O homem que esqueceu a própria música - Davi Palmeira (esq) e Thiago Thomé

O espetáculo “O homem que esqueceu a própria música, uma autobiografia inventada” estreia, dia 6 de julho, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto

Com texto e direção de Jefferson Almeida, a peça-show idealizada pelo ator Davi Palmeira investiga a relação entre memória e ficção para curar angústias vindas da infância. Em cena, vemos o confronto entre pai e filho e entre a música e a palavra

por Jorge Rodrigues

Todo mundo traz para a vida adulta alguma memória dolorosa da infância, algo que costuma provocar uma angústia na alma. E se fosse possível criar narrativas ficcionais que ressignificam essas lembranças e mudassem nossa percepção do presente? Essa é a proposta da peça-show “O homem que esqueceu a própria música, uma autobiografia inventada”, que estreia, dia 6 de julho, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, no Humaitá. Com texto e direção de Jefferson Almeida, o espetáculo reúne o ator Davi Palmeira, idealizador do projeto, e o ator e músico Thiago Thomé em cena para investigar a relação entre memória e ficção e as possibilidades de modificar nossa autoimagem no presente. O espetáculo é fometado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através do FOCA 2022 (Edital de Fomento à Cultura Carioca).

Com direção musical e canções originais de Renato Frazão, o espetáculo é guiado pela música e inspirado em lembranças do ator Davi Palmeira e a (não)relação dele com o seu pai. Em cena, vemos um pai e seu filho, que vivem juntos, mas não conseguem criar uma ligação de cumplicidade. O pai se manifesta exclusivamente pela música. Não quis ser pai. O filho não se vê no pai. Não tem pai. Tem a palavra, a precisão cortante da palavra, que ele engole emudecendo a própria voz. Ele é uma voz à procura de um corpo com força para vencer o próprio silêncio e se reposicionar no mundo. A partir do abismo entre esses dois personagens, a obra reflete sobre um pai que é ausente, mas vive ao lado; sobre o masculino e o feminino; o ator e o performer.

Durante a temporada, a exposição “Diálogos bordados com o pequeno Davi” vai reunir fotos da infância de Davi Palmeira bordadas pelo próprio ator, como se transformassem o momento do clique e, consequentemente, o passado. “Inserimos elementos ficcionais em nossa biografia o tempo todo e, mesmo que sem sentir, o movimento interno é o de alterar a percepção do outro sobre a nossa realidade. E se, intencionalmente, nos propuséssemos a alterar a percepção que temos de nós mesmos? Recontar nosso passado se apresentaria, assim, como possibilidade de nos recolocarmos no presente; reconciliando a criança que fomos com o adulto que podemos ser”, explica Davi Palmeira, que pesquisa o espaço de jogo entre ator e plateia.

A música, que conduz a narrativa, é proposição do diretor Jefferson Almeida, que há mais de 10 anos pesquisa a cena-música. “As variações melódicas conseguem imprimir, no corpo humano, uma multiplicidade de sensações. Dialogando com elas, queremos mostrar que a realidade é um conceito tão complexo que, talvez, só consiga realmente existir como eco de criações ficcionais”, concluiu o diretor.

Exposição “Diálogos bordados com o pequeno Davi”

Com obras de Davi Palmeira e curadoria de Henrique Bueno, a exposição mostra a intervenção plástica de Davi nas fotografias de sua trajetória pessoal que impulsionaram o desenvolvimento do projeto. O artista borda palavras [conselhos, desejos, sonhos, perguntas] com linha vermelha em fotografias de sua infância, todas em preto e branco. O corpo do artista de 33 anos encontra sua criança para tentar recriar as narrativas limitadoras que pautaram sua trajetória. A tentativa, aqui, é movimentar-se para dentro e, ao revisitar o passado, reconstruir olhares sobre si mesmo. É, também, um convite para que seus interlocutores, utilizando suas intervenções como pontes, façam o mesmo e, ao atualizarem o olhar sobre si próprios, apaziguem a criança de ontem com o adulto de hoje.

Jefferson Almeida

Bacharel em Teoria do Teatro e Mestrando em Artes Cênicas pela UNIRIO, diretor e ator. Ocupa a direção artística da Definitiva Cia. de Teatro desde a sua fundação, em 2008, assinando a direção dos seguintes espetáculos: “Calabar, o elogio da traição” (2008), “Deus e o diabo na terra do sol” (2011), “A hora da estrela” (2017), “Calabar em concerto” (2018), “O som e a fúria – um estudo sobre o trágico” (2020) e “Exercício de atuação nº 1 – Princípio da incerteza” (2023). Suas direções mais recentes, fora do grupo são: “Furdunço do Fiofó do Judas” (2019 – Prêmio de Humor 2020), “No escuro ou O que faz uma mariposa sem uma lâmpada” (2019), e, o infantil “Monolena” (2022). Agora, se dedica a direção dos espetáculos “O homem que esqueceu a própria música” e “Exercício de atuação nº 2 – O susto”.

Davi Palmeira

Formado em Artes Cênicas pela UFRJ, Davi Palmeira é ator e diretor teatral carioca. Entre seus principais trabalhos em teatro estão: “(RE)Play” (2021), “Rinocerontes” (2014), vencedor na categoria Melhor Ator no segundo prêmio Yan Michalski – Revista Questão de Crítica e no 28º Festival Internacional de Teatro de Blumenau, “Sinfonia Sonho” (2012); “Três por Quatro” (2014); “um nome para romeu e julieta” (2016); “Minha Nossa” (2012); “O Tartufo” (2012); “Lisístrata” (2012); “Prometheús Desmotés” (2013); “Dom Quixote e Sancho Pança” (2019); “A Lição” (2005); “Melodrama” (2010); e “O homem da Flor na Boca” (2015). No cinema, integrou o elenco de apoio dos filmes “Reação em Cadeia”, dirigido por Márcio Garcia, ainda sem data de estreia, e “Aquilo que sobra” (2018), com direção de Humberto Giancristofaro; além dos curtas “Pequeno Objeto A” (2014), com direção de Daniel Abib e “Entre Carnavais” (2021), dirigido por Gabriel Pardella e Jota Trindade. Dirigiu os espetáculos “Novas Diretrizes em Tempos de Paz” (2013), de Bosco Brasil, “Congresso Internacional do Medo” (2014), de Grace Passô e “Isso é um Convite” (2016), de Dominique Arantes (indicado nas categorias Melhor espetáculo, Melhor direção e Melhor Conjunto de atores no 29º FITUB, em Blumenau). Dentro do projeto “Vermelho Amargo”, da Cia. Aberta, dirigiu o ator e diretor Vinícius Arneiro na leitura dramatizada do romance “Indez”, de Bartolomeu Campos de Queiroz.

Thiago Tomé

O carioca Thiago Thomé é ator, músico, compositor e escritor. Fez shows pelo Brasil inteiro com sua antiga banda Funk Samba Club, e já levou seu talento a países como África do Sul, Equador e Inglaterra, onde foi destaque na abertura da Copa de 2014 pela ITV. Como compositor, Thiago já foi gravado por Xande de Pilares, Zeca Pagodinho, Jamz, Ivete Sangalo, Belo, Thiaguinho, Bom Gosto entre outros. Na TV Globo, trabalhou nas novelas “Novo mundo”, “Outro lado do paraíso” e “A dona do pedaço” e das séries “Arcanjo Renegado” e “A Divisão”. Também está no elenco do longa “Os Enforcados”, da Globo filmes. No teatro, já fez 8 peças, entre elas “É samba na veia, é Candeia” vencedora do prêmio Shell de música e direção musical (Fabio Nin). Como escritor, destacou-se no seu primeiro livro: “E se desse para DENEGRIR”. Este ano, Thomé apresenta seu novo projeto, o álbum “Para Pretos, Pardos e Simpatizantes”, e planeja turnê pelo Brasil.

Sinopse:

O espetáculo propõe a criação de uma narrativa fictícia como pretexto para superar o vazio da relação entre um pai e um filho que, embora vivendo debaixo do mesmo teto, não possuem laços de afeto e não se reconhecem.

Ficha Técnica

  • Texto e direção: Jefferson Almeida
  • Diretor assistente: Daniel Chagas
  • Elenco: Davi Palmeira e Thiago Thomé
  • Stand in: Diogo Mirandela
  • Direção musical e Composições originais: Renato Frazão
  • Designer de som: Lucas Campello
  • Direção de arte: Taísa Magalhães
  • Iluminação: Livs
  • Direção de Movimento: Sueli Guerra
  • Preparação corporal: Vanessa Moreira
  • Preparação Vocal: Verônica Machado
  • Artistas colaboradores: Angélica Scariot, Arttur Malha, Bruno Kemper, Darilton Almeida, Gabriela Rosa, Igor Gonçalves, Matthielle Navarro, Nathalia Thomassen, Pam Salsa, Rafael Portari
  • Operação de som: Raphael Janeiro
  • Operação de luz: Livs
  • Tradutores de LIBRAS: Thamires Ferreira e Leila Ramos
  • Projeto gráfico: Davi Palmeira
  • Fotos de divulgação e filmagem do espetáculo: Paula Diniz (Coité Produção Audiovisual)
  • Fotos de cena: Aloysio Araripe
  • Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)
  • Assistente de Produção: Pv Israel e Henrique Trés
  • Direção de Produção: Dani Carvalho (Desejo Produções)
  • Realização: Davi Palmeira Produções

Serviço

O homem que esqueceu a própria música, uma autobiografia inventada

Exposição “Diálogos bordados com o pequeno Davi

De 06 a 30 de julho
Dias e horários:  de quarta a segunda, das 16h às 21h, na galeria do teatro
Ingressos: gratuitos

Você pode gostar

Deixe um comentário

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Presumiremos que você concorda com isso, mas você pode cancelar se desejar. Aceito Leia mais

Share via