Cora do Rio Vermelho

“Cora do Rio Vermelho” tem temporada prorrogada até 26 de junho no Teatro Poeirinha

por Waleria de Carvalho

Com vontade de montar seu primeiro monólogo, a atriz Raquel Penner começou a anotar frases, desejos e pensamentos soltos que, frequentemente, falavam sobre a força feminina e da alma da mulher brasileira. Ao reencontrar a obra de Cora Coralina, percebeu que a poesia e os contos da escritora e doceira goiana iam justamente de encontro à sua inquietação artística. Este foi o início do espetáculo “Cora do Rio Vermelho”, que tem lotado suas sessões no Teatro Poeirinha, em Botafogo, e agora teve sua temporada prorrogada até 26 de junho. Com dramaturgia de Leonardo Simões e direção de Isaac Bernat, o espetáculo é forte e delicado, assim como a escrita da poeta.

“Cora Coralina foi uma mulher múltipla e libertária. Removeu pedras e abriu caminhos para outras mulheres. Há 10 anos, tive meu primeiro encontro com ela, em uma exposição no CCBB RJ. Fiquei encantada por aquela senhora do interior do Brasil que falava firme e cantado, fazia doces e escrevia poesia, celebrava a vida e a simplicidade. Quando a reencontrei, a partir de um livro do Drummond, percebi que tudo o que eu queria dizer no palco estava ali”, lembra Raquel.

Pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, Cora Coralina (1889 – 1985) é considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras. Nascida na cidade de Goiás, ela viveu mais de quatro décadas em São Paulo. Apesar de escrever seus versos desde a adolescência, ganhava a vida como doceira, e seu primeiro livro só foi publicado em junho de 1965, quando tinha quase 76 anos de idade. Escreveu sobre os lugares onde viveu, as pessoas com as quais se relacionou e a natureza que observava.

“Quando Raquel me convidou para dirigir “Cora”, meu coração se encheu de alegria. Há anos, uma das célebres frases da poeta conduz o meu comportamento artístico e profissional: ‘Todo trabalho é digno de ser bem-feito.’ E esta mesma frase também orienta o que espero e procuro oferecer às pessoas. Como bem disse Carlos Drummond de Andrade: ‘Na estrada que é Cora Coralina passam o Brasil Velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis de hoje. O verso é simples, mas abrange a realidade vária’”, celebra o diretor Isaac Bernat.

A dramaturgia reúne passagens de sua vida e diversos poemas retirados dos livros “Vintém de cobre – meias confissões de Aninha”; “Meu Livro de Cordel”; “Villa Boa de Goyaz”; e “Poemas dos becos de Goiás e estórias mais”. “A partir de um recorte sensível de obras feito pela Raquel e com a toada poética de Cora, busquei nessa abordagem teatral uma geografia de sensibilidade e memórias, uma paisagem sonora que a atriz observa e traduz a partir do simbólico quarto de escrita, mesclada aos seus fazeres de doçura”, explica o autor Leonardo Simões.

Ao longo da encenação, aparecem algumas músicas populares, unindo vozes femininas de cantoras-atrizes do cenário teatral brasileiro: Aline Peixoto, Chiara Santoro, Clara Santhana, Cyda Moreno e Soraya Ravenle. Em “Cora do Rio Vermelho” (o título se refere ao rio que banha Goiás), a atriz se torna uma contadora de histórias atravessada pelo amor e pela entrega que Cora dedicou a sua tradição e a sua gente.

Serviço
Cora do Rio Vermelho
Temporada: 12 a 26 de junho
Teatro Poeirinha: Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro/RJ
Telefone: (21) 2537-8053
Dias e horários: quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h.
Ingressos: R$ 25 (inteira) e R$ 12,50 (meia-entrada). Ingresso único para Moradores do Dona Marta: R$ 10.
https://bileto.sympla.com.br/event/73298
Duração: 50 minutos
Classificação Etária: 12 anos.
Redes: Instagram: @coradoriovermelho
Youtube: https://m.youtube.com/channel/UCayoCIzVQl0-CIpQPVRYzrQ

INTEIRA – R$ 30,00/ MEIA – R$ 15,OO
LISTA AMIGA – R$ 20,00 – Solicitando em @laboratoriodedancaa

“Os Encantados do Sossego” estreia no CCBB Rio Foto de Vinicius Mochizuki

Encantados do Sossego

Encantados do Sossego – Foto de Vinicius Mochizuki

O hábito ancestral das famílias de se sentar para ouvir histórias fantásticas é resgatado no espetáculo Os Encantados do Sossego, estrelado pela atriz Fernanda Thurann e dirigido por Monique Sobral de Boutteville, que também assina a dramaturgia ao lado de Edyr Augusto. A montagem estreia no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro no dia 9 de junho, quinta-feira, às 19h30. A temporada vai até 10 de julho com sessões de quarta a sábado às 19h30 e domingo às 18h.
Segundo Monique de Boutteville, idealizadora do projeto, o espetáculo nasceu da pesquisa para o doutorado dela sobre a preservação de algumas práticas artísticas/culturais amazônicas. “A pesquisa foi iniciada com a atriz Fernanda Thurann em 2015, como um processo de coleta lúdica de dados. Rapidamente, percebemos a potência cênica das narrativas e dos dispositivos de contação que identifico como métodos próprios ao contador marajoara”, revela.

A trama explora lendas e mitos amazônicos ao acompanhar a história de Joana, uma mulher que vive na “Casa do Sossego”, na Ilha do Marajó, na foz do Rio Amazonas. Ela embarca em suas lembranças mais antigas para desvendar os mistérios que rondam a sua família. E se depara com eventos extraordinários – ora trágicos, ora fantásticos – que pairaram sobre aquele núcleo, depois que a família decidiu morar em terras Marajoaras.

A narrativa, de acordo com a diretora, é um emaranhado de memorias. “Ela tem uma forte base nas narrativas coletadas (os mitos do Boto e da Mulher Cheirosa), mas também cita e encarna outras histórias ancestrais, como A Cobra Grande do Sossego. A própria Joana foi construída a partir de referências da mitologia amazônica, como as figuras de Iara, Matinta e Damiana. Mas o texto também tem um caráter autobiográfico de experiências familiares vividas na região. Minhas memorias hoje se confundem com as de Joana, não consigo mais dissociar inteiramente o que é memoria inventada, vivida e coletada”, relata.

A construção da protagonista também evoca importantes temas do universo feminino, como a solidão, a perda e a maternidade. “Eu me identifico com a Joana em diversos aspectos. Talvez muito desse lugar de solidão me é bastante particular e essa ideia de crescer e se ver só no mundo. Essa rotatividade de pessoas e sentimentos que entram e saem de nossas vidas. Outro ponto de identificação é a força que ela tem de, mesmo nas adversidades, tirar algo bonito e valoroso”, conta a atriz Fernanda Thurann.

“Os ensaios para esse trabalho se tornaram um processo muito íntimo, muito delicado, além de tratar de histórias muito reais. Apesar de estarmos contando sobre lendas e mitos da Ilha de Marajó, são histórias que tratam de dores reais e tentamos, de forma lúdica, contar sobre as perdas da vida, que é comum a todos”, acrescenta a atriz. O espetáculo é um convite para conhecer um lugar mágico e exaltar a cultura brasileira. É uma história de amor, fraternidade e de respeito à natureza, aos ancestrais e às crenças de um território místico.

Serviço:
OS ENCANTADOS DO SOSSEGO
Temporada: 9 de junho a 10 de julho de 2022 – Quarta a sábado, às 19h30 e Domingo às 18h.
Classificação etária: Livre.
Duração: 60 minutos.

CCBB Rio – Teatro 3
Rua Primeiro de Março 66 – Centro
Capacidade: 50 lugares
Classificação indicativa: 10 anos
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), emitidos na bilheteria do CCBB ou pelo site eventim.com.br
Meia-entrada para estudantes e professores, crianças com até 12 anos, maiores de 60 anos, pessoas com deficiência e seus acompanhantes e casos previstos em Lei.

“A idade da peste” debate a questão do racismo

A Idade da Peste

A Idade da Peste – Foto de Cacá Bernardes

O que aconteceria se uma mulher branca de classe média alta realmente se descobrisse branca? A que custo isso se daria, e qual o discurso possível dessa constatação? Foi a partir dessa provocação que o dramaturgo Reni Adriano e a atriz Cácia Goulart conceberam o solo A idade da peste, que estreia dia 09 de junho, às 20h no Auditório do Sesc Pinheiros.

Em cena, Senhora C. assiste ao assassinato do filho da empregada, encurralado pela polícia, dentro da sua casa de classe média alta. O episódio desencadeia um profundo exame de consciência em que os desejos inconfessados da branquitude emergem como um marcador racial aterrorizante, questionando a própria possibilidade de justiça em um mundo feito à imagem e semelhança dos brancos.
Mas engana-se quem espera da atuação de Cácia Goulart uma personagem branca se autoelogiando como “antirracista” ou performando mea culpa e comiseração. “Senhora C. não tem esse complexo de Princesa Isabel; não pretende ser reconhecida como a ‘branca redentora’ da causa. Pelo contrário: ela é consciente da infâmia do lugar racial que ocupa, sabe que esse lugar é indefensável”, reflete Cácia, que também assina a direção da peça. Para ela, o risco da abordagem pelo viés escolhido seria a tentação de redimir a personagem, ou cobri-la de elogios por sua consciência racial. “Mas a desgraça dela é saber que não basta ter consciência: ela está, como branca, submersa na indignidade, uma vez que reconhece seu lugar na branquitude, mas é incapaz de desocupar esse lugar privilegiado”, conclui.

Para o dramaturgo Reni Adriano, esse assunto costuma ser violentamente rechaçado por pessoas brancas, porque instintivamente reconhecem que subjaz a esse tema-tabu uma dose dolorosa de vergonha e infâmia. “Mas o status da branquitude se perpetua e se atualiza justamente nesse silenciamento”, pondera. Além disso, o autor, que é negro, ironiza que escrever para uma atriz branca funcionaria como uma espécie de mascaramento para que brancos possam ouvi-lo de boa vontade. “O fato de sermos um país em que negros não têm um dia sequer de descanso só é possível ao preço de que os brancos tenham uma dignidade muito frágil. Eu quero questionar essa dignidade frouxa dos brancos. Debater racismo com negros é fácil; o que eu quero é racializar os brancos em cena e situá-los no lugar de suas responsabilidades”, crava.

Escrita por um dramaturgo negro, portanto, para atuação de uma atriz branca, a peça mobiliza e tensiona os marcadores identitários raciais de modo a evidenciar que, antes de ser um “problema de negros”, o racismo é um flagelo de brancos. O exercício de franqueza de uma mulher branca sobre a perversão de seu próprio status identitário torna A idade da peste uma assombrosa reflexão em que pensar o racismo é um debate sobre o mal.

SERVIÇO
A IDADE DA PESTE
Com CÁCIA GOULART
De 9 de Junho a 02 de Julho de 2022.
Quinta, sexta e sábado, às 20h.
Ingressos: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia-entrada) e R$ 9,00 (credencial plena)
Local: Auditório (3º andar)
Duração: 70 minutos.
Classificação: 16 anos.
*Informações sobre venda de ingressos no site www.sescsp.org.br
SESC PINHEIROS
Rua Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo, SP
Bilheteria: Terça a sábado das 10h às 19h. Domingos e feriados das 10h às 18h.
Tel.: 11 3095-9400.

“Cartas para alguém, tão longe tão presente” em cartaz no Teatro Armando Gonzaga

Cartas para alguém, tão longe tão presente

Cartas para alguém, tão longe tão presente – Foto: Danilo Sergio

“Cartas para alguém” fala sobre as relações humanas, de pessoas que a distância separou e de reencontros. De um amor tão grande que nenhuma distância é capaz de separar…

Carinho, amor , afeto, redenção, perdão… Qual é o caminho que buscamos para construir as nossas relações em busca de uma felicidade plena?

O espetáculo conta por meio de depoimentos reais a busca pela construção ou reconstrução de relações que por algum motivo se distanciaram provando que mesmo, às vezes tão longe, estamos tão presentes! O espetáculo é de classificação livre, tem 50 minutos de duração e abraça toda a família.

Serviço

Cartas para Alguém. Tão longe, tão presente! Dir Geral Daniel Cortez. Com Estevão Freitas, Daniel Cortez, Maria Eduarda Ribeiro e outros. Teatro Armando Gonzaga. Av. Gen. Osvaldo Cordeiro de Farias, 511, Marechal Hermes. Dias 11 e 12 de Junho. 19 horas. Int R$ 30,00.Meia R$15,00 Classificação Livre

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