O compositor Luiz Castelões já teve o privilégio de ver e ouvir suas peças executadas por importantes nomes da cena erudita internacional. Os exemplos incluem a pianista japonesa Aki Fujii, o também pianista norte-americano Donald Berman e o quarteto islandês Aulos Flute Ensemble. Duas obras do pianista e professor universitário já foram executadas por piano-robô. E, mais uma vez, o brasileiro foi premiado por ela. Pela criação de “3 Mitologias”, ele ficou em terceiro lugar no Amadeus Composition Award, na Áustria. O tema, gravado por uma pianola digital em Los Angeles, repete o feito de “Black Midi”, executada em 2022 e pela qual ele ficou também em 3º lugar no International Music Competition 2023 (MAP).
“3 Mitologias” é composta por três movimentos que remetem à mitologia grega e também à ciência. Enquanto os dois primeiros temas têm os títulos de “Narciso” e “Eco”, o terceiro tema ganhou o nome de “Gene”. As criações são dedicadas a três personalidades da vida cultural e do ativismo brasileiros: o cantor e compositor Lulu Santos, que completou 70 anos, o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) e o líder ambientalista Chico Mendes (1944-1988). “3 Mitologias” foi gravada em Los Angeles e está disponível no YouTube.
O compositor, pianista e professor de Composição Musical na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é, aos 46 anos, um representante da chamada Geração X. Ele transita há muito entre os mundos analógico e tecnológico. E isso resvala nas suas composições. Atento aos avanços tecnológicos, natural que, mais dia, menos dia, tivesse uma de suas peças executadas por um piano-robô. Mas o que vem a ser isso afinal?
A boa e velha pianola foi responsável por entreter o público juntamente com o cinema mudo. O instrumento era programado para executar sozinho (eureka!) partituras musicais lidas em rolos de papel perfurado. O mundo mudou, e a pianola também. Empresas como Steinway e Yamaha aperfeiçoaram o instrumento que, 40 anos depois, ganhou a alcunha de Disklavier, ou piano-robô. Foi ele que executou “Black Midi”, finalista no MAP, e que executa, agora, “3 Mitologias”.
“Quis possibilitar uma música que pode ser imaginada pela mente humana mas que não exatamente pode ser tocada fisicamente, em razão dos limites do próprio corpo humano”, explica o compositor destacando que a máquina não substitui o instrumentista: “O robô não é usado, neste caso, para substituir o pianista, mas para fazer o que o ser humano não consegue executar”.
O caminho entre a composição e o piano-robô passa por processos que vão do analógico ao tecnológico. A partitura é escrita a mão, com papel e lápis, é transcrita para o computador, gerando um arquivo digital, corrigido de ouvido e encaminhado, por fim, ao técnico de gravação, que filma o piano-robô executando a obra.
Os puristas ainda não precisam ficar de cabelos arrepiados. Castelões é taxativo num ponto: o piano-robô é apenas um executor e não um intérprete. “O robô toca literalmente o que está escrito na partitura. Ele não adiciona, retira ou altera nada do que escrevi. Num primeiro momento, notei falhas dele na performance, o que me fez pensar se não estaria já se tornando um pouco humano (risos)”.
Mais sobre o compositor:
Luiz Castelões nasceu no Rio de Janeiro e é radicado em Minas Gerais, onde é professor de Composição Musical da UFJF desde 2009. Como compositor, recebeu prêmios nas bienais de Música Brasileira Contemporânea (2001 e 2021), no Ibermúsicas (2015), na Escola de Música da UFRJ (Menção Honrosa, 2012) e no Festival Primeiro Plano (Melhor Som, 2003). Sua música tem sido gravada por grupos internacionais como o East Chamber Music (Canada, 2022), Roadrunner Trio (Holanda, 2020), o Ensemble Linea (França, 2019), o Aleph Gitarrenquartett (Espanha, 2019), o Ecce Ensemble (França, 2018), o Ensemble Mise-En (Coreia, 2018 e 2017), o Quartetto Maurice (Itália, 2016 e 2014) e o Mivos Quartet (Espanha, 2015).
“3 Mitologias” pode ser ouvida e acessada no link: