Montagem inédita, “Sal”, estreia no SESC Copacabana

Sal
Sal - Foto de Thais Grecchi

Há aproximadamente 30 anos, numa salina em processo de desativação nos fundos da casa da artista Adassa Martins, em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, ainda era possível brincar entre as quadras de água salgada, subir e descer pequenos montes de sal – e até levar um punhadinho para sua avó cozinhar. Contudo, as salinas já estavam em decadência na região, devido à mecanização dos modos de produção do sal e do mercado imobiliário a pleno vapor na localidade – o que veio se intensificando com o tempo, destituindo uma das práticas econômicas mais marcantes da história do Brasil. Partindo dessas vivências e memórias nasceu “Sal”, espetáculo inédito idealizado e dirigido por Adassa que estreia no dia 15 de agosto, às 20h30, no Mezanino do SESC Copacabana, marcando ainda sua estreia como dramaturga ao lado de Fernando Marques, também interlocutor artístico do projeto.

Tendo no elenco Miwa Yanagizawa, Laura Samy, Tati Villela e a própria Adassa Martins, o espetáculo narra o reencontro inesperado de um velho trabalhador do sal, em sua salina decadente, com seu filho que, ao chegar, também reencontra um grande amigo do passado. O pai é um dos únicos que ainda restam numa comunidade que vive da salina há gerações. Esse encontro traz à tona a antiga relação entre eles, apartada por 10 anos de distância, e a relação com aquele lugar, suas memórias, sua história, e toda a transformação que a região sofreu com o passar dos anos.

O desejo de falar sobre uma das práticas econômicas mais relevantes da história do Brasil, as mãos que fundaram e que sempre sustentaram o país, deu impulso a levar aos palcos as histórias que pouco são contadas e lembradas, as histórias por detrás da História. “A história do sal na Região dos Lagos é a disparadora desta ficção, e nosso desejo é trazer um trabalho que reflita sobre relações familiares, relações de gênero em espaços tidos como essencialmente masculinos, a estrutura de uma sociedade que enrijece relações de afeto entre homens e discrimina existências que fujam aos padrões da heteronormatividade, a ação exploratória e massacrante do capitalismo, que passa soterrando outros modos de viver e existir, as relações de trabalho e a luta de classes no Brasil”, resume a autora e diretora Adassa Martins.

Fundada em caráter multidisciplinar, com os artistas integrantes da equipe criativa presentes desde o início do processo de ensaios, o desejo da criadora sempre foi poder tocar nos temas que o espetáculo apresenta por diversos pontos de vista e ferramentas expressivas, em um processo colaborativo. Deste modo, toda a equipe se deixou atravessar por temas relacionados a patrimônio material e imaterial, apagamento sistemático de histórias e subjetividades, relações de trabalho, familiares e afetivas. O espetáculo é, sobretudo, interessado em desbravar caminhos artísticos e expressivos para contar uma história ficcional e, também através dela, falar sobre nós mesmos.

“É uma experiência inédita em vários aspectos pra mim, mas que conserva o que mais me interessa como artista: reunir pessoas diferentes para que se atravessem e respondam criativamente às provocações da nossa sociedade, de temas que afetam nosso estar no mundo. As atrizes são também autoras de uma escrita cênica que transita entre a ficção e um caráter investigativo do jogo teatral. Trabalhamos o trânsito entre estar num espaço e também estar no outro, o contar a história na perspectiva do personagem e também por perspectivas outras. E isso sustenta uma criação que não se assenta no aspecto histórico ou documental e, sim, se move a partir de inquietações sobre o passado para pensar o porvir”, elabora Adassa.

Uma das grandes inspirações para o projeto é a Casa da Flor, patrimônio de São Pedro d’Aldeia tombado pelo IPHAN, criada e construída por Gabriel Joaquim dos Santos e seus cadernos da década de 1960. Seu Gabriel, ex-salineiro, usou conhecimento empírico para construir uma casa feita de cacos. Seu sobrinho-neto, Valdevir Soares dos Santos, é o atual guardião da Casa, e faz uma visita guiada que carrega em si toda a riqueza de seu patrimônio imaterial. Seu Vivi, como é conhecido por todos na região, integra a equipe com uma participação especialíssima de voz em off.

“Os cadernos de seu Gabriel, também preservados pelo IPHAN e que chegaram até mim através do artista e pesquisador Bruno Peixoto, fizeram parte da pesquisa para o espetáculo. Um poema registrado em um dos cadernos foi musicado pelo Diretor Musical e criador da trilha sonora, Arthur Braganti, e está presente na peça”, antecipa Adassa. “Sal” apresenta o universo das salinas, sendo o sal uma substância presente na vida das pessoas, conhecido como “ouro branco” por séculos, uma matéria de grande importância na economia do Brasil, cujo universo talvez seja pouco conhecido.

“Este espetáculo é uma homenagem à vida das pessoas do sal, dos verdadeiros donos daquelas terras, do conhecimento para sua produção, da força produtiva e cultural que moveu toda essa engrenagem. A expectativa é que o trabalho chegue ao público na intensidade que chegou para nós, e siga se desdobrando para além da sala do teatro. Como um primeiro projeto próprio, falar sobre minhas origens, a terra onde fui criada, as lembranças das paisagens salineiras, a ‘gente do sal’ cabofriense, é motivo de muito orgulho. Este foi um projeto gestado durante muitos anos e construído com muita dedicação, pesquisa e trabalho”, encerra Adassa Martins.

FICHA TÉCNICA

Este espetáculo foi desenvolvido em processo colaborativo. Portanto, os artistas que integram a equipe criativa contribuíram abundantemente para sua concepção.

  • Dramaturgia | Adassa Martins e Fernando Marques
  • Atuação e Autoria Cênica | Adassa Martins, Laura Samy, Miwa Yanagizawa e Tati Villela
  • Direção e Idealização | Adassa Martins
  • Interlocução Artística | Fernando Marques
  • Trilha Sonora Original e Direção Musical | Arthur Braganti
  • Participação Voz em off | Valdevir Soares dos Santos
  • Iluminação | Lina Kaplan e Thaís Grechi
  • Fotografia e Filmagem | Thaís Grechi
  • Projeção de Vídeo | Lina Kaplan e Thaís Grechi
  • Cenário e Figurino | Carla Costa
  • Assistente Cenário e Figurino | Haru Lian
  • Cenotécnico |Marco Souza
  • Operação de Luz e Projeção | Lina Kaplan e Thaís Grechi
  • Operação de Som | Arthur Braganti e Érica Supernova
  • Programação Visual | Aristeu Araújo
  • Assessoria de Imprensa | Marrom Glacê Comunicação – Gisele Machado & Bruno Morais
  • Produção de Comunicação | Natália Brambila
  • Contabilidade | Raul Francisco
  • Assistente de Produção | Nuala Brandão
  • Direção de Produção | Aliny Ulbricht e Raissa Imani – Kawaida Cultural
  • Coordenação do Projeto | Adassa Martins

SERVIÇO:

SAL

Temporada: 15 de agosto a 08 de setembro de 2024
Horário: 5ª feira a domingo, às 20h30
Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira)

Local: Mezanino do SESC Copacabana
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – RJ
Informações: (21) 2547-0156
Bilheteria: Terça a sexta – de 9h às 20h; Sábados, domingos e feriados – das 14h às 20h

Classificação Indicativa: 12 anos
Duração: 90 minutos
Instagram: @espetaculosal

Inspirado em show antológico de Maria Bethânia, o espetáculo “A Cena (não) Muda” estreia, dia 14 de agosto, no Teatro Dulcina, no Centro

A Cena (Não) Muda
A Cena (Não) Muda – Foto de Junior Mandriola

Em 1974, Maria Bethânia fez um show antológico chamado “A Cena Muda”. Este espetáculo trazia na superfície temas sobre ser artista, mas implicitamente tratava de temas que rondavam o Brasil nos anos 1970, como a falta de liberdade de expressão, o vazio humano, a censura, a desvalorização da mulher, os exageros nos interrogatórios e prisões, e sobre estarmos mudos. Com músicas de Chico Buarque, Paulinho da Viola, Gonzaguinha, o show foi um marco na história da música e do teatro brasileiro. Inspirado por essa inquietude, o show teatral documental “A Cena (Não) Muda”, que estreia, dia 14 de agosto, no Teatro Dulcina, traça um paralelo entre aquele período opressivo e o que não mudou em 50 anos de Brasil. O projeto é patrocinado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Brookfield, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS.

Fatos históricos, as truculências e as violências em geral praticadas contra a população, desaparecimentos e outros crimes que se perpetuaram através do tempo são confrontados no palco através de narrativas reais e documentadas pela história. Se, em 1974, a artista no palco não podia falar e cantava a sua dor, hoje cantaremos e falaremos em cena as marcas do que ficou. Afinal, os crimes impunes do período militar inspiram e alimentam os que hoje são cometidos.

“Através do espetáculo, é possível ver que a impunidade dos crimes cometidos nos anos 1960/1970 normaliza e nutre a certeza da impunidade para certas parcelas do governo. Se não foram punidos antes, por que serão punidos agora? O espetáculo faz pensar sobre de onde viemos, onde estamos e para onde estamos caminhando”, descreve o autor Pedro Henrique Lopes. “Num cenário de extrema rispidez e intolerância, onde os extremos estão cada vez mais polarizados, a gente expõe em cena situações do ontem e de hoje que mostram a urgência de pararmos com o extermínio da população pobre e mudarmos as políticas públicas e de segurança que normalizam um corpo periférico caído no chão. Isso não pode ser normal!”, acrescenta o diretor Diego Morais.

Em cena, as atrizes Valéria Barcellos, Sara Chaves e H I A N E dão voz a histórias de 1974 como a de Ieda Santos Delgado, uma das únicas mulheres negras desaparecidas durante a ditadura militar, e a busca de Eunice, sua mãe, tentando incessantemente encontrar sua filha. Além de acontecimentos recentes, como as vidas de Luana Barbosa dos Reis Santos, Cláudia Silva Ferreira, Ágatha Félix e Kathlen Romeu, mostrando o que não mudou de ontem para hoje.

“Apesar de inserido num contexto de questionamento das heranças e de status político-sociais, o espetáculo é uma abordagem humana sobre os sentimentos de personagens que viveram ou vivem os impactos dessas escolhas, fatalidades ou coincidências do sistema. É um olhar sensível a mulheres, e sobretudo mães, que seguem firmes na busca por respostas, que são fortemente afetadas pelos fatos, mas não sucumbem. Nossas personagens são mulheres que se impõem como fortalezas quando expostas ao que é dolorido e cruel”, explica o diretor Diego Morais.

A Cena (Não) Muda revisita as músicas e os temas do show de Bethânia e a história de tantas mães que buscam por seus filhos e filhas, num emocionante retrato de gritos mudos, de silêncios estridentes e de cenas que se repetem e não mudam até os dias de hoje. Com o direito conquistado de falar, de questionar e de pensar, o elenco se desdobra para remontar e cantar essas dores e os temas que, em 50 anos, ainda se repetem. O repertório inspirado no show de 74, somado a músicas de artistas atuais, reportagens, documentos e textos trazidos ao palco, denuncia os reflexos dessa herança social.

“O espetáculo propõe pensarmos junto com cada espectador os caminhos que a nossa sociedade tem tomado em aspectos sociais, de cidadania, de direitos humanos, de forma de pensar, de minorias, de maiorias, de violência, de desigualdades e, sobretudo, de respeito ao próximo”, convida Pedro Henrique Lopes. Se há 50 anos atrás a cena era muda, em 2024 nós iremos FALAR!

Ficha técnica:

  • Texto: Pedro Henrique Lopes
  • Direção e Cenário: Diego Morais
  • Direção Musical: Guilherme Borges
  • Elenco: Valéria Barcellos, Sara Chaves e H I A N E
  • Figurinos: Carol Burgo
  • Design de Luz: Pedro Mendonça
  • Design de Som: Leonardo Carneiro
  • Programação Visual: Yucky Designs e Ideias
  • Produção e Realização: ENTRE Entretenimento

Serviço:

Espetáculo A Desmontagem da Escravidão realiza circulação em espaços populares do Rio de Janeiro

A Desmontagem da Escravidão
A Desmontagem da Escravidão – Foto de Patrick Lima

Criar uma dramaturgia focada no resgate do passado glorioso do continente ancestral, a resistência negra organizada em Quilombos, na África e nas Américas, demonstrando como o modelo de unidade dos Quilombos e estratégia militar, poderia ter frustrado a invasão europeia. Esse é o pano de fundo para o espetáculo “A Desmontagem da Escravidão”, que circulará por espaços populares do Rio de janeiro, no mês de julho e novembro. As apresentações serão nos dias 27 e 29 de agosto, no Instituto Benjamin Constant e Instituto Cultural Pena Máxima, na Glória. 

A ideia do projeto é trazer mais informações sobre a história da África e das suas diásporas, dado que muitos informes estão em língua estrangeira, uma estratégia de impedir o acesso que é barrado pelo idioma português. O Brasil é a maior diáspora negra e possui, inclusive, a segunda maior população negra do mundo, atrás apenas da Nigéria. Segundo o dramaturgo e ator, Paulo Mileno, os objetivos da peça são resgatar a potência da resistência quilombola, a magia da ancestralidade, transformar a história e empoderar a população da zona oeste e das favelas.

“É uma alegria integrar um espetáculo que bebe na fonte do teatro popular, do terreno híbrido com a mistura de linguagens artísticas sempre com foco no brincante. E pela importância de dialogar com o público adolescente buscando, através da ótica de personagens uma Rainha e um Rei negros, revisitar o período da Escravidão dos povos africanos honrando os passos dos nossos ancestrais e buscando uma atitude mais consciente e coerente dos fatos para possibilitar a edificação da autoestima e a  construção do presente e do futuro com dignidade, valorização e preservação da nossa memória” – Aisha Jambo.

Contemplado no Edital “Fazendo Arte RJ”, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, a circulação de “A Desmontagem da Escravidão” realizará 20 horas apresentações em escolas estaduais, unidades socioeducativas, ONGs e bibliotecas públicas.

“Para provocarmos a imaginação dos alunos, pediremos para que olhem para as imagens do retroprojetor no telão que revelam como a África é bem maior que a Europa. Com seus diversos Reinos e Impérios, poderia ter engolido a Europa se houvesse unidade. As fotos dos Castelos ainda de pé, dos Palacetes e das ruínas das Muralhas e Fortalezas Africanas, serão exibidas no telão durante esse momento de elucidação do conflito da dramaturgia”, explica Paulo Mileno.

Essa atividade será a revisão da ruptura histórica, onde revela uma forma de se ter evitado a colonização africana e consequentemente a escravização dos povos africanos e afrodescendentes, retomando os destinos através da magia efêmera do Teatro. Por ser uma peça encenada em escolas públicas, o público principal é de estudantes entre 15 e 17 anos.

Paulo Mileno reforça ainda que o espetáculo se direciona para as áreas culturais e territórios onde o público possa ser despertado por narrativas contra hegemônicas e assim se identifique num tema que remeta à sua representatividade e corporalidade, contribuindo com o movimento de busca pela construção identitária local e expressão territorial.

“Nesse acerto de contas com a história, devemos fazer um acerto de contas com a narrativa também. O que os europeus fizeram na África e Américas foram invasões e genocídio. Colonizar é povoar e transferir cultura”, finaliza.

SERVIÇOS:

Espetáculo A Desmontagem da Escravidão

Instituto Benjamin Constant – Av. Pasteur, 368 – Urca, Rio de Janeiro. Dia 27 de agosto, às 10h.

Instituto Cultural Pena Máxima – Casa da Glória, EndereçoLadeira da Glória, 98 – Glória, Rio de Janeiro – RJ, 22211-011.  Dia 29 de agosto, 19h.

FICHA TÉCNICA:

  • Idealização, produção executiva, dramaturgia, pesquisa e elenco: Paulo Mileno
  • Elenco: Aisha Jambo 
  • Copy Desk e Cenário: Sueli de Carvalho
  • Direção, Visagismo e Caracterização: Alex Palmeira
  • Figurino e acessórios: Abafu
  • Audiodescrição: Damu Shiva
  • Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa
  • Social Media: Pérola Morena
  • Design Gráfico: TAWeb Soluções Digitais – identidade visual
  • Iluminação, Fotografia, Filmagem e Edição: Patrick Lima
  • Produção: Nelson Neto
  • Co Produção: Jambo Produções Artísticas
  • Realização: Mpumelelo Kwami e Jambo Produções

Apoio:

  • Escola da Cultura RJ
  • Centro de Artes Calouste Gulbenkian 
  • Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros 
  • Abafu Cultura e Movimento

Patrocínio:

Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Ministério da Cultura, Governo Federal.

Cia OmondÉ comemora 15 anos com mostra de espetáculos no SESC Pompeia em agosto

Cia Cimondé
Cia Cimondé – Foto de Rodrigo Menezes

Criada em 2009, a Cia OmondÉ celebra seus 15 anos de existência por meio de uma série de atividades. O grupo ocupa o Sesc Pompeia com três espetáculos, incluindo o inédito Último Ensaio, um bate-papo e uma oficina. As atrações acontecem entre os dias 8 de agosto e 1º de setembro de 2024 (veja a programação completa abaixo).

O grupo abre as comemorações com a estreia de Último Ensaio, que ganha 12 apresentações entre 8 e 25 de agosto, de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 17h. É o quarto texto escrito por Inez Viana, que também assina a direção da obra, e o primeiro criado especialmente para a Cia OmondÉ.

Com forte traço metalinguístico, a dramaturgia aborda, sobretudo, a falta de comunicação entre as pessoas e o caos exacerbado vivido numa metrópole num futuro próximo. O pensamento mais nebuloso vem à tona, revelando o pior da condição humana, anestesiada por barbitúricos e a falta de perspectiva. “As pessoas perderam a capacidade de sentir empatia, o que deturpou os valores morais”, comenta Inez.

Nesse cenário distópico, um elenco de nove atrizes e atores está preso em uma espécie de bunker teatral, para onde os espectadores vão com a intenção de se divertir, já que o mundo está em ruínas e violento. Por isso, os intérpretes passam e repassam as várias cenas, revelando ao público como funciona o processo de um ensaio.

Em um determinado momento, uma atriz revela que viu, à caminho do ensaio, uma mãe ser baleada com seu bebê no colo. A artista salva a criança, mas comete um delito ao levá-la para esse lugar onde ensaiam. O conflito se estende pelo elenco, que não quer se responsabilizar por aquele ser.

“O teatro é o lugar do encontro, da elaboração de memórias, da reflexão. Epifanias são geradas através desse encontro presencial e único e, apesar do evento em si não se repetir, ciclos da nossa História tendem a se recontar, se reiterar e se espelhar. Temos como exemplo recente, o vilipêndio e desmantelo da nossa Cultura no desgoverno Bolsonaro, que flertou com o fascismo. Portanto, vimos a necessidade de valorizarmos as/os artistas e a própria arte em si, traçando um paralelo com o fazer teatral. Propomos também um jogo para a plateia, para que ela possa pensar em que sociedade prefere viver e se faz algo para modificá-la”, explica Inez Viana.

A luz é de Sarah Salgado, destaque na iluminação cênica paulistana, com vários prêmios e indicações, e a direção de movimento é de Denise Stutz, artista co-fundadora do Grupo Corpo, de Belo Horizonte/MG.

Dão vida aos personagens os artistas da OmondÉ Carolina Pismel, Debora Lamm, Iano Salomão, Júnior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes e Zé Wendell, e as atrizes convidadas Jade Maria Zimbra e Lux Négre. “A ideia é eles se alternarem nos papéis”, comenta a diretora.

Ao fruir ficção e realidade, Último Ensaio sobrepõe várias camadas, criando uma linguagem que permite que as relações se estabeleçam de forma horizontal, como se cada uma/ume/um fosse responsável por fazer existir aquela companhia teatral.

Ao mesmo tempo, o espetáculo está dividido em três movimentos: o ensaio, o desejo e o ensejo. Ou seja, a projeção do que importa fazer, como queremos realizar e o caminho que nos resta.

Outros espetáculos da Mostra

Nos dias 29 e 30 de agosto, quinta e sexta, às 20h, acontecem as sessões de Nem Mesmo Todo o Oceano, uma peça de 2013 inédita em São Paulo e inspirada no livro homônimo de Alcione Araújo.

Adaptado e dirigido por Inez Viana, o espetáculo narra a história de um rapaz do interior de Minas Gerais que vai para o Rio de Janeiro com o sonho de exercer a medicina. No entanto, ele se torna um médico legista do DOI-Codi.

Definido pelo grupo como um thriller contemporâneo, o relato aproxima o público da história do Brasil, retratando os instantes que antecederam o golpe militar e o surgimento da repressão do regime.

 Mata teu Pai é uma peça de 2017 escrita por Grace Passô. Na trama, a trajetória de Medeia é recontada de maneira a estimular uma reflexão sobre os nossos tempos. A protagonista icônica fala para suas vizinhas e cúmplices: a síria, a cubana, a paulista, a judia e a haitiana.

Dirigido por Inez Viana, o trabalho conta com a performance de Débora Lamm, que divide o palco com um coro de senhoras de mais de 65 anos. As apresentações acontecem nos dias 31 de agosto, sábado, às 20h, e 1º de setembro, domingo, às 17h.

Atividades paralelas

Para encerrar a comemoração, a Cia OmondÉ também realiza o bate-papo Como a arte contribui para resgatar a história de um país?, no dia 28 de agosto, às 19h. Para participar, basta retirar o ingresso gratuitamente.

A oficina gratuita De Encontro à Cena, destinada ao público com mais de 18 anos, acontece nos dias 13, 14, 20 e 21 de agosto, das 17h às 20h.

Cia OmondÉ

Criada em 2009, a partir de um encontro teatral que resultou na montagem de “As Conchambranças de Quaderna”, de Ariano Suassuna, a Cia OmondÉ é a concretização de um desejo que a atriz e diretora Inez Viana nutriu por mais de duas décadas. Naquela ocasião, movidos pela vontade de compartilhar processos e criar em colaboração, nove atores de diferentes lugares do Brasil e Inez, iniciaram uma pesquisa, dialogando com diferentes recursos do teatro e da dança contemporâneos, que se mantêm presentes nas obras atuais da companhia.

Com 15 anos, a OmondÉ tem em seu repertório nove peças, todas de autores brasileiros, clássicos e contemporâneos – como Ariano Suassuna, Nelson Rodrigues, Grace Passô, Jô Bilac, Alcione Araújo e Inez Viana – e segue na busca de uma linguagem cênica que dialoga com temas vigentes, contribuindo para a reflexão sobre nosso papel na sociedade.

SERVIÇO

Mostra da Cia OmondÉ
Data: 8 de agosto a 1º de setembro de 2024
Local: Sesc Pompeia – R. Clélia, 93 – Água Branca
Ingresso (valor de todos os espetáculos): R$60 (inteira), R$30 (meia-entrada) e R$18 (credencial plena)

ÚLTIMO ENSAIO
Data: 8 a 25 de agosto, de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 17h

Sinopse: Que perguntas nós fazemos para continuar seguindo nesse mundo em ruínas? Essa é a questão colocada, para que nove atrizes e atores revelem o processo de um ensaio teatral de uma peça, onde fazem palavras cruzadas e buscam dar algum sentido para suas vidas, enquanto não podem sair do local de apresentação, afinal, lá fora tudo está inconcebível. A ação se passa numa espécie de bunker teatral, onde o público aparece para respirar um pouco e se divertir, apesar do mundo fora dali estar caótico e violento.
Classificação: 14 anos
Duração: 80 minutos

Ficha técnica – Dramaturgia e direção: Inez Viana | Elenco Cia Omondé: Carolina Pismel, Debora Lamm, Iano Salomão, Junior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes E Zé Wendell | Elenco convidado: Lux Negre E Jade Maria Zimbra | Direção de produção: Bem Medeiros e Luis Antônio Fortes | Direção de Arte: Carla Costa | Direção De movimento: Denise Stutz | Iluminação: Sarah Salgado | Produção executiva: Matheus Ribeiro | Fotos e programação visual: Rodrigo Menezes | Assessoria de imprensa: Canal Aberto | Realização: Eu + Ela Produções Artísticas e Fortes Produções Artísticas

NEM MESMO TODO O OCEANO
Data: 29 e 30 de agosto, quinta e sexta, às 20h

Classificação: 16 anos
Duração: 80 minutos
Sinopse: Espetáculo inédito no Estado de São Paulo, essa adaptação de Inez Viana para o teatro,do romance homônimo de Alcione Araújo, narra a história de um rapaz do interior de Minas Gerais que, com o sonho de exercer a medicina no Rio de Janeiro, acaba se tornando um médico legista do DOI-Codi. Ambientado nos “Anos de Chumbo”, entre os instantes que antecederam o golpe militar e os primeiros momentos de repressão do regime, este relato nos aproxima da história do Brasil, sob o olhar de um personagem contraditório e complexo.

Ficha técnica – Autora: Alcione Araújo | Adaptação direção e idealização: Inez Viana | Elenco: Carolina Pismel, Iano Salomão, Junior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes e Zé Wendell | Iluminação: Renato Machado | Direção de arte: Flávio Souza | Direção musical: Marcelo Alonso Neves | Consultoria dramatúrgica: Pedro Kosovski | Assistentes de direção: Carolina Pismel, Debora Lamm e Juliane Bodini | Direção de produção: Bem Medeiros | Coprodução: Luis Antonio Fortes | Realização: Cia OmondÉ

*texto publicado pela editora Cobogó

MATA TEU PAI
Data: 31 de agosto e 1º de setembro, sábado, às 20h, e, domingo, às 17h
Classificação: 14 anos
Duração: 60 minutos
Sinopse: Grace Passô reconfigura, à luz do mito de Medeia, a trajetória desta mulher e somos convidades a visitar diferentes territórios, numa reflexão sobre nosso tempo e suas

fronteiras. “Preciso que me escutem!”, é o que diz Medeia em sua primeira fala na peça. E entre expatriados e imigrantes, em estado febril, ela fala. Suas vizinhas e cúmplices – a síria, a cubana, a paulista, a judia, a haitiana – a escutam.

Ficha técnica – Texto: Grace Passô | Direção e idealização: Inez Viana | Performance: Debora Lamm | Participação: Coro de senhoras + 65 | Iluminação: Ana Luzia de Simoni e Nadja Naira | Cenário: Mina Quental – Atelier da Gloria | Figurino: Sol Azulay | Direção de movimento: Marcia Rubin | Direção musical: Felipe Storino | Caracterização: Josef Chasilew-| Direção de produção: Bem Medeiros | Coprodução: Luis Antonio Fortes | Realização: Cia OmondÉ

*texto publicado pela editora Cobogó

BATE-PAPO: COMO A ARTE CONTRIBUI PARA RESGATAR A MEMÓRIA DE UM PAÍS?
Data: 28 de agosto, quarta-feira,às 19h
Valor: Grátis | Retirada de ingressos no local
Classificação: Livre

OFICINA: DE ENCONTRO À CENA
Data: 13, 14, 20 e 21 de agosto, terças e quartas, das 17h às 20h
Valor: Grátis – Inscrição Online
Classificação: 18 anos