Noel Rosa

“Noel Rosa: Coisa Nossa” homenageia e conta a trajetória de um dos principais compositores de todos os tempos

Espetáculo produzido por Eduardo Barata e Marcelo Serrado estreia no dia 18 de agosto em Niterói, com dois atores-músicos no papel principal, Alfredo Del-Penho e Fábio Enriquez

por Redação

Nascido no início do século passado, em 1910, Noel Rosa não chegou a completar 27 anos e, mesmo com tão pouco tempo de vida, tornou-se um dos maiores compositores da música popular brasileira. Fez mais de 200 músicas e falou da boemia, dos marginalizados, do Rio de Janeiro e do Brasil em clássicos como “Gago Apaixonado”, “Com que Roupa” e “Fita Amarela”. A história de Noel, recheada de som, humor e poesia, também é pontuada pelas noitadas em bares e a luta contra a tuberculose. Noel morreu em 1937 e, para comemorar os mais de 110 anos do compositor, o Instituto Cultural Vale e Rede apresentam o musical “Noel Rosa: Coisa Nossa” estreia no dia 18 de agosto no Teatro Municipal de Niterói. O espetáculo tem direção de Cacá Mourthé e texto de Geraldo Carneiro, membro da Academia Brasileira de Letras e conhecedor de todos os meandros musicais e poéticos da obra do Poeta da Vila.

“O maior desafio do espetáculo é trazer para o texto o senso lúdico e o humor anárquico do Noel. Espero que isso esteja presente no espetáculo. Sua arte está viva e atual por causa dessa mistura dele de lirismo e humor sem precedentes na música brasileira”, afirma Geraldo. 

No palco, Alfredo Del-Penho, que também assina a direção musical do espetáculo, e Fábio Henriques dão vida ao compositor, acompanhados por um grupo musical de choro-samba, ao vivo. O espetáculo vai revelar ao público as cenas mais divertidas e emocionantes da vida de Noel Rosa, bem como alguns casos curiosos que deram origem à obra do artista. Além de resgatar sambas e choros do músico e de seus principais parceiros, por meio de um repertório cuidadosamente selecionado. 

“Nessa montagem, teremos dois atores protagonizando e mostrando que essa herança somos nós. Todos somos Noel. Meu desafio vai ser trazer a vida e a poesia de Noel Rosa para as novas gerações”, afirma Cacá Mourthé. 

Noel é tão amplo e diverso que é capaz de ser representado por dois atores tão diferentes fisicamente. Alfredo é moreno e alto, enquanto Fábio é louro e baixo, mas essa diferença não fica evidente com a unidade da interpretação dos dois. “A teatralidade construída entre eu e Alfredo está embasada em 10 anos de amizade, desde os tempos da Barca”, avalia Fábio. Os dois fizeram parte da premiada companhia A Barca dos Corações Partidos, conhecida por espetáculos como “Auê”, “Ópera do Malandro”, “Gonzagão, a Lenda”, “Suassuna, o Auto do Reino do Sol”, entre outros. “Na Barca, todos os atores têm que aprender a tocar um instrumento, seja sopro, percussão, harmonia ou canto. E essa característica está presente também em ‘Noel’, onde todos cantam e tocam”, afirma Alfredo. 

O diretor musical, que já é conhecido pela sua sólida carreira no choro e no samba — indicado ao Grammy Latino de 2022 pelo álbum ‘Desengaiola’ e vencedor do Prêmio da Música Brasileira pelo mesmo trabalho na categoria especial –, trouxe para o elenco Matheus Pessanha, amigo da roda de samba que faz sua estreia no teatro e que estará ao lado de talentos diversos como o já citado Fábio Enriquez, Julie Wein, cantora, musicista e doutora em neurociência, e Dani Câmara, cantora, percussionista e compositora.

“Eles formam uma trupe de atores-músicos que vai contando a história de Noel. Trabalhei então com a ideia de misturar uma movimentação de época com os dias atuais. Os movimentos não definem o período, mas a intenção dos personagens”, define o diretor de movimento do espetáculo, o coreógrafo Renato Vieira. 

Com patrocínio do Instituto Cultural Vale e Rede e realização do Ministério da Cultura e Governo Federal, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a montagem – produzida por Eduardo Barata, que atua no mercado há mais de 30 anos, e pelo ator, autor, diretor e produtor Marcelo Serrado – trará fatos curiosos da vida do compositor que ficou conhecido como o “Poeta da Vila”. 

Filho de Manuel Medeiros Rosa, que era gerente de camisaria, e da professora Marta de Azevedo, Noel teve em seu nascimento fratura e afundamento do maxilar provocados pelo fórceps, além de uma pequena paralisia na face direita que o deixou desfigurado para o resto da vida, apesar das cirurgias sofridas aos seis e aos 12 anos de idade. 

Alfabetizado pela mãe, foi matriculado no Colégio Maisonnete quando tinha 13 anos, depois foi para o São Bento, onde ficou até1928, recebendo dos colegas o apelido de Queixinho. Teve paixões por mulheres que se tornaram musas de alguns de seus sambas, como no caso de Ceci (Dani Câmara), dançarina de um cabaréda Lapa. Para ela, compôs “Dama do Cabaré” e “Último desejo”. 

“Para mim, a Ceci foi a verdadeira paixão de Noel. Também interpreto a mãe dele em determinados momentos. Estou apaixonada por esse trabalho, ele é dinâmico e a Cacá nos dá a liberdade de entender o texto e criar em cima dele. É um musical que mostra as questões da época como a obrigatoriedade do casamento. Conseguimos entender a mudança do tempo em que vivemos”, analisa Dani. 

Noel casou-se com Lindaura (Julie Wein) em dezembro de 1934, vivendo uma vida precária, dormindo em vagões de trem e passando as noites em bares. O casamento ocorreu por pressão da mãe da moça, pois Lindaura tinha apenas 13 anos, dez a menos do que ele. Grávida, ela perderia o filho meses após o casamento. 

“Essa instabilidade da carreira artística sempre esteve presente em minha casa. Meu pai é músico da orquestra de Curitiba e minha mãe, bailarina, por isso

decidi fazer Astronomia para ter uma renda garantida, queria ser astrofísica da NASA, os mistérios do universo sempre me despertaram curiosidade. Depois vi que para entender o universo deveria compreender a mente e mudei de curso, me formei em Biofísica. Hoje, faço pós-doutorado em Neurociência, estudando como a música é processada pelo cérebro. Acabei unindo minhas duas carreiras, a de música e a de neurocientista”, conta Julie. 

A união com Lindaura não modificou seus hábitos boêmios, que acabariam por comprometer irremediavelmente a sua saúde. No início de 1935, jácom os dois pulmões lesionados, viajou com a mulher para se tratar em Belo Horizonte. Porém, o tratamento durou poucos dias, pois o compositor logo começou a frequentar os bares e o meio artístico da cidade. 

Apresentando algumas melhoras, em setembro retornou ao Rio de Janeiro. Contudo, em fevereiro de 1936, viajou para Nova Friburgo (RJ) por ordens médicas. Mesmo assim, ele se apresentou no cinema local e seguiu frequentando os bares. Por sugestão de amigos e familiares, foi para Barra do Piraí em busca de repouso para tentar curar a tuberculose. Na manhãde 2 de maio, voltou ao Rio com Lindaura, em estado muito grave, do qual não conseguiu se recuperar. 

Noel morreu na noite de 4 de maio. Diversas versões sobre sua morte foram publicadas em diferentes jornais e biografias. Àbeira de seu túmulo, Ary Barroso fez um discurso emocionado, homenageando o amigo e parceiro. Seu nome ficou esquecido durante a década de 1940, até que Aracy de Almeida, em 1950, passou a cantar na famosa boate Vogue, incorporando ao seu repertório sambas inéditos de Noel. Desde então, o compositor foi redescoberto e passou a ser homenageado pelo público e pelas autoridades. 

Todo esse universo de Noel também estará no palco na visão de Ronald Teixeira, que assina a cenografia e o figurino. “O figurino vai trazer uma nostalgia do que era o tempo do Noel, da década de 20, mas coexistindo com uma contemporaneidade, trazendo para o nosso tempo essa lembrança do que era o compositor. Na cenografia, vamos ter um telão, onde serão projetadas lembranças imagéticas da vida de Noel, seus amores, lugares que ele frequentou, citações visuais de suas músicas”, adianta Ronald. Entre as imagens projetadas estão gravuras da artista plástica Thereza Miranda sobre o Rio de Janeiro e pérolas encontradas pelo cenógrafo, como as caricaturas que Noel fez

de si mesmo e uma de Antonio Nássara, amigo do músico, vivido na peça por Matheus Pessanha. “São desenhos feitos em aquarela e nanquim que traduzem muito o temperamento de Noel”, diz Ronald. 

Ficha técnica: 

  • Texto: Geraldo Carneiro 
  • Direção: Cacá Mourthé 
  • Idealização: Eduardo Barata e Marcelo Serrado 
  • Elenco: Alfredo Del-Penho, Fábio Enriquez, Julie Wein, Dani Câmara e Matheus Pessanha 
  • Diretor de Arte, Cenógrafo e Figurinista: Ronald Teixeira 
  • Direção de movimento e Coreografia: Renato Vieira 
  • Realização: Barata Produções e Rio MS 
  • Assessoria de imprensa: Barata comunicação e Dobbs Scarpa

Serviço: 

  • Teatro Municipal – Niterói 
  • Rua Quinze de Novembro, 35 – Centro 
  • 18, 19, 20, 25, 26 e 27 de agosto 
  • Sexta, às 20h. Sábado, às 17h e 20h. Domingo, às 17h 
  • Teatro Prudential – Rio 
  • Rua do Russel 804, Glória. 
  • 31 de agosto a 24 de setembro. 
  • Quinta a sábado, às 20h. Domingo, 17h. 
  • 12 anos 
  • Ingressos: R$90 (qui. e sex.) R$100 (sáb. e dom.) 
  • Obs: Dois sábados têm duas sessões extras para compensar os dias 21 e 22 de setembro que não tem espetáculo. 
  • Vitória – Teatro das UFES 
  • 29 e 30 de setembro e 1º de outubro

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