenário e figurinos: Wanderley Gomes
Iluminação: Aurélio de Simoni
Trilha sonora: Leandro Castilho
Programação visual: Luciano Cian
Direção de Produção: CultConsult Produções e Escudero Produções
Produção executiva: Clarah Borges
Realização: Cia Atores de Laura
Assessoria de imprensa: Dobbs Scarpa
Serviço
Teatro Laura Alvim. Av. Vieira Souto 176, Ipanema.
De 7 de março a 30 de março.
Sexta e sabado, às 20h. Domingo, às 19h. 14 anos. 100 min.
Ingressos: R$ 60,00 (inteira) / R$ 30,00 (meia)
Marco Luque com o novo show “É Disso que Eu Tô Falando”, com abertura de Tatá Mendonça em “Cega na Comédia”
No Festival Humor Contra-Ataca – Vol. 2 no Qualistage
Marco Luque
Marco Luque retorna aos palcos com releitura de seus personagens icônicos em um SHOW COMPLETAMENTE NOVO!
Após 3 anos de estrada com o espetáculo “Dilatados”, o humorista Marco Luque estreia seu novo show “É disso que eu tô falando” que promete surpreender seu público com uma narrativa inusitada para seus personagens mais amados.
Com textos inéditos, Luque revive quatro figuras inesquecíveis – Jackson Faive, Mustafary, Mary Help e Silas Simplesmente.
Cada um dos personagens ganha voz com novas histórias e situações hilárias que, juntas, formam um ato final de arrancar gargalhadas do público do
começo ao fim, mostrando a versatilidade e o talento de Marco Luque para encantar plateias de todas as idades. Jackson Faive, o motoboy paulistano, volta com toda sua irreverência e gírias típicas para contar suas aventuras urbanas mais recentes. Silas Simplesmente, o taxista, traz reflexões cômicas sobre seus casamentos malsucedidos e o dia a dia no trânsito. Mary Help, a diarista carismática e desastrada, promete momentos de descontração com seus causos de trabalho e conselhos imperdíveis ao público feminino. Já Mustafary, o rastafari pseudo-ambientalista chega com suas novas filosofias, no mínimo contraditórias, sobre as soluções que ele pensa ter encontrado para a resolução de todos os problemas do nosso planeta.
Com criação e direção de Marco Luque e Guilherme Rocha, “É disso que eu tô falando” é um convite para o público rir e se emocionar com esses personagens que são a cara do cotidiano brasileiro.
Aviso Importante: este show será gravado e fotografado para futuras divulgações. Ao participar, você poderá ser filmado e fotografado durante o show. Caso tenha alguma dúvida, entre em contato com a produção.
Abertura de Tatá Mendonça,é a cega mais visionária da comédia. Ela é exemplo de como lidar de forma leve com as adversidades da vida e ver alegria até nos momentos mais desafiadores. Sua apresentação esclarece e diverte, ao mesmo tempo. É uma forma divertida de conscientização sobre o cotidiano de uma pessoa com deficiência visual. Comediante e influenciadora, Tatá utiliza o palco para quebrar limites e mostrar que, com leveza e dedicação, é possível conquistar novos horizontes na vida profissional e artística. Tatá, vem conquistando uma legião de seguidores ao usar o humor como forma de transformação. Desde sua estreia na comédia, em julho de 2022, ela tem se destacado nas redes sociais e em programas de TV, trazendo sua abordagem no palco de forma clara: mostrar que as diferenças não devem ser fontes de exclusão, mas de celebração.
Festival Humor Contra-Ataca – Vol. 2. As gargalhadas geradas com a primeira edição do festival Humor Contra-Ataca, no Qualistage (em 2024), ainda estão ecoando pelo Rio de Janeiro e pelo Brasil, e a maior casa de espetáculos do país, ao lado da curadora Renata Castro Barbosa investe novamente no Humor Contra-Ataca – Vol. 2. Começou e janeiro de 2025, já recebeu Rafael Infante, Os Melhores do Mundo, Fábio Rabin e Bruna Louise.
A Banda Épica na Noite das Gerais
Companhia do Latão revisita a Ditadura Militar em espetáculo que une teatro e música ao vivo
A Banda Épica na Noite das Gerais – Foto de José Maria
A Companhia do Latão, uma das mais consagradas do teatro de grupo brasileiro, chega às últimas semanas da temporada de seu novo espetáculo “A Banda Épica na NOITE DAS GERAIS”, no Teatro Raul Cortez, do Sesc 14 Bis. Ambientada no auge da repressão militar no Brasil, a montagem aborda a produção artística da contracultura, ao mesmo tempo influenciada pelas lutas revolucionárias e tensionada pelo avanço da cultura de massa. O espetáculo, com texto e direção de Sérgio Carvalho, conta com trilha sonora executada ao vivo.
No enredo, uma banda de rock alternativo enfrenta um revés em sua turnê pelo interior de Minas Gerais quando o ônibus quebra próximo ao Rio Doce, região marcada por violências históricas contra os povos originários. No encontro com pessoas da região (uma caminhoneira, a dona de um pequeno bar da região, um militar de baixa patente, o funcionário de uma grande estatal e um fazendeiro), os artistas enfrentam situações inéditas que os despertam para reflexões sobre o papel da arte face às profundas violências constitutivas do país.
Com as atuações de Helena Albergaria e Caio Horowicz, ambos integrantes do elenco do filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, o novo espetáculo da Companhia do Latão chega ao público em um momento oportuno para a cultura e a memória do Brasil. Além desse intercâmbio criativo entre a dupla de atores, a montagem dialoga não apenas com o contexto da ditadura, presente no contemporâneo cinematográfico, mas também com o marco dos 40 anos da redemocratização do país.
“A Banda Épica na NOITE DAS GERAIS” transcende o contexto histórico de 1972, ao dialogar com questões atuais do Brasil. O espetáculo dá continuidade às pesquisas da Companhia do Latão sobre as relações entre cultura e política durante a ditadura militar, iniciadas em 2010 com a montagem de Ópera dos Vivos.
“A peça [A Banda Épica] faz pontes com o passado e as possibilidades de futuro que podem despontar entre as imagens sombrias que dominam nosso horizonte. Por vias tortas, o espetáculo se filia à tradição dos musicais políticos épicos do teatro brasileiro que surge nos anos 1960.”, afirma Sérgio de Carvalho.
Neste novo espetáculo, a companhia aposta em uma narrativa arrojada, na qual teatro e música se misturam em uma atmosfera de memória e sonhos. É estruturado com base em trilha sonora executada ao vivo por uma banda composta por bateria, baixo, guitarras, teclado, violão e acordeon.
“É como se fosse um documentário falhado em que a fala dos artistas não corresponde sempre às cenas mostradas, como se o país real sempre estivesse enfumaçado ou além, confundindo-se com uma visão de faroeste.”, explica o diretor.
Sinopse
O novo espetáculo da Companhia do Latão acompanha uma banda de rock alternativo que excursiona pelo interior de Minas Gerais no ano de 1972. Quando seu ônibus quebra numa estrada perto do rio Doce, o grupo se depara com imagens realistas e fantásticas de um país violento.
Serviço
“A Banda Épica na NOITE DAS GERAIS”- Companhia do Latão
Temporada de 14 de Fevereiro a 16 de Março de 2025.
Quinta à sábado, às 20h e domingos, às 18h – Exceto: 02/03/2025.
130 minutos | 14 anos | Ingressos: R$ 70 (inteira) / R$ 35 (meia) / R$ 21 (credencial Sesc).
Vendas pelo site centralrelacionamento.sescsp.org.br
A partir de 4/2 às 17h e presencialmente nas bilheterias das unidades do Sesc SP a partir de 5/2, às 17h.
Teatro Raul Cortez – Sesc 14 Bis
Rua Dr. Plínio Barreto, 285 – Bela Vista
Email: [email protected]
Telefone: (11) 3016-7700
Festival Cena de Teatro entra em cartaz a partir de 8 de março
Maria Auxiliadora
O festival Cena de Teatro, realizado anualmente por meio da parceria entre a Fundação das Artes de São Caetano do Sul e o Sesc São Caetano, inaugura a temporada 2025 com apresentações gratuitas nos dias 8 de março (Teatro Paulo Machado de Carvalho), e 11, 13 e 14/3 (no Sesc São Caetano).
O Teatro Paulo Machado de Carvalho recebe o espetáculo Maria Auxiliadora, da Cia dOs Inventivos, no dia 8. Em 11, 13 e 14/3, as atividades acontecem no Sesc São Caetano, tendo o espetáculo A Solidão do Feio, com Sidney Santiago Kuanza, encerrando os trabalhos dia 14. As apresentações são gratuitas; a retirada de convites deve ser feita 1 hora antes do início de cada evento. Consulte a programação abaixo.
Sob o tema “Teatro e documento”, a edição 2025 propõe uma reflexão a respeito da relação entre o teatro e os eventos históricos e sociais. A proposta central é explorar as possibilidades que o palco tem para se tornar um meio de registro e reflexão sobre um grupo, uma época ou até mesmo sobre a vida de uma pessoa. Ao longo da série de apresentações, roda de conversa e bate-papo, a programação explora como o teatro pode capturar, interpretar e até modificar realidades, tornando-se um reflexo ou uma reinterpretação de uma cena histórica.
Além de difundir a linguagem teatral no município, o festival busca também ampliar a formação crítica dos alunos da Escola de Teatro da Fundação das Artes, incentivando-os a expandir horizontes e a aprofundar a compreensão dos múltiplos desdobramentos dessa modalidade artística. Ao estimular reflexões sobre os processos criativos, estéticos e sociais que envolvem a cena teatral, contribui não apenas para a qualificação profissional dos participantes, mas também para sua construção como cidadãos críticos e atuantes.
Programação:
Espetáculo
Maria Auxiliadora, com Cia. dOs Inventivos
São Paulo, final da década de 1930: Maria Auxiliadora, João, Vicente, Conceição e os outras/os irmã/os formam uma grande família de artistas negras/os que migram para a zona norte de São Paulo. Em meio aos desafios da cidade, a família Silva vai tecendo a sua história e exercendo o seu protagonismo junto a outras famílias que construíram a metrópole paulistana.
8 de março, sábado, das 19h às 21h
Teatro Municipal Paulo Machado de Carvalho
Não recomendado para menores de 12 anos
Roda de conversa
Nos bastidores de “Maria Auxiliadora”
A atividade pretende explorar a concepção artística do espetáculo, as motivações que orientaram sua construção, bem como os caminhos percorridos no desenvolvimento dramatúrgico e na construção das personagens. Com a participação de integrantes da Cia dOs Inventivos
11 de março, terça-feira, das 19h30 às 21h
Convivência – Sesc São Caetano
Não recomendado para menores de 12 anos
Roda de conversa
Bate-papo com Sidney Santiago Kuanza
Nesta conversa em primeira pessoa, o ator Sidney Santiago Kuanza vai expor o processo do espetáculo “A Solidão do Feio”, entrando em detalhes sobre a criação da peça e a construção de seu personagem, compartilhando experiências e reflexões.
13 de março, quinta-feira, das 19h às 21h
Convivência – Sesc São Caetano
Não recomendado para menores de 18 anos
Espetáculo
A Solidão do Feio
Com Sidney Santiago Kuanza
Um ator em um estúdio improvisado e uma equipe de filmagem fazem o exercício ficcional de recriar fragmentos da trajetória da vida e obra do escritor Lima Barreto. O monólogo integra a trilogia da Cia. Os Crespos, intitulada “Masculinidade & Negritude”, que leva o legado político, artístico e cultural de homens negros aos palcos.
14 de março, sexta-feira, das 20h às 21h30
Convivência – Sesc São Caetano
Não recomendado para menores de 16 anos
SERVIÇO
Teatro Municipal Paulo Machado de Carvalho
Avenida Dr. Augusto de Toledo, 255, bairro Santa Paula, São Caetano do Sul
Sesc São Caetano
Rua Piauí, 554, bairro Santa Paula, São Caetano do Sul